Logo O POVO+
Alemanha - Brasil, via Lituânia
Reportagem

Alemanha - Brasil, via Lituânia

Edição Impressa
Tipo Notícia
TAIBA, CE, BRASIL,24-10-2019: Ruediger Ran, Alemão de 81 anos vem para o Brasil praticar kite surf.  (Foto: Fabio Lima/O POVO) (Foto: FÁBIO LIMA/O POVO)
Foto: FÁBIO LIMA/O POVO TAIBA, CE, BRASIL,24-10-2019: Ruediger Ran, Alemão de 81 anos vem para o Brasil praticar kite surf. (Foto: Fabio Lima/O POVO)

TAIBA, CE, BRASIL,24-10-2019: Ruediger Ran, Alemão de 81 anos vem para o Brasil praticar kite surf.  (Foto: Fabio Lima/O POVO)
TAIBA, CE, BRASIL,24-10-2019: Ruediger Ran, Alemão de 81 anos vem para o Brasil praticar kite surf. (Foto: Fabio Lima/O POVO) (Foto: FÁBIO LIMA/O POVO)

"Um dia, Ruediger decidiu encontrar uma acomodação mais barata ao lado da Vila Marola", narra Sigita Pipiriene, proprietária do hotel que hospeda o alemão há dez anos. Naquele então, o dinheiro era obstáculo, mas o Ceará se mantinha como refúgio.

Em dez verões, o aventureiro estreitara, ano após ano, a amizade com o casal de lituanos Arunas Pipiras e Sigita Pipiriene. Ruediger era mais que um habitante do hotel, era quase membro da família. Foi aí que os empresários resolveram estender a hospitalidade para o resto da vida do kitesurfista — ou até quando os mares e ventos da Taíba acalentarem o coração dele.

"Nós nos preocupamos com ele todos os dias. Parecia que não deveria ser assim (ele se hospedar em outro local), e convidamos Ruediger para voltar para (Vila) Marola e ficar aqui de graça até quando ele ainda possa praticar o kite", conta Sigita.

Convicto solitário, Ruediger retrucou: "Por que vocês estão fazendo isso comigo?". "Eu não estava preparada para a pergunta. Mas é porque nos importamos e amamos Ruediger. Nossa casa parecia vazia sem ele. O dinheiro não poderia ser uma razão para Ruediger não estar conosco. Então, desviamos dessa barreira", lembra Sigita.

A relação de carinho é tanta que os proprietários do hotel todos os anos são atacados pela ansiedade nos meses de verão europeu. A inquietação só vira calmaria quando a caixa de entrada de e-mails acusa a confirmação da vinda de Ruediger por mais uma estação. Neste ano, o alívio dos lituanos veio em junho.

Sigita explica que não é um simples e-mail de confirmação. É mais uma confirmação de que ele está bem, apto, saudável, pronto para novos voos. Vivo. "Teremos mais um ano juntos, compartilhando após cada sessão de kite, sentados todos juntos em uma grande mesa no bar. Isso você não (se) pode comprar por dinheiro".

E lá se vão dez anos de amizade e de estadia no hotel. Entre agosto e novembro, o alemão tem presença assegurada. "Ruediger se tornou um atributo da Vila Marola. Ele é alguém único. Todos os kitesurfistas gostariam de viver tanto tempo e ainda assim poder desfrutar do kitesurfe".

Diante do estilo de vida saudável de Ruediger, o hotel modificou o cardápio. No início, as lentilhas, maior exigência da alimentação do alemão, eram preparadas pelos próprios donos do estabelecimento. Hoje, virou luxo comum a todos os visitantes.

"Não pense que ele é um homem fácil!", brinca Sigita. "A cozinha deve ter lentilhas todas as manhãs. Nós chamamos de 'lentilhas de Ruediger'. É o começo do dia dele. E um bolo sempre deve estar sobre a mesa. Ruediger disse a todos que se alimentassem de forma saudável se quisessem viver muito tempo", completa.

A internet é outra exigência do alemão. É o canal para ele se comunicar com os filhos e a namorada Doris, no Velho Continente. Qualquer falha no sinal vai resultar em bronca do octogenário. "Quando vemos ele vindo para a recepção e dizendo 'merda de internet', todo mundo se esconde", ri.

O que você achou desse conteúdo?