O rio Cocó é uma veia hidrológica que sangra de agressão. Em seu fluxo,o sangue representa cada impacto adverso, efluente lançado, resíduo descartado, intervenção indevida e ameaça aos seus ecossistemas.
Por causa de sua resiliência, o Cocó é um rio de luta. Se empodera da resistência de sobreviver e dar vida aos seus. Ao mesmo tempo é um rio que empodera segmentos da sociedade em prol de sua defesa.
Empoderamento que inspira movimentos socioambientais que buscam proteger a natureza, aparentemente silenciosa. O Cocó não tem voz audível por si só, ele usa interlocutores.
A sua autobiografia pode ser decifrada numa imersão na floresta. Diante do receio coletivo e histórico da destruição por interesses mercadológicos, há esperança por dias melhores.
O Cocó tem resiliência e arregimenta um povo resiliente. O Cocó tem uma "história de preciosidades" com diversos ecossistemas e unidades geoambientais. Riquezas puramente inegociáveis da biodiversidade e geodiversidade, além da sociodiversidade de seus povos tradicionais.
Essas paisagens inspiram. Nelas os artesãos buscam uma nova história, conclamam a acreditar num futuro com a educação ambiental incorporada às novas gerações. Com os povos tradicionais não se calando e suas vozes ecoando contra interesses escusos. Resistindo, heroicamente, pela crença na subsistência do rio, pelo rio e para o rio.
Além da fé, é preciso que o rio receba do Poder Público a atenção merecida, que seja referência na recuperação ambiental e replique esperanças. Talvez um dia o rio não seja visto como depósito de resíduos e as árvores tenham valores além dos serviços prestados.
Para isso, uma nova mentalidade deve prevalecer. Com manguezais e dunas sendo preciosidades, relevantes por serviços ecossistêmicos. Que o coração continue pulsando a esperança, que não morra. Que vá além de projetos de governo, que sejam projetos de vida de um povo engajado!