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Ceará está sob risco de enfrentar nova crise econômica
Reportagem

Ceará está sob risco de enfrentar nova crise econômica

Governo do Estado sinaliza que dificilmente o Estado escapará da recessão em 2020, seguindo tendência nacional
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GRANDE PARTE do comércio cearense está sem funcionar. Empresas temem quebrar por conta da pandemia (Foto: BEATRIZ BOBLITZ)
Foto: BEATRIZ BOBLITZ GRANDE PARTE do comércio cearense está sem funcionar. Empresas temem quebrar por conta da pandemia

Os impactos da pandemia do novo coronavírus na economia cearense ainda não foram mensurados de forma oficial pelo Governo do Estado, mas os setores já projetam volta à recessão em 2020, após três anos de lenta recuperação econômica no Brasil e Ceará, de 2017 a 2019 - apesar de o Produto Interno Bruto (PIB) estadual referente ao ano passado ainda não ter sido divulgado.

O presidente do Instituto de Pesquisas e Estratégias Econômicas do Ceará (Ipece), João Mário França, admite que, dificilmente, o Estado escapará de nova crise econômica. Antes da pandemia, a expectativa era que o PIB estadual atingisse expansão de 2,3% neste ano, percentual que está sendo revisado e deverá acompanhar a tendência nacional. No País, o Governo Federal já reduziu para de 2,1% para 0,02% o crescimento da economia.

O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), também já sinalizou que a economia estadual deverá sofrer um baque, mas ponderou que o grande desafio agora é do ponto de vista da saúde pública, sendo preciso intensificar as medidas de prevenção e combate à Covid-19. "O grande desafio será na próxima semana. A economia a gente busca depois recuperar. Vidas a gente tem que salvar", declarou.

O ministro da Saúde, Ricardo Mandetta, também anunciou que, no fim do próximo mês, a situação no País deve piorar, considerando que o Sistema Único de Saúde (SUS) chegará ao seu limite operacional e entrar em colapso. A paralisação de grande parte do comércio e indústria, aliada à previsão de caos na saúde, deixa o mercado ainda mais pessimista. A estimativa é que, em razão do pico da doença, o período de quarentena seja estendido, aumentando ainda mais os prejuízos para as empresas.

Em meio ao clima de temor da doença, os setores já começaram a calcular as perdas no Ceará. O segmento de alimentação fora do lar, por exemplo, já demitiu cerca de 5 mil trabalhadores, segundo Rodolphe Trindade, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Estado (Abrasel).

O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Ceará (Fecomércio), Maurício Filizola, diz que mantém contato com empresários dos respectivos setores e informa que, até o momento, não ocorreram demissões em razão do fechamento dos estabelecimentos. Porém, empresários já preveem e temem a necessidade de mais dias de quarentena.

Filizola reforça a cobrança das empresas aos governos federal, estadual e municipal, que vão desde medidas que abonem momentaneamente os estabelecimentos fechados do pagamento de impostos, até o adiantamento de feriados do segundo semestre.

"Comparo a atual situação com o que aconteceu na greve dos caminhoneiros, mas é ainda mais preocupante. Depois de passada a crise, vamos ter que trabalhar em dobro para recuperar a economia", reforça.

De acordo com estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a economia brasileira poderá cair 4,4% em 2020 devido ao coronavírus, levando o País a sentir os efeitos negativos da pandemia até 2023. Se confirmada, essa seria a maior queda nominal (sem considerar efeitos da inflação) da economia desde 1962, quando começa a série histórica disponível no site do Banco Central.

Um dos setores mais impactados com a crise econômica do Brasil, principalmente nos anos de 2015 e 2016, a indústria teme os efeitos da pandemia. Segundo Lauro chaves Neto, assessor econômico da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), não há como o setor escapar das perdas. Mas pondera que o tamanho delas vai depender do ciclo de duração da pandemia. "Por isso, seja no Brasil ou Ceará, não podemos afirmar se a queda do PIB será de 3% ou 5%".

"O mais importante nesse momento é, no âmbito social, salvarmos vidas e, no âmbito econômico, estabelecermos um pacto entre o setor produtivo e o poder público, não só para amenizar as consequências da crise, como também para estabelecermos as bases para a retomada da economia pós crise", afirma.

 

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BNDES anuncia pacote de R$ 55 bilhões para manter empregos

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Gustavo Montezano, disse ontem, em entrevista transmitida pelo YouTube que teve a participação do presidente Jair Bolsonaro no encerramento, que as medidas anunciadas, de injeção de R$ 55 bilhões na economia, são apenas um primeiro passo e que novas ações para ajudar a economia atravessar a pandemia do coronavírus estão sendo estudadas.

"Hoje a gente está dando o primeiro passo nessa jornada que o banco adentra junto com a população brasileira no enfrentamento dessa crise", afirmou Montezano.

As primeiras medidas foram classificadas por ele como transversais, que abarcam todos os setores que estão presentes na carteira de crédito do banco e nos cidadãos via Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

O banco anunciou que vai destinar R$ 20 bilhões - obtidos com a venda de ações da Petrobras - para o pagamento extraordinário de FGTS e PIS/Pasep. Também decidiu pela suspensão temporária do pagamento de parcelas de financiamentos diretos e indiretos, e a ampliação de crédito para micro, pequenas e médias empresas.

Segundo Montezano, do total anunciado, R$ 35 bilhões visam dar alívio ao caixa das empresas.

Desde ontem, anunciou, começaram a ser tomadas medidas setoriais, e concordância com o Governo Federal. "Nós somos um time, o BNDES é um braço operacional do Governo e tudo o que a gente decide é feito em coordenação com os ministérios Presidência", explicou. "Isso aqui (a crise do coronavírus) é algo novo, então as soluções não devem ser comparadas aquelas utilizadas em crises financeiras do passado", completou. As medidas será enquanto a crise perdurar.
(Agência Estado)

Turismo é uma das atividades mais prejudicadas com a crise

Atividade importante para a economia cearense, o turismo teme que, com o fim do período de pandemia do novo coronavírus, não consiga captar os visitantes que já estavam com viagens marcadas e tiveram de adiar por conta do período da quarentena no Estado. Por isso, fazem campanhas publicitárias para que os turistas não cancelem pacotes, mas remarquem as viagens.

"O turismo parou completamente porque as pessoas precisam se isolar nesse momento. O Governo precisa oferecer mecanismos de ajuda aos negócios do setor também, muito importante para o Estado e que vinha em constante crescimento. Ao passo que os empresários também não devem tomar medidas que possam ser nocivas aos trabalhadores", diz.

O problema se estende ao País inteiro, o setor é impactado pelo cancelamento de voos internacionais e desaconselhamento a voos nacionais, além do fechamento das das divisas no caso de alguns estados como o Ceará. Apesar de preocupado com os efeitos negativos da cadeia do turismo, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Manoel Linhares, observa que o turismo foi o primeiro segmento a sofrer com a pandemia, mas também será o primeiro a sair dela.

"Nossa cadeia é composta por mais de 50 atividades. O Brasil e o mundo todo está sendo impactado, assim como o Ceará. Mas as atitudes tomadas em âmbito estadual, por exemplo, foram necessárias para que a gente possa voltar às atividade o mais rápido possível. Na China e na Itália, o coronavírus chegou a níveis bem piores, por isso, precisamos de atitudes radicais para evitar que a situação se agrave", aponta.

Caixa do Governo Federal

Governo Federal teria de contingenciar (bloquear) R$ 37,553 bilhões do Orçamento neste ano. A equipe econômica, no entanto, não precisará mais fazer o corte porque o Congresso aprovou o decreto de estado de calamidade pública, que suspende o cumprimento da meta fiscal de déficit primário de R$ 124,1 bilhões.

 

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