"Eu já sou um idoso do futuro". É como se define Aélio Monteiro, geógrafo e professor aposentado, mas, muito mais que isso. Aos 86 anos de idade, ele agora cursa o segundo semestre de Psicologia e é um estudante dedicado. Aposentado há 23 anos, Aélio continuou com o ofício até os 79 anos, quando foi demitido. "Depois que me aposentei, com a renda extra, pude diminuir a quantidade de aulas, e fui ser educador. Por mim mesmo, eu não tinha parado", relembra.
Ele conta que curtiu por um ano a parada forçada, viajou, foi para Europa com a esposa, dona Carmen, 60, mas aí veio a depressão. "Eu tive toda a assistência médica possível, tomava os medicamentos, mas não resolvia. Só fui voltar a ser feliz quando coloquei os pés na sala de aula novamente, desta vez como aluno", destaca.
Aélio desafia o que era o curso natural da vida, até bem pouco tempo atrás. "Antes se nascia, crescia, estudava, trabalhava, se aposentava e morria. Hoje, a gente expandiu isso. Quem chega aos 60, tem expectativa de viver ainda mais 24 anos. Com saúde, são mais 24 anos de vida útil. Dá pra aprender uma língua nova, fazer um ofício novo, formar uma nova família, dá pra dar a volta ao mundo", diz o geriatra Carlos André Uehara.
"Enquanto não resolverem a injustiça social, vai haver idosos chegando à terceira idade com muitos problemas, mas acredito que a tendência dos próximos anos é de idosos entrando nessa fase mais ativos, com mais saúde. Acredito também que a tecnologia vai descobrir profissões que os idosos possam fazer tranquilamente", vislumbra Aélio.
Já tendo ultrapassado até mesmo as expectativas de vida pós-60 anos, voltando da faculdade de ônibus, e se dedicando às leituras do curso, Aélio quer terminar o curso com 90 anos e começar a atender. E credita sua vitalidade à temperança — "tudo de menos é remédio, tudo demais é veneno". "Chamo atenção agora. Mas, daqui a 12 anos, meu perfil vai ser muito comum de encontrar: um idoso que continua aprendendo", projeta.