O assassinato da vereadora que se tornou um símbolo nacional da luta pelos Direitos Humanos ainda não desvendado. Polícia Civil e a Polícia Federal continuam as investigações para descobrir o mandante do crime.
É nesse cenário incerto que a deputada estadual do PSOL e ex-assessora da vereadora, Mônica Francisco, fala sobre seu convívio com Marielle, além de expor suas opiniões sobre o assassinato e o andamento da investigação. A entrevista com a militante dos direitos humanos foi realizada pelo podcast do O POVO, Arquivo Aberto. Confira trechos. (Maria Clara Chagas)
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Arquivo Aberto - Quem é Mônica Francisco?
Mônica Francisco - Mônica Francisco é uma mulher negra, oriunda de uma das mais antigas favelas do Rio de Janeiro, que hoje está deputada estadual.
AB - Sobre o assassinato de Marielle, investiga-se a participação de alguns políticos cariocas como supostos mandantes pelo crime. O deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ) diversas vezes já argumentou que na sua visão há um "grupo político" por trás do crime. E esse grupo político, segundo ele, tem relações com diversas casas legislativas, inclusive a ALERJ. Baseado nisso, como foi a sua recepção na Câmara do Rio?
MF - Não há dúvidas de que há um interesse político por trás disso. A grande dificuldade é entender porque e quem mandou matar Marielle. Sobre a minha presença na Câmara de Vereadores, não posso afirmar que, na observação que fiz, de que havia algum tipo de tensionamento por parte de grupo político específico que pudesse demonstrar um desejo ou talvez uma nuance de resistência à figura de Marielle Franco. Muito pelo contrário, Marielle era quase que uma unanimidade, que se relacionava com todos os parlamentares. Ela teve uma passagem muito boa naquela casa. A gente não pode afirmar de maneira nenhuma que havia algum tipo de interesse em fazer sumir a figura de Marielle, seja em qualquer sentido.
AB - Gostaria que você avaliasse os trabalhos desenvolvidos pela Polícia Civil, Ministério Público do Rio e Polícia Federal.
MF - Eu não tenho estado muito próxima das investigações. O que a gente acompanha tem sido o que a imprensa tem veiculado. A gente presta muita atenção em tudo de novo que sai, como a prisão dos acusados de terem matado a Marielle. Esse discurso de que foi uma execução movida por um sentimento de ódio, por conta do preconceito exacerbado com a orientação sexual da Marielle ou pela profissão política dela, para mim, não se sustenta. Claro que há um ódio político, uma rejeição, que nos causa ainda mais espécie, porque nós não conseguimos entender o porquê de Marielle. Ela não era alguém que fazia um enfrentamento a um grupo A ou B político, que disputava territórios. Isso é muito mais difícil para o nosso entendimento.
AB - Na sua concepção, existe um mandante por trás da dupla acusada ou Ronnie Lessa e Elcio Queiroz agiram por conta própria, motivados por ódio?
MF - Acho que com certeza há um mandante ou uma mandante. Com certeza há muita gente influente e poderosa envolvida nessa execução. Não é à toa que a própria polícia e o Ministério Público já veicularam amplamente na mídia nacional e internacional de que há setores na polícia que atrapalharam a investigação.
AB - Recentemente a sua companheira de partido, a deputada federal Talíria Peltrone, recebeu ameaças de morte. A Polícia Federal já chegou a obter informações sobre um plano para executá-la, isso há pouco mais de um ano após a morte de Marielle. Diante desses tristes fatos, quais os cuidados com a segurança você e outros parlamentares do Psol têm tomado? Isso de alguma forma limita a sua atuação política?
MF - Todo mundo quer manter a sua vida, que é o maior bem que nós temos. Ouvir, como você sugere, as notícias sobre Talíria e o plano para executá-la, cria situações difíceis em um momento tão recente da execução de Marielle. É uma situação muito difícil que nos leva a tentar mudar um pouco a nossa forma de circular pela cidade, de estar em determinados lugares, criar alguns protocolos. É muito difícil, principalmente para nós, mulheres que viemos do povo e que temos uma relação muito íntima com a nossa população. Mas é uma necessidade e é o sinal desses tempos.