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O efeito Lula no tabuleiro político
Reportagem

O efeito Lula no tabuleiro político

Soltura do ex-presidente Lula provoca rearranjo das forças políticas e altera drasticamente o cenário eleitoral, inclusive já a partir do ano que vem
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O ex-presidente brasileiro (2003-2011) Luiz Inácio Lula da Silva recebe apoiadores durante uma manifestação em frente ao edifício do sindicato dos metalúrgicos em São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo, Brasil, em 9 de novembro de 2019. - Ícone esquerdista brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva saiu da prisão sexta-feira depois de um ano e meio atrás das grades por corrupção, após uma decisão judicial que poderia libertar milhares de condenados. (Foto de Miguel Schincariol / AFP)
 (Foto: Miguel Schincariol / AFP)
Foto: Miguel Schincariol / AFP O ex-presidente brasileiro (2003-2011) Luiz Inácio Lula da Silva recebe apoiadores durante uma manifestação em frente ao edifício do sindicato dos metalúrgicos em São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo, Brasil, em 9 de novembro de 2019. - Ícone esquerdista brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva saiu da prisão sexta-feira depois de um ano e meio atrás das grades por corrupção, após uma decisão judicial que poderia libertar milhares de condenados. (Foto de Miguel Schincariol / AFP)

Livre há mais de 48 horas, depois de quase 600 dias preso, Lula embaralha o tabuleiro político, a começar por 2020, quando as primeiras eleições da era Bolsonaro devem colocar frente a frente os antípodas ideológicos. De um lado, as forças vitoriosas da corrida presidencial de 2018. De outro, o "lulismo", agora fortificado com a soltura do seu maior ator, cuja presença física permite reassumir o papel nesse jogo da polarização.

Personagens que ensaiavam passos mais ao centro terão dificuldades, casos do apresentador Luciano Huck, do governador de São Paulo João Doria (PSDB) e do ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT). Notadamente o pedetista, que se tornou crítico frequente não apenas do PT, mas do próprio Lula.

Essa é a avaliação dos analistas com quem O POVO conversou nas horas que se seguiram à saída do ex-presidente, na última sexta-feira, 8, um dia depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubar a autorização para a prisão em segunda instância.

Já fora da carceragem, em Curitiba, o petista deu a senha do que virá: uma mobilização de rua por todo o País para reorganizar o campo da centro-esquerda. Para Lula e Bolsonaro, já é 2022, o que pode contaminar as escolhas para as prefeituras já em 2020.

Embora reconheça ser ainda cedo para mensurar os efeitos da volta de Lula à cena, o cientista político Emanuel Freitas diz que "haverá utilização mais enfática e desinibida da imagem do petista pelo partido".

Professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Freitas projeta que a consequência imediata da nova conjuntura é o que ele chama de "petização" do PT, ou seja, um processo de fortalecimento interno da legenda. "O PT vai consolidar sua identidade com o episódio da liberdade do seu maior nome", afirma. "Isso gera movimento de outros partidos, sobretudo o PDT de Ciro."

Cientista política da Universidade Federal do Ceará (UFC), Monalisa Alencar concorda que o primeiro impacto da soltura de Lula será uma organização do "eixo de oposição que se articula aqui no Nordeste", além de "pensar candidaturas numa frente ampla de esquerda".

Para Monalisa, o "fator Lula será disputado" sobretudo nas eleições municipais, que devem funcionar como laboratório para teses e estratégias políticas que serão encampadas depois, na briga pelo Planalto.

Esse rearranjo da oposição tem um corolário direto, que é a organização do campo da direita, até então dividido por causa das múltiplas crises do governo federal. Para analistas, Bolsonaro tem finalmente um contraponto, inexistente durante os dez primeiros meses de gestão.

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O fator Lula, então, pode beneficiá-lo, ajudando-o a apaziguar as bases e pacificando a relação com legendas que lhe dão sustentação, além de municiá-lo na esfera discursiva, já que Bolsonaro pode se valer ainda mais da retórica antipetista.

Membro do Conselho de Leitores do O POVO e cientista político da UFC, Cleyton Monte assinala que Lula trabalhará para "criar uma unidade para se opor à agenda do Bolsonaro". Para ele, os planos do ex-presidente são claros. "Ele disse que quer viajar o Brasil, percorrer o País para reunir as forças e, num primeiro momento, construir a base de prefeitos e vereadores para as eleições do ano que vem", explica.

Na prática, Lula estará mais exposto, o que obrigará a um engajamento maior também do presidente da República em 2020, aponta Monte. "A participação do Lula em palanques e discursos vai ser muito crucial para fortalecer candidaturas do partido", conclui o pesquisador, principalmente nos grandes colégios eleitorais e cidades do Interior.

Advogado e integrante do Novo, Rodrigo Nóbrega indica outro efeito da libertação de Lula no xadrez nacional e local. "Esse reajuste no jogo vai frustrar bastante os planos dos Ferreira Gomes em Fortaleza, principalmente do Ciro", declara.

Potencial pré-candidato à Câmara em 2020, Nóbrega acredita que a eleição à Prefeitura de Fortaleza replicará a polarização nacional, sem possibilidade de espaço para um centro. "Talvez fique parecido com o que a gente viu ano passado. Muita gente votando no Bolsonaro, não pelas propostas, mas porque queria dar um voto anti-PT."

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