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Manguezais: o útero da vida marinha sem proteção contra o petróleo cru
Reportagem

Manguezais: o útero da vida marinha sem proteção contra o petróleo cru

Alguns animais vivem, outros só nascem nos manguezais. Entre eles estão: caranguejos, camarões, moluscos, peixes, gaivotas, garças, urubus, flamingos, gaviões e jacarés
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Presença de óleo em praias de Icapuí  (Foto: Aurelio Alves/O POVO). (Foto: AURELIO ALVES)
Foto: AURELIO ALVES Presença de óleo em praias de Icapuí (Foto: Aurelio Alves/O POVO).

Prestes a completar dois meses desde a primeira aparição do petróleo cru no Nordeste, em 30 de agosto, preocupa a possibilidade de o óleo chegar aos manguezais — conhecidos como úteros da vida marinha. Nesses espaços são reproduzidos 70% das espécies marinhas. Alguns vivem nesses locais, outros nascem e vão embora depois de um tempo. Entre os animais desse ecossistema da zona costeira estão: caranguejos, camarões, moluscos, peixes, gaivotas, garças, urubus, flamingos, gaviões e jacarés. 

No Ceará, já apareceram vestígios do piche no mangue da Sabiaguaba, em Fortaleza, e no banco de algas de Barreiras, em Icapuí. No primeiro, há possibilidade factível de ter contaminado dois importantes ecossistema: o do Rio Pacoti e o do Rio Cocó. No segundo, aves migratórias e o peixe-boi, ameaçado de extinção, se alimentam. Em Barreiras, mais da metade da população sobrevive da pesca no local. São 19 mil habitantes no local.

Pra que serve o Manguezal?

Desdobramentos em caso de contaminação do mangue seriam ainda a diminuição da pesca, colapso econômico e redução da qualidade de vida das populações que se relacionam com a biodiversidade do bioma. É o que alerta o professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jeovah Meireles. Para ele, também se deve ver que a pouca quantidade de petróleo encontrado no litoral cearense pode ser um prenúncio do porvir.

A maior preocupação refere-se a chegada do óleo aos manguezais de menor porte, tendo em vista a dificuldade de enfrentar as manchas do óleo. Alguns dos menores do Ceará são: Aracati Mirim, Aracatiaçu, Curu e Remédios. “As manchas já estão nas praias e devido às dinâmicas das marés possibilitam a entrada no manguezal”, complementa o professor.

O enfrentamento após a chegada nesses espaços, tantos os maiores quanto os menores, é a dificuldade de remover o material. A textura, a cor e inclusive as pequenas manchas são praticamente indetectável quando a maré sobe. “A água leva as manchas para onde estão as matas ciliares. Quando a maré baixa, elas ficam sobre a lama do mangue tornando-se difícil sua identificação.” Com isso, alteram as propriedades biológicas, físicas e químicas do ecossistema, prejudicando água, sedimentos, vegetação e animais.

Para Jeovah existe a necessidade de se elaborar um plano de monitoramento nos estuários - área de transição entre um rio e o mar - ao longo da costa cearense. Inclusive, para detectar as manchas de óleo antes do toque na costa. A mesma carência é apontada pela socioambientalista Soraya Tupinambá, do Instituto Terramar. Ela aponta a omissão do Governo Federal na adoção tardia de medidas a partir do mapeamentos de sensibilização ambiental ao óleo da Zona Costeira e Marinha.

O material citado por ela trata-se de ferramenta essencial para o planejamento de contingência em casos de poluição por óleo, como a situação pela qual estamos passando agora. A carta localiza essas áreas para barrar primeiro no mar e evitar chegar na praia, onde a contingência deveria ocorrer em último caso. “Se nós estamos tendo destruição de espécies centenárias, como as tartarugas, e ainda dos ambientes que garantem a reprodução das espécies marinhas, não tem como recuperar”, lamenta Tupinambá.

No Ceará, alguns dos maiores rios que desembocam no mar são: Jaguaribe, Cocó e Pacoti, na região leste Estado. Na outra ponta da costa estão os manguezais do rio Ceará, Acaraú, Coreaú, Mundaú e Timônea, na divisa com o Piauí, esses correndo pelo o oeste. Caso atinja esses espaços, deve ocorrer impacto ambiental relacionado a biodiversidade, perda da atividade primária, que alimenta fauna dos peixes marinhos.

Importância dos manguezais:

Berçário da vida marinha, responsável por reprodução de 70% das espécies no mar;

Proteção de erosão nas praias;

Proteção de fenômenos naturais, como tsunami, maremotos;

Capacidade de eliminar poluição;

Filtro natural para que a água não chegue ao mar.

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