O cenário hoje parece bem positivo, se comparado aos outros anos. Não há dúvidas de que há público interessado em assistir às partidas e há também pessoas trabalhando para a melhoria da categoria. Mas há ainda muito pelo que lutar.
A montagem de um elenco de futebol feminino no Brasil teve de ser exigida aos 20 times da Série A pelo Licenciamento de Clubes da CBF, em janeiro deste ano, para que muitos deles criassem um time da modalidade. Tal obrigação acabou tornando o cenário complicado em algumas equipes, como desabafou Sofia Sena, ex-atleta do Sport-PE, após uma goleada sofrida por 9 a 0 diante do Santos-SP, pela Série A1.
Em entrevista à jornalista Gabriela Nolasco, na CBF TV, a jogadora reclamou das condições oferecidas pelo clube pernambucano. "A gente mal tem horário para treinar, treina três vezes por semana. Não tem prioridade pro feminino. A gente se vira do jeito que pode. Tem horário, professora, bola e se vira. Acho que isso não ganha jogo. A gente pode ter raça, vontade, amor, mas, com certeza, isso não vai ganhar jogo", desabafou.
Essa é apenas uma das situações vexatórias que, infelizmente, muitas atletas ainda passam no Brasil e Sofia teve força para relatar. O relato custou caro para a atleta, que acabou sendo demitida do time.
O desabafo mostra que ainda há amadorismo, o que fica ainda mais visível quando se procura saber mais sobre a profissionalização do futebol feminino no País. Apesar da exigência da formação de um time feminino, segundo a assessoria da CBF, as equipes não têm a obrigação de contratar com carteira assinada. Atualmente, 205 atletas têm contrato profissional vigente.
Os clubes não podem alegar que negligenciam o futebol feminino por conta da falta de visibilidade já que, além do bom público registrado na Copa do Mundo, a modalidade teve bons números de transmissão do torneio nacional.
Segundo a CBF, a modalidade teve mais de 60% dos jogos transmitidos — com 229 jogos exibidos ao vivo pelo Twitter, pela plataforma MyCujoo e também pela TV Bandeirantes. Somente a Série A da modalidade, conhecida como A1, teve 12,8 milhões de telespectadores.
O Brasileirão Série A1 foi realizado entre os meses de agosto e setembro de 2019, logo depois da Copa do Mundo, e, talvez, isso tenha impulsionado a maior visibilidade. Entretanto, ainda é preciso que outros times, como os participantes da Série A2, incentivem mais os torcedores a acompanharem o futebol feminino.