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Transferências e prisões tentam cessar ataques
Reportagem

Transferências e prisões tentam cessar ataques

Foram pelo menos 85 ataques, com 80 prisões e 507 transferências de detentos. A resposta do poder público desta vez foi mais rápida
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OFICINA DE ESTOFADOS foi incendiada por criminosos no bairro Quintino Cunha (Foto: Mauri Melo)
Foto: Mauri Melo OFICINA DE ESTOFADOS foi incendiada por criminosos no bairro Quintino Cunha

Desde a última sexta-feira até a noite de ontem, o Ceará contabilizava 85 ataques criminosos. Segundo o Governo, uma reação ao endurecimento das ações nas unidades prisionais. Conforme os "salves" dos criminosos, protestos contra tortura e fim de "regalias" dentro do sistema carcerário estadual. Diferente do início do ano, a resposta do poder público a esta onda de atentados foi mais rápida. 80 pessoas foram presas e 507 detentos transferidos.

O deslocamento de presidiários dentro do sistema visa isolar os diferentes tipos de chefes do grupo criminoso que encabeça a série de ataques. Internamente foram remanejados 495 pessoas, enquanto outros 12 seguiriam para vagas em presídios federais. Cem detentos foram realocados do Interior para unidades da Região Metropolitana de Fortaleza. De acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), as unidades prisionais do Estado são todas iguais. A previsão é de que um espaço de segurança máxima seja inaugurado até o final do ano.

O titular da pasta, Mauro Albuquerque, garante que a situação dentro do sistema penitenciário é de normalidade, inclusive com intensificação das ações de qualificação, educação e trabalho. "Estamos com 2.600 presos em salas de aulas em todas as nossas unidades. Os cursos de capacitação estão em andamento na normalidade. Apenas no Encceja, temos mais de 4 mil presos em aulões preparatórios para as provas de outubro", afirmou.

A nova onda de ataque começou na noite de sexta-feira, dia 18, em Quixeramobim, a 203 km de Fortaleza. Houve o furto de um caminhão, que depois foi alvo de dois homens que atearam fogo no veículo. Até ontem, os ataques continuavam acontecendo. Em diferentes municípios (Fortaleza, Maracanaú, Jati, Canindé, Quixadá, Pacatuba, Maranguape, Choró, Caucaia, Várzea Alegre, Russas, Aratuba, Iguatu). E a diferentes veículos e equipamentos: caminhões, carros da Enel Distribuição Ceará, Cagece, empresa de telefonia, ônibus escolares e ônibus coletivos. Um Juizado Especial, uma viatura policial e a Base Descentralizada do Serviço de Atendimento Móvel (Samu) também foram atacados.

As ações, que consistiram em pessoas atirando coqueteis molotov (uma garrafa cheia de combustível com um pavio no gargalo) fizeram duas vítimas mais graves. Por volta das 2h30min da terça-feira, 24, em um ataque a caminhão no Cais do Porto, um homem que dormia no veículo ficou ferido. O motorista sofreu queimaduras no tórax, no braço esquerdo, pescoço e mãos. No mesmo dia, uma mulher, passageira do coletivo da linha 686 - Conjunto São Bernardo teve os pés queimados quando tentava fugir do veículo. Entre as ações com mais volume, estão os 16 veículos de luxo queimados em uma revendedora do bairro Papicu.

Os impactos no cotidiano de Fortaleza começaram a ser sentidos com a redução do número de ônibus em circulação ainda na segunda-feira, 23. Apenas 70% da frota em circulação, coletivos escoltados, espera nas paradas de ônibus. Em áudio vazado, o titular da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), Mauro Albuquerque, atribuiu a uma facção, conhecida como Guardiões do Estado (GDE), a autoria dos ataques e pediu que os diretores de unidades prisionais fizessem uma "geral" nas celas de membros do grupo criminoso. As autoridades, tanto o governador Camilo Santana (PT) como o secretário da Segurança Pública, André Costa, reafirmavam que as reações às medidas de endurecimento nos presídios continuariam.

As prisões começaram já no domingo e até ontem já somavam 80 pessoas, sendo pelo menos 21 apreensões de adolescentes. Conforme o secretário André Costa, o trabalho de inteligência identificou os pontos que deveriam receber ações policiais.

Outra constatação feita pelo Estado é a de que as ordens para dar início ao novo ciclo de ações criminosas partiu de familiares e advogados dos presos. "Antes, (o contato) era (via) aparelho celular, isso aí hoje no Ceará eu afirmo que diminuiu muito. Hoje, não tem celular dentro de presídio, se tiver é exceção. Agora, tem as visitas e os advogados, aí é trabalho de inteligência saber por onde estão saindo essas ordens", afirmou o promotor de Justiça Rinaldo Janja, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco).

Ainda na terça-feira, 24, o advogado Alaor Patrício Júnior foi preso em flagrante após tentar passar bilhetes de presos para criminosos em liberdade. Os papéis continham orientações de detentos da Casa de Privação Provisória de Liberdade Agente Elias Alves da Silva (CPPL IV) sobre tráfico de drogas, aquisição de armas, retaliações a devedores do tráfico e fuga de presos.


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