Logo O POVO+
Torcida precisa ser ouvida nas decisões dos clubes sobre questões sociais, diz especialista em marketing
Reportagem

Torcida precisa ser ouvida nas decisões dos clubes sobre questões sociais, diz especialista em marketing

Edição Impressa
Tipo Notícia

Violência contra mulher não é novidade. Os casos, dentro e fora dos campos, se amontoam ao longo das décadas. O que é novidade é a mobilização de torcidas no repúdio a essas violências, quando praticadas por atletas. Esse movimento é potencializado pelas interações na internet, nas redes sociais. "Antes, os casos caiam no esquecimento, não havia manifestação. Hoje, não. E os clubes precisam gerenciar as questões que podem afetar a imagem da instituição", assevera Evandro Gomes, especialista em marketing esportivo.

Gomes pontua que, com o advento do sócio-torcedor, os membros da torcida, que seriam já personagens importantíssimos como opinião pública, se tornam ainda mais preponderantes na equação que deve ser levada em conta pelos clubes. "Ele (torcedor) contribui financeiramente e ele quer ter vez e voz, ele quer opinar, e ele quer que o clube respeite valores, e que o clube siga uma linha de conduta que seja aceitável pela opinião pública em geral", detalha.

O marketing do clube precisa, então, estar alinhado a esse público. O setor de comunicação dos clubes, como explica Evandro, pode optar, como é comum, por manter-se neutro. "É uma estratégia compreensível porque são instituições coletivas. Mas optar por neutralidade em questões sociais compreendo como uma estratégia cômoda". Ele define como um ponto sensível esse de se posicionar ou não. Contudo, ao optar por não se posicionar, o clube foge de riscos, mas perde oportunidades. Entre elas de se destacar e de criar vínculos com a torcida.

Em casos como o mais recente, que envolve a possibilidade de uma nova contratação por parte do Ceará de um jogador com histórico de violência contra mulher, para a assistente social e integrante da torcida Vozão Antifascista Ingryd Melyna, o clube precisa mais que se posicionar. Para ela, é preciso que os clubes lancem projetos efetivos sobre o assunto, promovendo uma espaço de discussão entre funcionários, dirigentes, torcida.

"É uma obrigação dos clubes, hoje, ter uma equipe social, contratar psicólogos, assistentes sociais, de uma forma ampla para cuidar dos seus jogadores, dos seus profissionais, mas também para trabalhar junto com a equipe de marketing para projetos voltados para torcida", opina.

Para a pesquisadora da Rede de Observatórios da Segurança e do Laboratório de Estudos da Violência (UFC) Ana Letícia Lins, os clubes precisam "garantir políticas de inserção de mulheres na própria diretoria". "Dá abertura maior de torcedores e torcedoras nos espaços de discussão e decisão é o melhor caminho para garantir que esse tipo de coisa não continue acontecendo. É um desgaste moral pro clube, mas também é um desgaste que mexe tanto com as emoções e com a autopercepção de dignidade das mulheres que compõem a torcida do clube".

O que você achou desse conteúdo?