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Tragédia. Desabamento do Edifício Andréa abala Fortaleza
Reportagem

Tragédia. Desabamento do Edifício Andréa abala Fortaleza

Desabamento de prédio deixou um morto e oito desaparecidos. Nove pessoas foram resgatadas com vida. Bombeiros procuram sobreviventes
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ESCOMBROS do prédio de sete andares que desabou em outubro do ano passado (Foto: Mauri Melo)
Foto: Mauri Melo ESCOMBROS do prédio de sete andares que desabou em outubro do ano passado

Localizados na área nobre de Fortaleza, os sete andares do Edifício Andréa, no bairro Dionísio Torres, em Fortaleza, vieram abaixo na manhã de ontem, 15, matando uma pessoa e deixando ao menos oito desaparecidas.

Às 10h30min, os 13 apartamentos da edificação haviam se transformado em ruína. Até a noite dessa terça-feira, nove moradores haviam sido resgatados com vida, segundo informações das equipes envolvidas nas buscas de sobreviventes.

Comandante da força-tarefa de resgate das vítimas, o coronel dos Bombeiros Eduardo Holanda afirmou que o corpo de Frederick Santana dos Santos, 30 anos, foi retirado dos escombros por volta das 23h30min.

"Ele não estava no prédio, estava trabalhando no mercadinho ao lado", disse o militar. "Foi um efeito colateral do desabamento, que acabou atingindo o mercadinho. Foi a primeira vítima confirmada."

Mais cedo, porém, socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) haviam informado, logo após o incidente, que pelo menos uma pessoa tinha falecido. O relato foi corrigido horas depois pelo próprio governador do Estado, Camilo Santana, que visitou o endereço da edificação, na rua Tibúrcio Cavalcante, nº 2405.

Em coletiva no início da noite, Camilo disse que o "levantamento do número de pessoas possíveis que poderiam estar no edifício" chegava a nove retirados com vida e nove ainda soterrados.

De acordo com o coronel Holanda, os integrantes da força-tarefa de busca identificaram ainda ontem pontos de acesso que podem levar a mais vítimas. "Nossos cães fizeram uma segunda varredura, e temos cinco pontos com possibilidade de ter pessoas ali", explicou. "São cinco pontos que os cães indicaram. Pode ser que, num deles, a gente tenha acesso a até três vítimas", já que, conforme Holanda, há relato de que um dos apartamentos continha mais de um ocupante na hora do desabamento.

As ações durante a noite eram feitas principalmente com auxílio de cachorros treinados. Parte deles atuou na tragédia de Brumadinho, em Minas Gerais, assinalou Holanda. A orientação do governador é que os trabalhos se estendam por toda a madrugada e sigam ao longo do dia de hoje.

"A determinação é 24 horas trabalhando para salvar as vidas das pessoas que estão nos escombros. A Prefeitura colocou toda a equipe de psicólogos e assistência social para dar apoio", declarou Camilo. "As famílias que não têm para onde ir, terão local para passar uns dias e apoio."

Questionado sobre a causa do acidente, o chefe do Executivo respondeu que "todo um trabalho rigoroso por parte dos órgãos responsáveis vai ser feito para identificar as causas e os responsáveis por essa tragédia".

Ao lado do governador, o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, acrescentou que estabelecer a razão do desabamento do prédio "é muito precoce ainda" e que "ninguém sabe bem se a responsabilidade é privada".

Para o gestor, "qualquer julgamento de valor, à vista da ausência de informações precisas, vira cenário especulativo". RC concluiu: "A única coisa que nós temos neste momento é que havia, há alguns dias, uma reforma sendo feita nos pilares. A gente não tem mais nenhuma informação e qualquer juízo que se faça neste momento não é responsável nem é prioritário".

A Prefeitura assegurou que o prédio foi construído de maneira irregular e que não há registro oficial sobre a edificação.

O POVO apurou que a mudança do IPTU do Condomínio Andréa, que passou de casa para edifício, só aconteceu em 2013, quando o prédio já havia sido erguido havia pelo menos duas décadas.

Procurado, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará (Crea-CE) esclareceu que, no órgão, havia apenas uma Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) de uma ordem para serviço de recuperação de construções e da pintura do prédio, datada da última segunda-feira, 14.

Presidente da entidade, Emanuel Maia Mota disse que é possível que o responsável pelas obras no Andréa não tenha solicitado ao Poder Público o alvará para realizar a reforma, que seria no valor de R$ 22 mil.

Um dia antes do desabamento, moradores do edifício chegaram a registrar em vídeo avarias nas pilastras que davam sustentação à construção, como falta de reboco e ferrugens nas colunas. (colaboraram Lucas Braga, Lucas Barbosa e Júlia Braga)

angústia e impotência

A advogada Rosa Monteiro Bruno, de 37 anos, confundiu o desabamento com uma ventania, inicialmente. "Eu estava no escritório, senti meu prédio balançar e vi uma rede no vizinho voar alto, depois subiu a nuvem de poeira", recorda. Ela mora no 10.º andar de um edifício ao lado, com apenas duas casas de separação. E contou ter visto um homem descarregando um caminhão de água mineral bem onde os escombros caíram. "É um misto de angústia e impotência. Foram 20 minutos sem poder fazer nada. Percebemos que até mesmo os bombeiros estavam surpresos."

O aviso

Em áudio no Whatsapp, David informou aos amigos que estava soterrado, mas que estava sem lesões graves, apenas arranhões.

Uma selfie para mostrar que sobreviveu

Passando tranquilidade aos que o amam, David Sampaio, estudante de Arquitetura, enviou uma selfie embaixo dos escombros do edifício Andréa para os amigos, mostrando que estava bem e à espera do resgate. Minutos antes do desabamento ele havia demonstrado preocupação com a situação das colunas do prédio. Chegou a comentar com os amigos, em grupo de WhatsApp, que a estrutura foi quebrada e que deixaram apenas as ferragens expostas. A situação chamou atenção dos colegas, que o orientaram a denunciar a síndica. Mas, naquele momento, o tempo do conserto, que há muito tinha passado, transformou-se no desabamento do edifício. Felizmente, David foi resgatado e se encontra bem, tendo quebrado apenas a mão.

Espera de 5 horas por socorro dos bombeiros

Um homem, que estava em um supermercado em frente ao edifício Andréa, de sete andares, que desabou na rua Tibúrcio Cavalcante, foi atingido por uma fruteira do estabelecimento durante o acidente.

Gilson Moreira Gomes, de 57 anos, ficou com o objeto preso nas pernas por quase cinco horas até ser resgatado por oficiais do Corpo de Bombeiros e encaminhado para Instituto Doutor José Frota (IJF).

Josélia Gomes, irmã de Gilson, informou que ele não sofreu ferimentos graves. Ele chegou à unidade hospitalar consciente. Antes de ser atendido, teria ligado para os filhos para informar do ocorrido.

Gilson seria cliente de João André Uchôa Gomes, 40 anos. O comerciante conta que estava no mercado no momento que o prédio vizinho desabou. "Eu vi como se o prédio estivesse se quebrando ao meio, quando eu vi eu me assustei e já subi para o segundo andar". Ele relata que conseguiu fugir por uma janela lateral.

As primeiras informações

Cibele Nogueira estava no trabalho, na cidade de Horizonte, quando soube do desabamento do prédio. Sua mãe, de 72 anos, e o pai, de 77 anos, moravam na cobertura do prédio desde que ele foi construído. "Achei que tinha perdido toda a minha família", diz a nutricionista. Os parentes saíram 15 minutos antes do prédio cair para ir ao banco. Além de seus pais, a irmã, o cunhado e a sobrinha eram residentes do edifício. "Às vezes a gente até brincava que o prédio estava prestes a cair. A estrutura era muito velha", comenta Cibele.

A geladeira amorteceu o impacto dos escombros

Leandro Carvalho, filho da diarista Cleide Maria da Cruz Carvalho, chegou ao local 20 minutos após o desabamento do edifício Andréa. Morador do bairro Vila Peri, ele afirmou que a mãe trabalha há mais de 20 anos para a moradora identificada por ele como "Dona Penha". Ao chegar no local, Cleide já havia sido resgatada.

"Minha mãe trabalha há mais de 20 anos nesse prédio e todos esses anos sempre teve problema de estrutura", afirmou.

No momento do acidente, Cleide estava com Dona Penha. A diarista foi salva com vida, mas com uma fratura no pé. Uma geladeira segurou os escombros, o que Leandro considera como o motivo dela ter sido salva. A diarista conseguiu amarrar um pano na perna, que sangrava muito, e se arrastar até os bombeiros.

"Era anunciado aquilo ali cair, porque faz muitos anos... O primeiro piso afundou, e as colunas estavam todas abertas. A nova administração mandou reformar... Eles estavam maquiando, vou falar a verdade. Um prédio daquele, antigo, deveria ter vistoria dos órgãos responsáveis: Estado e Prefeitura", afirmou.

Os primeiros minutos

Relógios marcavam 10h28min quando os sete andares do Edifício Andréa, no bairro Dionísio Torres, desmoronaram. Os escombros atingiram ainda um caminhão de entrega de água e um mercadinho. Os sinais do tamanho da tragédia começavam a aparecer minutos depois, quando, ainda a caminho do local, equipe do O POVO Online encontrou viaturas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e da Polícia Militar (PMCE) seguindo em direção ao bairro Dionísio Torres.

Por volta de 10h45min, as ruas Tomás Acioli e Tibúrcio Cavalcante já estavam com bloqueios de tráfego e moradores da região eram retirados por agentes da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Naquele instante, menos de 20 minutos após o desabamento, cerca de 10 viaturas já estavam no local, com policiais e bombeiros.

Ao fundo, o cenário era desolador. Grandes paredes de concreto formavam um amontoado em meio à poeira que se espalhava pelas ruas da região. Vizinhos e familiares dos moradores do edifício choravam e eram consolados por outras pessoas que chegavam no local em busca de informações. A cada resgate, os socorristas eram aplaudidos por quem acompanhava o trabalho.

Sobre os escombros, bombeiros já tentavam ouvir pedidos de socorro e encontrar feridos. Paralelamente, nas ruas, crescia ao longo do dia o sentimento de solidariedade. Moradores ofereciam água a socorristas, que descansavam por alguns instantes na área do isolamento. Motociclistas e seguranças da região ajudavam os profissionais de saúde a carregar macas.

Prédios em construção tiveram as obras suspensas, comércios e lojas do entorno - sem energia elétrica - suspenderam atividades para atender pedido dos bombeiros, que precisam de silêncio para ouvir pedidos de ajuda.

Desde as 10h28min desta terça-feira, 15, o cenário da tragédia mudou diversas vezes. Para quem acompanhou desde os primeiros instantes, a confusão inicial deu lugar a um esquema de eficaz resgate das vítimas. Contudo, algo permaneceu ao longo do dia: a mistura de choque e incredulidade daqueles que viam o prédio em ruínas.

Prédio desabou por volta das 10h30min
Prédio desabou por volta das 10h30min

Comitê de Crise dentro do Samu acompanhará socorro a vítimas do desabamento

Atualizada às 13h04min

A Prefeitura de Fortaleza emitiu nota anunciando que foi instalado um comitê de crise no Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) para acompanhar o atendimento às vítimas do desabamento do Edifício Andréa, no bairro Dionísio Torres.

O grupo é formado por médicos reguladores e intervencionistas, que atuarão na logística de assistência aos feridos. Até o fim da manhã desta terça-feira, a informação era de que pelo menos uma pessoa havia morrido e cinco teriam sido resgatadas com vida.

O trabalho do comitê de crise será dentro do Samu e funcionará em conjunto com Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Autarquia Municipal de Trânsito (AMC) e Polícia Civil.

As vítimas serão avaliadas conforme a criticidade e transferidas para as unidades da rede hospitalar, conforme o perfil de cada caso.

O Instituto Doutor José Frota (IJF-Centro) acionou um protocolo de ocorrências com múltiplas vítimas - comum para o caso de tragédias. Até o momento, duas vítimas estão sendo submetidas a atendimento emergencial, mas o hospital ainda não liberou informações de qual o tipo de procedimento foi adotado.

No protocolo, também ficou definido que as salas de cirurgia sejam reservadas para o atendimento. E mais equipes de atendimento foram postas em sobreaviso, segundo as informações da administração municipal.

Além dos feridos resgatados, o Corpo de Bombeiros confirma que há mais de uma pessoa se comunicando com as equipes de resgate no local.

A Assessoria de Imprensa da Prefeitura informa que o prefeito Roberto Cláudio estaria se dirigindo ao local para acompanhar pessoalmente os trabalhos de assistência e resgate.

- A Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza informa que já foi instalado um comitê de crise no Samu Fortaleza com médicos reguladores e intervencionistas, que farão toda logística de atendimento no local junto com o Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Autarquia Municipal de Trânsito, Polícia Civil. As vítimas são avaliadas conforme a criticidade e transferidas para as unidades da rede hospitalar conforme o perfil de cada caso.

- IJF acionou protocolo de ocorrências com múltiplas vítimas. Salas de cirurgia reservadas. Equipes de sobreaviso

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