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Foco dos países deve ser controlar primeiros casos do coronavírus
Reportagem

Foco dos países deve ser controlar primeiros casos do coronavírus

Especialistas avaliam riscos no Brasil e falam sobre origem do vírus
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A curva de crescimento dos casos confirmados do coronavírus no mundo é acentuada. Do dia 24 ao dia 28, o número aumentou 555%, partindo de 916 para mais de 6 mil. Até a noite de ontem, 29, conforme balanço da agência CGTN, já eram 7.736 casos confirmados somente na China. Para especialistas em virologia e infectologia, países que começam a ter casos suspeitos devem executar medidas efetivas para controlar os primeiros casos "importados" e impedir a transmissão da infecção.

Assim como em outras epidemias, o surto se deu em razão da emergência de um novo vírus em um população suscetível — que não tinha contato anterior com o vírus e, consequentemente, não tinha desenvolvido resistência a ele.

Roberto da Justa, médico infectologista do Hospital São José e chefe do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará(UFC), destaca que pouco se sabe sobre o comportamento do vírus. "Não sabemos ainda o nível de letalidade, a taxa de pessoas infectadas que desenvolvem sintomas. As manifestações clínicas ainda são uma incógnita. Ainda está sendo estudado para entender o comportamento do vírus", aponta.

Ele destaca que a capacidade de controlar os primeiros casos é fundamental para que o vírus não se torne epidêmico no país. A confirmação de um caso demanda, além de equipamento com estrutura de isolamento, equipes de saúde treinadas em atendimento de pacientes com infecções respiratórias transmissíveis, equipamentos de proteção adequadas para os profissionais, descarte adequado do lixo hospitalar infectante. "Temos instituições hospitalares com estrutura, sem dúvidas. Mas não são muitas com essa capacidade. A questão da infecção respiratória é que os casos graves esbarram em leitos de UTI. Teremos leitos suficientes? Essa é uma questão crítica", discute.

Por não ter tratamento nem vacina, o melhor método de controle é o diagnóstico rápido, considera Edison Durigon, professor de virologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP). "Quanto mais rápido o diagnóstico do paciente, eu consigo saber que ele está infectado e isolo das outras pessoas." Conforme Edison, o Brasil tem uma estrutura boa para receber esses pacientes. "Temos hospitais com estrutura para isolamento. Enquanto tiver poucos casos suspeitos, está numa situação confortável", diz. O professor explica que o novo vírus surgiu em morcegos e "tinha na célula humana o mesmo receptor da célula do morcego." "Provavelmente já existia lá no mercado de Wuhan, que vendia animais para consumo. A transmissão foi através das fezes do morcego, que ficavam em gaiolas. As pessoas manipulando se infectaram. Quando passou para o humano, começou a transmitir", explica.

Ele compara que, assim como o Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), que surgiu em 2002 também na China, a epidemia atual está acontecendo durante o inverno no Hemisfério Norte. "Quando o inverno diminuir, o número de casos também deve diminuir. É uma virose de clima frio", projeta.

 

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