Cientista político e pesquisador da Universidade Federal do Ceará (UFC), Josênio Parente afirma que Virgílio Távora foi um político de muitas facetas. "Era coronel, mas não era um coronel tradicional. Era um desenvolvimentista", afirma.
À frente do Governo do Estado, empenhou-se na criação de um polo de moda no Ceará, do qual "chegou a servir até como garoto-propaganda" no eixo Rio/São Paulo. Corria a década de 1960, e Virgílio cumpria o primeiro mandato como chefe do Executivo estadual.
"VT foi uma pessoa muito dinâmica, de muitos projetos. Como político, conhecia a nossa realidade", continua Parente. "Ele sabia das divisões do Estado e tentava fazer com que dialogassem."
Socióloga e professora da UFC, Rejane Vasconcelos classifica a gestão "tavorista" como "um governo que demarca uma mudança significativa na política cearense".
Segundo ela, "embora não tivesse essa divulgação ou num slogan, foi o que ele fez. Mesmo que mantivesse vínculos com políticos do Interior, nem pretendesse alterações radicais, levou adiante uma proposta de alteração do perfil econômico".
Essencialmente calcada na agricultura, a economia cearense tinha dificuldade para se modernizar. VT fez o Estado saltar, primeiro com a chegada da energia da Hidrelétrica de Paulo Afonso e depois com políticas de qualificação da máquina pública.
"Ele de fato desenvolveu projetos vigorosos no Estado, como o da energia, que antes não tinha e do qual agora a indústria se beneficiava", analisa Rejane. "Não era um projeto estadual. A ideia era que ficasse apenas na região do Cariri, mas Virgílio conseguiu que chegasse até Fortaleza."
De acordo com a pesquisadora, o então governador era também "muito hábil politicamente, no sentido de organizar apoios" e costurar grandes alianças, traço que lhe permitia transitar entre grupos distintos e muitas vezes antagônicos.
"Era uma pessoa confiável. Então tinha esses dois lados: a economia e a política. Foi pioneiro na manutenção na política de acordos regionais", acrescenta. "Além da industrialização, VT começa uma modernização da administração pública. Se o Tasso aparece depois com essa mensagem, a mudança já tinha se iniciado com o Virgílio."
Biógrafo e pesquisador da trajetória de Virgílio Távora, Cesar Barreto Lima menciona outros marcos da vida do parlamentar e gestor, âmbitos nos quais o cearense ocupou papéis importantes. "Como deputado federal, por exemplo, ele esteve por trás da criação da Petrobras", relata.
Além disso, adiciona Barreto, VT lançou o projeto dos distritos industriais de Sobral, Fortaleza e Maracanaú, demarcando a bandeira do desenvolvimentismo no Estado. "Ele fincou as bases para a siderúrgica, o porto, água para Fortaleza, com a construção dos grandes açudes", conta. "Mas sua grande obra foi a energia para o nosso povo."
Para Josênio Parente, apesar do êxito como gestor, Virgílio Távora não fez prosperar uma linhagem política. Mesmo influente, VT não teve herdeiros. "Há alguns fatores para isso", explica. "Aqui no Ceará é muito difícil fazer essa linhagem. Os grandes líderes são assim. O Tasso (Jereissati, ex-governador e senador), por exemplo, não tem um sucessor."
O especialista fala que essa é uma característica cearense que está diretamente associada a sua inserção no semiárido, "onde é difícil manter uma elite econômica". Na região, expõe o professor, as oscilações entre aqueles que detêm o mando político são frequentes e os governantes estão sempre sujeitos a solavancos, ontem e hoje.