Além de ser mais rápido do que em países desenvolvidos, o processo de envelhecimento da população no Brasil traz ainda outro diferencial. Enquanto outras nações enriqueceram em paralelo ao envelhecer, o País tem hoje profundos problemas a sanar antes de poder se voltar às políticas públicas para o bem-estar social de quem envelhece agora e irá compor a população sênior nos próximos anos. É o que aponta Wilson Amorim, professor da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP).
"A gente precisaria alcançar um estado de bem-estar que proporcione garantias não só para os mais novos, que seguem nascendo, indo pras escolas, e precisando de políticas públicas, mas agora também para um público que é a população mais velha", aponta.
Os idosos irão conviver cada vez mais com questões transversais a todas as idades e problemas específicos da terceira idade que ficam mais evidentes com o aumento desse segmento da população. É o que acredita o Carlos André Uehara, médico geriatra e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). "Falta de saneamento ambiental e violência urbana, por exemplo, se juntam às demandas próprias de idosos e sobrecarregam o sistema de saúde, por exemplo. Na saúde, é comum se achar que deve ser só ambulatório e hospital, que isso basta. Mas é preciso, no caso da população idosa, melhorar o atendimento domiciliar, talvez com um teleatendimento, residências conjuntas, até pensar em leitos para convalescentes. É preciso pensar em novos serviços para os idosos", diz.
Para Martin Henkel, diretor e fundador da SeniorLab, o poder público brasileiro não vem dando a atenção necessária ao ritmo da longevidade. Ele critica que, diante da preocupação com a reforma da Previdência, foram esquecidos planos e ações de futuro para promoção da qualidade de vida e acesso às especialidades médicas que serão cada vez mais necessitadas na saúde pública. "Vamos viver em um país com idosos com renda, consumindo e com muita atividade. E também com idosos desassistidos em situação de extrema vulnerabilidade, abandonados pelas famílias ou sem condição de serem cuidados por elas e pelo poder público. É um desafio gigante. Possivelmente, é o maior que iremos viver", acredita.
Com as desigualdades regionais, muitas cidades das regiões Sudeste e Sul já vivem o que, na média, o País passará a vivenciar daqui a doze anos. Contudo, Henrique Noya, diretor do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon, assinala que, mesmo nesse locais onde o futuro já chegou, as demandas do público idoso não estão sanadas.
"Não temos nenhum lugar com uma agenda bem clara e bem definida para vivenciar a longevidade. Há aquelas em que você enxerga a preocupação com esse segmento da população quando se tem, por exemplo, acessos claros nas ruas, com rampas, com parques onde existem equipamentos para manter essas pessoas com atividade física, com inclusão para ginásticas nesses espaços público", exemplifica.
No ranqueamento proposto pelo Instituto para identificar as condições de oferta ao idosos de participação, segurança, saúde e educação, em 150 cidades com mais de 100 mil habitantes, Fortaleza aparece em 98ª colocação. A Capital tem suas melhores notas em variáveis como "Cuidados com a Saúde", na posição 59ª, e "Bem-estar", na 72ª. De acordo com o relatório, "Fortaleza pode oferecer mais Condomínios residenciais e instituições de longa permanência para idosos. A violência e a taxa de desemprego também são pontos a serem trabalhados para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos mais longevos", diz. (Domitila Andrade)