A demora pela concessão de benefícios via o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) não é um problema que surgiu somente no ano passado, mas a situação tem se agravado desde então. Por trás dos números desta fila que pouco anda, são muitas as histórias que percorrem um caminho comum: diversas ligações, idas e voltas nas agências e até quatro meses de espera por uma resposta. Foi assim para a dona Maria, Glauciene, Daniele
e Francisleide.
Elas estiveram nas agências do INSS das ruas Princesa Isabel (Farias Brito) e Pedro Pereira (Centro) na manhã da última sexta-feira, 28, em busca de um retorno sobre os pedidos de aposentadoria por invalidez e Benefício de Prestação Continuada (BPC). Algumas, como a atendente Glauciene Marrocos, 42, já sabem bem que o processo é desgastante. Ela tenta se aposentar desde 2012, quando sofreu um acidente de ônibus. No entanto, conseguiu algumas vezes apenas um auxílio, que era suspenso após alguns meses.
"Eles autorizam e depois cancelam. Aí tenho que fazer tudo de novo. Ligo para entender, venho aqui, faço a perícia. Mas até que tudo isso aconteça, chego a esperar entre três e quatro meses para entregar a documentação", lamenta, apontando para os papéis que mostram que a última solicitação realizada em setembro de 2019. Foram cinco meses até que fosse convocada para a perícia médica.
O relato se repete. A cozinheira Daniele Gomes Silva, 33, conta que aguarda "há muito tempo" para obter o BPC do filho, de 10 anos. "Ele é especial. Precisamos dessa ajuda. Eu dei entrada em novembro de 2018. Em 13 de fevereiro, fui chamada para entregar os documentos e estou hoje aqui esperando, vamos ver se vai dar certo", relatou.
São muitas as razões que resultam na demora desse atendimento. Dentre elas, o quadro de empregados mais enxuto. Desde 2016 o órgão não realizou mais concurso. Ou seja, os funcionários vão se aposentando, mas não entram novos para substituí-los. Em 2018, havia cerca de 1 mil servidores em Fortaleza. Hoje, são 600. Uma redução
de 60%.
Para se ter uma ideia, na unidade do bairro Farias Brito, dos 27 funcionários públicos ativos, apenas oito fazem análise de processos. O serviço tem uma demanda entre 280 e 300 atendimentos por dia. Os demais realizam outras funções. São seis médicos e uma assistente social. Nesta agência, sete já se aposentaram entre 2019 e 2020, e mais três sairão até o meio do ano.
Além do temor devido à aprovação da reforma da Previdência ter pressionado a população a procurar pela aposentadoria, outro fator que aumenta essa espera é a digitalização dos procedimentos, que não ocorreu com adequação plena dos processos internos. Por isso, a movimentação moderada observada pela reportagem durante a visita às agências não reflete o tamanho da extensa fila de espera que está no sistema do INSS.