O mercado exige profissionais com capacidade além da técnica. Essa é a análise de Carlos Eduardo Queiroz, que por formação em Medicina é cirurgião do aparelho digestivo. Mas, com o surgimento de novas demandas na área em que atual, há quatro meses se tornou gerente de Regulação dos Serviços de Saúde da Unimed Fortaleza. Ele diz que percebe a importância de aliar o conhecimento técnico à gestão e que isso se tornou exigência para diferentes cargos.
Também diretor-presidente da Cooperativa de Cirurgiões Gerais do Estado do Ceará (Coocirurge), Carlos Eduardo não abandonou o trabalho de atendimento, mesmo exercendo um cargo de gestão. Para isso, além da formação em Medicina, fez MBA em Gestão Empresarial e Gestão Financeira, além de cursos em áreas como processos e projetos.
O momento é de constantes adaptações no mercado de trabalho. As empresas buscam se adaptar a um novo momento de saída da crise econômica, alguns perfis de profissionais não estão sofrendo com a alta taxa de desocupação, que no Brasil alcança 11,9 milhões de desempregados até novembro, e 467 mil no Ceará, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Essa alteração de cenário foi referenciada em levantamento produzido pelo PageGroup, referência mundial em recrutamento especializado de executivos de todos os níveis hierárquicos, que aponta as profissões com maior possibilidade de demanda no Brasil a partir de análises de mercado e tendências de contratações das empresas para o próximo ano (ver infográficos da páginas 20 e 21). Os cargos considerados nessa lista contemplam o alto escalão, média e alta gerência e níveis técnico e de suporte à gestão.
No setor de saúde, é destacado na lista o cargo de diretor médico, que exigiria perfil semelhante ao desempenhado por Carlos Eduardo. "O mercado começou a valorizar a confluência de habilidades. No caso do médico que tem conhecimento técnico e expertise em gestão, ele traz vantagens competitivas para a empresa, uma vez que no mercado de trabalho há escassez desse tipo de profissional", observa.
Renato Trindade, gerente executivo da Michael Page, empresa parte do PageGroup, entende que, para falar sobre as tendências de 2020, é importante voltar para 2013 e 2014, início da crise econômica no Brasil. Ele afirma que o próximo ano será de muita expectativa pela retomada da economia e do mercado de trabalho. Funções como as ligadas à formulação de novos negócios, área financeira, de tecnologia e sustentabilidade deverão puxar a retomada do mercado.
Esse novo impulso no mercado desse ser iniciado nos grandes centros do País, mas, sobre o Nordeste, o gerente da Michael Page destaca que há um mercado promissor na região. "Nas principais capitais, conseguimos captar a retomada de mercado. Já vemos grandes indústrias voltando a contratar", reforça.
Trindade ainda faz ressalva no que diz respeito à formação desses profissionais. Para ele, a maioria das universidades não formam profissionais adaptados ao perfil exigido pelo mercado. "O profissional precisa entender de áreas distintas, não somente a preparação técnica tão somente de uma área".
O analista de Mercado de Trabalho do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), Mardônio Costa, sintetiza que o fraco crescimento econômico do País dos últimos anos foi responsável pelos resultados ruins no emprego formal. Neste ano, além dos desempregados, milhões de trabalhadores sofre com o desalento, não acreditam mais que vão conseguir ser recolocados no mercado de trabalho.
Até novembro, 13.564 empregos formais foram gerados no Ceará, por exemplo, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que mostram saldo positivo nos últimos cinco meses. Porém, a expansão do mercado informal é maior. "A desocupação diminuiu graças às atividades informais, no Ceará em torno de 55% do total".
Para 2020, Mardônio prospecta um mercado de emprego beneficiado pela melhor perspectiva econômica. Ele analisa que "há um cenário macroeconômico favorável, que solidifica esse movimento de alta".
As constantes mudanças no mercado geram incertezas, pontua o fundador do Laboratório de Estudos do Trabalho e Qualificação Profissional da Universidade Federal do Ceará - LABOR/UFC, Eneas Arraes Neto, "ainda com raiz nas transformações tecnológicas do mundo". Ele enxerga os profissionais voltados ao desenvolvimento de soluções tecnológicas um passo à frente.
Arraes Neto entende que os computadores também poderão substituir aqueles com trabalho intelectual, não somente os trabalhos braçais, como se falava em anos anteriores. "Profissões são criadas, outras acabam".