A atividade gastronômica na Varjota remete a época de uma Fortaleza bucólica, quando os principais moradores eram famílias simples de pescadores que saíam do mar do Mucuripe carregando peixes amarrados em varas. Nesta época, quando o bairro ainda era uma vila de pescadores próxima ao mar, surgiram pequenos restaurantes comandados por mulheres que preparavam o pescado trazido pelos homens.
Aos poucos, os clientes descobriram a culinária do local e passaram a se deliciar com a peixada no leite de coco, o camarão ao alho e óleo e o peixe assado com baião de dois - e o melhor, pagando valores bem menores do que os praticados em bairros como Meireles e Aldeota.
"Esse foi o embrião do espírito empreendedor da Varjota. Com o passar das décadas, essa tradição se manteve e hoje vemos um caldeirão de sabores", afirma Eveline de Alencar, coordenadora do curso de Gastronomia da Universidade Federal do Ceará (UFC). "O que vai acontecer daqui por diante é não só a reestruturação do lugar mas também uma maior especialização dos estabelecimentos, com mudanças mais elaboradas do menu e até mesmo da ambientação", destaca.
Para Leopoldo Gondim, professor do mesmo curso, a conclusão das obras do polo deve alçá-lo à condição de corredor gastronômico mais importante da cidade. "Fortaleza possui outros polos de culinária local, como a Beira-Mar e a Aldeota, sendo que o primeiro é, a meu ver, um espaço descaracterizado. A Varjota possui características que a tornam única: ela é um polo de resistência, dada a sua ligação ao Mucuripe - não a praia, mas o bairro de pescadores. Muitos restaurantes que ainda estão lá vêm dessa época", analisa.
"Por causa das obras, os comerciantes estão perdendo clientes numa época importante, mas muitos compreendem que daqui a alguns meses eles vão colher os resultados", aponta.
Para Rodolphe Trindade, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Ceará (Abrasel-CE), a conclusão das obras vai dar fim ao período de espera iniciado com o reconhecimento do bairro como corredor gastronômico ainda em 2009. "Vai ser a confirmação de uma área que foi a população que elegeu. O que o poder público fez foi apenas sacramentar", diz. (Flávia Oliveira)