Eventual soltura do ex-presidente Lula, caso o Supremo reveja prisão em segunda instância, pode alterar drasticamente o quadro político de 2020, com efeitos diretos sobre disputa pela Prefeitura de Fortaleza.
Esse é o entendimento do cientista político Cleyton Monte, da Universidade Federal do Ceará (UFC). "A imagem pública do Bolsonaro está ligada ao anti-Lula. Essa polarização fica mais fácil com o Lula solto", afirma.
Para o presidente Jair Bolsonaro, projeta Monte, "é interessante que Lula esteja livre" e nas ruas, fazendo campanha. "Com Lula fora da prisão, vai poder confrontar e rivalizar em termos de narrativa política."
O analista considera, no entanto, que a polarização "sufoca uma terceira via", causando prejuízos a nomes como Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB) e Luciano Huck, caso decida entrar na disputa.
"A soltura do Lula marcaria um retorno das narrativas da eleição de 2018. Esse seria o efeito mais concreto e imediato. Livre, vai ter mais espaço, vai fazer campanha, vai viajar. Teria efeito inclusive sobre a disputa municipal", assegura Monte.
Para o deputado federal Heitor Freire (PSL), o efeito da soltura de Lula seria prejudicial. "Considero que, se ele for solto, a repercussão será extremamente negativa. O Brasil tem que deixar de ser um país onde a impunidade é soberana para alguns privilegiados", disse o parlamentar.
O pesselista avalia ainda que "a maioria dos ministros do Supremo vai considerar a legitimidade da prisão em segunda instância, tendo em vista o que é de acordo com a legislação sobre esse assunto específico na esfera penal".
Segundo Freire, a Corte não está imune às pressões da sociedade, que "foi às ruas pedindo por isso". O deputado conclui: "Temos que ouvir o clamor popular em torno dessa questão. Sigo apoiando a prisão em segunda instância".