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Cemitérios da Região Metropolitana de Fortaleza relatam mudanças na rotina após Covid-19
Reportagem

Cemitérios da Região Metropolitana de Fortaleza relatam mudanças na rotina após Covid-19

Em locais visitados pelo O POVO, foram sepultados pelo menos 19 pessoas em decorrência do coronavírus
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Fortaleza em 01 de abril de 2020, Movimentaçao no Cemitério jardim metropolitano, devido a crise do coronavirus. (Foto Fabio Lima/O Povo) (Foto: Fabio Lima)
Foto: Fabio Lima Fortaleza em 01 de abril de 2020, Movimentaçao no Cemitério jardim metropolitano, devido a crise do coronavirus. (Foto Fabio Lima/O Povo)

No Ceará, já são 20 mortes causadas pela Covid-19. Os momentos de despedida contam partes da história de enfrentamento ao coronavírus. Nesta linha de frente estão profissionais que mesmo lidando com a morte cotidianamente foram surpreendidos, rotinas transformadas para a prevenção de infecções e histórias ainda não contabilizadas nas estatísticas públicas. O POVO esteve em três cemitérios de Fortaleza e Região Metropolitana para ouvir personagens dessas histórias e observar seu dia a dia.

"A partir do momento que o médico coloca suspeita (na declaração de óbito), a gente faz todo o processo de cuidados como se fosse confirmado", garante a gerente do cemitério Jardim Metropolitano, Sandra Costa. "Não pode entrar em nenhuma sala de velório, chega direto no jazigo e já fazemos o sepultamento. Separamos equipamentos de uso só para esses casos e a equipe utiliza proteção individual, que logo após é incinerada", explica sobre os procedimento adotados em relação aos óbitos por confirmação ou suspeita de Covid-19.

A gerente afirma que desde o dia 22 de março a movimentação no cemitério se intensificou. Em dez dias, foram sepultados sete casos suspeitos e três confirmados para o novo coronavírus. Alguns dias não testemunham qualquer despedida pela nova doença, outro "já chegou a ter três enterros de casos suspeitos". "Fora isso tivemos um aumento geral, estamos com uma média de oito sepultamentos por dia. Tem bastante causas respiratórias, que não indicam Covid-19, mas a gente fica receoso, né?", relata. O aumento da demanda fez com que os cuidados aumentassem e a equipe fosse reforçada, nenhum funcionário teve férias concedidas em março e em abril. O local prepara novos jazigos e, por contar com um crematório, começa a aconselhar as famílias para considerarem o processo.

Há 18 minutos dali, no cemitério Parque da Paz a rotina de mudanças é parecida. Funcionários que não quiseram se identificar dão conta de que receberam nove casos, entre confirmados e suspeitos, de vítimas da Covid-19. Do dia 24 de março, quando realizaram o sepultamento do primeiro caso suspeito no local, ao dia 1º de abril, quando a reportagem esteve no cemitério, a média é de um caso por dia. Nessas situações, o carro funerário deixa a urna próxima ao jazigo, é permitida um breve celebração e a despedida acontece em poucos minutos. Para outras causas de morte, a capela e sala de velório estão abertas, mas só podem ser utilizadas por até uma hora e por até dez pessoas a cada vez.

Já o cemitério mais antigo de Fortaleza, o São João Batista, ainda não recebeu qualquer vítima da epidemia. Por lá, a equipe administrativa trabalha em regime de revezamento e os funcionários que participam de sepultamentos só trabalham com todos os equipamentos de proteção individual. O álcool em gel já cotidiano agora é acompanhado de máscaras usadas por todos, inclusive para quem vai pagar taxas ou ver túmulos de parentes. Apesar de as visitações serem desaconselhadas no momento e o fluxo ter diminuído, não há - como nos outros cemitérios acompanhados pela reportagem - qualquer proibição aos visitantes.

 

Velórios restritos e sepultamento imediato para Covid-19 cumprem decisão do TJCE

As regras para evitar transmissão do coronavírus valem enquanto durar situação de emergência em saúde no Estado. Texto também dispõe sobre óbitos por outras causas. Entenda:

Mortes por Covid-19, confirmada ou suspeita - O enterro deve ser logo após a liberação do corpo, sendo proibida a realização de velórios. Assim, nos cemitérios, as urnas chegam próximas ao jazigo e se procede com uma celebração de poucos minutos já diante do túmulo. Para que profissionais da saúde e funerários não se exponham a risco de infecção e familiares também estejam protegidos, serviços de conservação dos corpos estão proibidos e, por isso, tudo acontece com o caixão fechado

Mortes por outras causas - É autorizado velório limitado a uma hora de duração e com até 10 pessoas no salão ou capela, evitando aglomerações. Deve acontecer exclusivamente no período diurno, para garantir que o sepultamento se dê no mesmo dia do óbito

Todos os casos - Mortes ocorridas em unidades hospitalares após o fechamento dos cemitérios devem ser direcionados ao Serviço de Verificação de Óbito ou à Perícia Forense. O velório, quando permitido, e o sepultamento devem acontecer nas primeiras horas do dia seguinte.

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