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Sem história e sem memória
Reportagem

Sem história e sem memória

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O centenário imaginário de Virgílio Távora é uma daquelas datas que ajudam a fortalecer a marca cultural que temos nós, os brasileiros, como um povo sem memória. Não conseguimos identificar e valorizar os personagens que nos trouxeram ao que somos hoje, com nossas virtudes e defeitos, e muito por isso, também, seguimos com grande dificuldade para projetar o que queremos ser de verdade na perspectiva de futuro.

O nome Virgílio Távora aparecerá vinculado a algumas das grandes conquistas históricas do Ceará, em qualquer pesquisa básica que se faça. Sua importância está refletida nos cargos importantes que ocupou — governador duas vezes, senador outras duas, dois mandatos de deputado federal, ministro no governo parlamentarista de Tancredo Neves —, mas vai muito além disso. É simbólico, por exemplo, que sua atuação direta tenha sido determinante para que a energia de Paulo Afonso chegasse ao Estado, começando a resolver problemas estruturais que tínhamos no setor até aqueles dias e que nos mantinham no atraso e no subdesenvolvimento pleno.

Um militar que viveu seu auge de poder no governo de militares, Virgílio fez-se maior do que isso, também. Gerou incômodos para os colegas de farda, por exemplo, ao criar a Secretaria de Cultura estadual e ali abrigar, e proteger, um grupo bom de esquerdistas (inquietos, mas competentes), nem aí para as queixas frequentes de Brasília. Enfim, pelo conjunto expressivo de elementos políticos que o personagem concentra, bons e ruins de acordo com o que cada um acredita, a data simbólica que marca os 100 anos de seu nascimento merecia que o Ceará estivesse discutindo-o com muito maior profundidade e entusiasmo. Uma pena que tenhamos optado por não fazê-lo.

 

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