Comitê de campanha do então candidato Jair Bolsonaro em Fortaleza, o palco armado na avenida Antônio Sales com a rua Carlos Vasconcelos estava apinhado no dia 28 de outubro de 2018. Era domingo, noite da vitória.
Ali estavam Heitor Freire (PSL) e Capitão Wagner (Pros), eleitos deputados federais. Em discurso à multidão, saudaram o novo tempo, expresso pelos votos nas urnas.
Por lá também passaram André Fernandes (PSL), deputado estadual mais votado, e Delegado Cavalcante (PSL), que voltava à Assembleia Legislativa, agora na esteira da onda bolsonarista.
Ex-prefeito de Fortaleza, Gaudêncio Lucena (MDB) fez uma discreta aparição - suficiente para sugerir que o emedebismo já tentava pular na canoa do novo inquilino do Palácio do Planalto.
Um ano depois, os representantes do bolsonarismo não dividem o mesmo palco. Sequer a mesma sala, como é o caso dos pesselistas Freire, Fernandes e Cavalcante, os dois últimos rompidos com o deputado federal e presidente da legenda de Bolsonaro no Estado.
Em solo cearense, o bolsonarismo, antes fator de ajuntamento, transformou-se em motivo de disputa. Na última semana, o presidente da legenda em Fortaleza, Lucas Fiuza, entregou o cargo. Um substituto ainda não foi designado. Antes dele, o próprio Fernandes desempenhou a função, mas foi apeado por Freire.
Como reação, a dupla de parlamentares estaduais entrou com representação contra o correligionário. Tentam, há cerca de três meses, destituí-lo do posto. Aliado de Luciano Bivar, deputado federal e presidente nacional do partido, Freire resiste.
Apesar desses entreveros domésticos que marcam a trajetória da legenda desde a vitória de Bolsonaro nas urnas, o deputado é otimista quanto ao futuro do governo e do legado do presidente no Ceará. Segundo ele, "apesar do pouco tempo, as ações realizadas nos fazem perceber o quanto o Brasil já melhorou".
O pesselista cita como medida exitosa, então, "a redução da máquina pública (27 para 22 ministérios), ainda antes de se iniciar o mandato, promovendo estrutura menos inchada e onerosa para os cofres públicos".
No cenário dos negócios, Freire avalia que "as privatizações já encaminhadas dos Correios e Eletrobras, por exemplo, também vão ajudar", e que os "avanços nas relações exteriores são perceptíveis, principalmente o diálogo com os EUA, mas também tantos outros como Japão e China nos últimos dias".
Questionado sobre o futuro do PSL no Ceará, contudo, o deputado não respondeu. Alvo de desgaste, Freire é o principal suspeito de ter vazado conversa com Bolsonaro há duas semanas, durante crise entre o presidente e o seu partido.
Bolsonarista de primeira hora e um dos que foram às ruas comemorar a conquista do pesselista há um ano, Carmelo Neto destaca a aprovação da Previdência como principal trunfo político do Planalto.
Para ele, além da proposta que reestrutura as aposentadorias, "inúmeras medidas provisórias positivas para o País foram assinadas e devemos ter as reformas administrativa e tributária enviadas ao Congresso". Neto acrescenta: "O Brasil está se reerguendo. Esse é o momento de ajustar o terreno para voltar a crescer". (Henrique Araújo)
"Bolsonaro é um retrocesso na história do nosso País"
Deputado federal pelo PDT e ex-secretário da Educação do governo Camilo Santana (PT), Idilvan Alencar avalia que a eleição de Jair Bolsonaro um ano atrás "é um retrocesso na história do País".
Para o parlamentar, "perde o Brasil e perde o Nordeste, não apenas o Ceará". Desde que foi eleito, Bolsonaro tem mantido relação de beligerância com os gestores dos nove estados da região nordestina, que formaram uma coalização com agenda própria e encontros periódicos.
Esse consórcio de governadores foi a forma encontrada pelos chefes de Executivo para fazer frente à falta de receptividade de algumas pautas no Planalto - no Nordeste, Bolsonaro perdeu em todos os estados.
Ainda segundo Idilvan, a chegada de Bolsonaro ao poder também significou um golpe para "os direitos humanos e a educação pública". O pedetista acrescenta que "a história vai contar que isso foi um erro pelo qual já estamos pagando caro".
Sobre as razões que levaram à vitória de Bolsonaro nas urnas em 2018, o deputado avalia que o resultado se deve mais a "uma revolta contra o PT do que a uma vitória do então candidato".
"A vitória foi dos votos brancos, nulos e antipetistas. Foi aí onde surfou. Não foi uma conquista do Bolsonaro", conclui. "Mas tem que respeitar a vontade da maioria."
Também pedetista, Ciro Gomes ficou em terceiro lugar na corrida eleitoral, logo atrás de Fernando Haddad (PT), o segundo colocado, que obteve 47 milhões de votos ante os 57 milhões de Bolsonaro. (Henrique Araújo)