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Valorização da ciência brasileira será legado pós-pandemia
Reportagem

Valorização da ciência brasileira será legado pós-pandemia

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Por Catalina Leite

Pela primeira vez na história, o Brasil enfrenta uma crise de saúde pública que obriga a mudança na rotina de todos os cidadãos. Enquanto a quarentena perdura, a ciência ganha mais espaço nos noticiários e, consequentemente, nas discussões familiares.

"O que está acontecendo no meio da pandemia de Covid-19 é que a comunidade está entendendo o valor da ciência como nunca", percebe Pedro Hallal, reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e coordenador geral do primeiro estudo brasileiro que investigará o número de infectados pelo novo coronavírus.

Apesar dos cortes de bolsas e do sucateamento sistemático da pesquisa nacional, principalmente nas universidades públicas, os cientistas ainda trabalham em "operação de guerra" para desvendar o novo coronavírus. Foi assim que uma equipe de cinco pesquisadoras da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) transformaram o Brasil no país mais rápido a sequenciar o genoma do Sars-Cov-2, em apenas 48h.

Da mesma forma, Hallal acredita que a pandemia será o ponto inicial para compreender, de uma vez por todas, o que compõe o sistema de ciência e tecnologia. "As ciências sociais e humanas têm sido muitas vezes mal interpretadas e subfinanciadas. Nós precisamos imediatamente reverter esse quadro", reforça o reitor.

Afinal, o mapeamento de grupos vulneráveis à Covid-19 por contextos de pobreza e exclusão social se dá por pesquisas da área, para citar apenas um exemplo. "Não existe sociedade que se desenvolva só com pesquisa biomédica ou molecular, ou só de ciências sociais humanas. Todos os tipos de pesquisas são essenciais para a evolução da sociedade."

Mas para a ciência realmente habitar os lares brasileiros, é preciso aprender a simplificar a linguagem. "Eu tenho dado entrevista para veículos nacionais e percebi que nós [cientistas] vamos adaptando a linguagem para que a população entenda", comenta Hallal. Assim, a esperança é de que a ciência pós-pandemia também aprenda um novo idioma - menos técnico e mais simples. Mas jamais simplista.

No Brasil pós-pandemia, fica a certeza de que a ciência terá os brasileiros como novos aliados. Se isso significa que os governos vão converter essa valorização em políticas públicas de fomento à pesquisa, ainda é cedo para dizer. Para Hallal, no entanto, o certo seria que as autoridades nunca mais cogitem reduzir recursos para o setor: "Essa redução nunca salvou e nunca salvará crise econômica de país nenhum no mundo. Certamente, a única saída é por meio da ciência.

 

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