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"A gente quer atenção dos órgãos públicos", diz moradora da comunidade Raízes da Praia
Reportagem

"A gente quer atenção dos órgãos públicos", diz moradora da comunidade Raízes da Praia

Primeiro caso confirmado
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NA COMUNIDADE, 84 famílias vivem precariamente  (Foto: Beatriz Boblitz)
Foto: Beatriz Boblitz NA COMUNIDADE, 84 famílias vivem precariamente

Na ocupação Raízes da Praia, na Praia do Futuro, a confirmação de um morador com Covid-19 alerta para o risco que ameaça a comunidade - cerca de 400 pessoas, 84 famílias abrigadas em casas de madeira e papelão, distribuídas por vielas sem pavimentação e saneamento básico.

O homem de 54 anos está internado em estado grave na UTI de um hospital da Capital. Gari que presta serviço ao município, ele mora com sete pessoas, que estão isoladas desde a semana passada. A líder comunitária Taciane Soares afirma que outras pessoas procuraram à UPA com sintomas da Covid-19. No entanto, sem testes disponíveis, retornaram pra casa. 

A situação se agrava diante da precariedade das moradias. "A comunidade tem dificuldade de se manter em isolamento. São barracos pequenos. As pessoas não podem trabalhar porque a praia não está funcionando. Muita gente vive na informalidade. A gente vive aglomeração dentro da comunidade, não tem como ficar dentro de casa porque o espaço é limitado. Ficam fora de casa, mas dentro da própria comunidade", explica.

Taciane acusa a gestão municipal de descaso. "A Habitafor e a Prefeitura conhecem a realidade da comunidade. A situação está muito mais complicada por conta do coronavírus. A comunidade também sofre com dengue e problemas de pele", afirma. Ela conta que, há duas semanas, 12 crianças foram acometidas com micose. A dengue é outro problema comum. "A gente quer atenção dos órgãos públicos para olhar a questão sanitária da comunidade Raízes da Praia."

Logo na entrada da comunidade, um grande buraco foi aberto pela gestão municipal para receber a água da chuva e evitar alagamentos. O esgoto das casas escoa para o local, espalhando mau cheiro e atraindo uma grande quantidade de insetos.

"Eu te confesso, o que a gente sofre mais é com as muriçocas", revela Maria Simplício, 52, que divide a casa de três cômodos com 18 pessoas. "Fazer o quê? Eu não posso sair porque, se eu sair, a doença pode me pegar. Quanto mais eu evitar, pra mim é melhor porque a família é grande".

Maria explica que sente medo, ainda mais por não conseguir investir em medidas de proteção que diminuam os riscos de contaminação. "O que eu queria era me prevenir com as máscaras, um pão de cada dia, o gel, porque aqui eu não tenho dinheiro pra isso." Na semana passada, a Prefeitura de Fortaleza deu uma cesta básica às famílias. Mas a autônoma diz que a ajuda é insuficiente. "Eu trabalho de tudo. Eu sou camareira, lavadeira. Cuido de idosos e crianças. Vou pra lanchonete, restaurantes, sou auxiliar de cozinha em barraca. Mas, ficando parada em casa, eu fico doente", lamenta.

Ao ser procurada pela reportagem, a Prefeitura de Fortaleza afirmou que a comunidade Raízes da Praia está situada em uma área que é objeto de ação judicial de reintegração de posse por parte dos proprietários particulares. "Desde 2013, o Município vem mantendo diálogo com os representantes da comunidade, com o intuito de chegar a uma solução, inclusive com estudo técnico da área, bem como apresentou proposta de inclusão das famílias no Programa Minha Casa, Minha Vida. Não houve consenso entre os próprios moradores", traz nota. (Ítalo Cosme)

 

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