O protocolo estabelecido pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) para uso da cloroquina e de seu análogo hidroxicloroquina no combate à Covid-19 prevê uso do medicamento no momento da internação, associado a corticoides de prevenção a acidentes trombóticos e antibióticos. A ideia é testar a medida e analisar, em seguida, os resultados.
Na última segunda-feira, 6, a Sesa divulgou nota técnica sobre o uso da cloroquina, destinada a profissionais dos serviços de saúde públicos e privados. No texto, é afirmado que, com base em estudos preliminares, autoridades de saúde de vários países têm recomendado o uso dos fármacos no combate ao novo coronavírus.
Porém, o titular da pasta, Dr. Cabeto, estimou que o protocolo reduziria em 20% o uso de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), conforme declarou em entrevista coletiva virtual nessa quarta-feira, 8. "Vamos testar esse protocolo, que é muito simples, e pode ser feito em qualquer município cearense", declarou.
Porém, alerta-se que o uso contínuo da cloroquina pode causar retinopatia (lesão de vasos sanguíneos que nutrem a retina) e distúrbios cardiovasculares. "Considera-se que o uso de cloroquina ou de hidroxicloroquina pode ser seguro, embora, a janela terapêutica (margem entre a dose terapêutica e dose tóxica) seja estreita". Por isso, é "extremamente" contra-indicado o uso em tratamento domiciliar, assim como a automedicação.
A Sesa também alertou não haver evidências científicas sobre o uso profilático do medicamento, portanto, não recomendava o uso preventivo.
A nota ainda prevê que cada hospital que tenha plano de contingência para Covid-19 receberá no mínimo de 30 tratamentos, estoque que deve ser mantido. Os demais receberão e deverão manter estoque mínimo de 20 tratamentos.
A Sesa cita que a cloroquina é usada originalmente para o tratamento de doenças como artrite reumatoide e lúpus eritematoso sistêmico e discoide, assim como para condições dermatológicas provocadas ou agravadas pela luz solar e malária.
Para o dermatologista Heitor Gonçalves, que tem experiência no uso do medicamento no combate à malária, em casos extremos, como a atual pandemia, pode-se flexibilizar o uso, em detrimento de se esperar pesquisas mais rigorosas, como é o mais indicado.
O médico, doutor em farmacologia, defende que a cloroquina possa ser usada nos estágios iniciais da doença, posição oposta à do Ministério da Saúde, que recomenda em casos graves. Conforme argumenta, em estados graves, o vírus já se espalhou por todo o pulmão. A cloroquina altera os receptores das células dificultando que o vírus faça essas alterações, afirma. Baseando essa tese, ele cita estudo feito na Universidade Federal do Ceará (UFC), que defendeu o uso de hidroxicloroquina, como prevenção para profissionais de saúde de hospitais de Fortaleza que estejam atuando no combate à Covid.
Gonçalves, porém, recomenda, que antes de ser ministrado, deve se fazer levantamento do histórico cardiovascular do paciente, assim como exames para identificar alterações ou degeneração ocular na retina. (Com informações de Jocélio Leal e Júlia Duarte)