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Dois pastores das aparições em Fátima morreram na pandemia da Gripe Espanhola
Reportagem Especial

Dois pastores das aparições em Fátima morreram na pandemia da Gripe Espanhola

Em uma das aparições, a senhora vestida de branco disse a eles que levaria Francisco e Jacinta para o céu e deixaria Lúcia na Terra por mais tempo. Os dois foram canonizados a partir de um milagre ocorrido no Brasil

Dois pastores das aparições em Fátima morreram na pandemia da Gripe Espanhola

Em uma das aparições, a senhora vestida de branco disse a eles que levaria Francisco e Jacinta para o céu e deixaria Lúcia na Terra por mais tempo. Os dois foram canonizados a partir de um milagre ocorrido no Brasil
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Nesta quarta-feira, 13 de maio, os católicos de todo o mundo celebram a mais célebre aparição mística do mundo contemporâneo. Três pastores relataram seis visões da Virgem Maria, no lugarejo da Cova da Iria, na pequena cidade de Fátima em Portugal. O mundo vivia tempo atribulado - a Primeira Guerra Mundial estava em curso. Naquele ano transcorria a Revolução Soviética. Também era tempo de epidemia. Naquele inverno surgiria o primeiro foco da Gripe Espanhola, a maior pandemia do século XX e uma das mais mortais da história. Dois dos pastorinhos das aparições de Fátima pegaram a Espanhola e não resistiram.

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Francisco Marto tinha oito anos na época da primeira aparição, num domingo, 13 de maio de 1917. Faria nove no mês seguinte. A irmã dele, Jacinta Marto, tinha feito sete anos pouco antes. Estavam com a prima mais velha, Lúcia de Jesus Rosa dos Santos, de dez anos. Os três relataram que pastoreavam ovelhas quando viram um clarão no céu. Acreditaram ser um relâmpago. Pensaram que ia chover e se prepararam para levar as ovelhas para casa. Mas, em cima de uma azinheira, relataram ter visto uma mulher vestida de branco.

"De onde a senhora é?", Lúcia perguntou. A mulher apontou para cima: "Do céu". Lúcia foi a única a falar com ela. Jacinta via e ouvia, mas não falava. Francisco via, mas não falava nem ouvia o que era dito. A Senhora perguntou a eles se queriam oferecer a vida deles a Deus. Marcaram novo encontro no mês seguinte, no mesmo horário e local.

Os três pastorinhos quando crianças
Foto: O POVO.doc
Os três pastorinhos quando crianças

O combinado entre os três era não contar nada a ninguém. Mas, a pequena Jacinta só conseguiu guardar o segredo até a hora do jantar. A história se espalhou. Em 13 de junho, na segunda aparição, curiosos já acompanhavam as crianças no local. Nessa ocasião, a Senhora avisa que em breve levaria aos céus dois dos pastores: Francisco e Jacinta. Lúcia, ela avisou, ficaria mais tempo na Terra.

Haveria mais quatro aparições. Em julho, foi revelado o famoso segredo, que Lúcia escreveu dividido em três partes. O público atraído ao local crescia. Na última aparição, em 13 de outubro, multidão viu o chamado milagre do Sol: milhares de pessoas, a até 40 quilômetros de distância, relataram que o Sol começou a girar em torno do próprio eixo. O jornal O Século, que enviou repórter ao local, publicou na primeira página: "Como o sol bailou ao meio dia em Fátima".

No centenário das aparições de Fátima, O POVO produziu seu primeiro vídeo em animação. Confira:

A Senhora anunciou a proximidade do fim da guerra - o conflito começara três anos antes e se encerraria no ano seguinte. Era o fim de um martírio, mas outro se iniciava. A Gripe Espanhola surgiu nas trincheiras enlameadas. O primeiro conflito armado da história a reunir combatentes de todos os continentes habitados levou a pandemia a se difundir de forma inédita e com velocidade sem precedentes. Fez vítimas em todo o mundo, inclusive em Fortaleza. No Brasil, até o presidente da República morreu.

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Este 13 de maio é celebrado de forma diferente, mas remete de certo modo à memória do sofrimento pelo qual passava o mundo quando morreram os dois pastorinhos que morreram crianças.

A Gripe Espanhola tinha se alastrado pela Europa no fim de 1918. Francisco e Jacinta adoeceram. Ele padeceu ao longo de cinco meses. Conforme relatos da família, o menino não tinha medo. Dizia que iria para o céu, conforme vontade de Deus. Morreu em 4 de abril de 1919, aos dez anos.

Casa de Jacinta e Francisco. Os pastorinhos e mais dois irmãos morreram na pandemia de Gripe Espanhola
Foto: Robert Frans/especial para O POVO
Casa de Jacinta e Francisco. Os pastorinhos e mais dois irmãos morreram na pandemia de Gripe Espanhola

Jacinta passou meses hospitalizada, com doloroso abscesso no peito. Submeteu-se a cirurgia, mas morreu em fevereiro de 1920, antes de completar dez anos. Outros dois irmãos deles também morreram da Espanhola. Lúcia não adoeceu. Tornou-se freira. Morreu em 2005, aos 97 anos.

Milagre

Em 13 de maio de 1917, Jacinta e Francisco foram canonizados. O milagre que deu a eles o reconhecimento oficial da Igreja ocorreu com uma criança brasileira. Lucas tinha cinco anos e estava brincando quando caiu de uma janela, a sete metros de altura - aproximadamente o segundo andar de um prédio. Teve traumatismo craniano severo e perda de massa cerebral. Os médicos acreditavam que a criança ficaria em estado vegetativo ou teria graves sequelas neurológicas. Os pais se agarraram à fé. Pediram a intercessão de Francisco e Jacinta.

Dias depois, Lucas teve alta. Os médicos ficaram abismados. Mais surpreendente: não havia sequelas. A família enviou carta ao Santuário de Fátima, que foi investigar o caso. A Congregação das Causas dos Santos, no Vaticano adotou a cautela. Pediu para que a criança fosse acompanhada por mais três anos, para se certificar que não haveria sequelas nem se descobrisse alguma explicação médica.

No dia do centenário da primeira aparição, quatro anos depois do acidente de Lucas, o papa Francisco oficializou Jacinta e Francisco como santos.

Irmã Lúcia está em processo de beatificação, iniciado em 2008, três anos após a morte dela.

Portugal, em 13 de maio de 2020. Um século depois da pandemia da Gripe Espanhola, um novo vírus ataca a humanidade e impede devotos de Nossa Senhora de celebrarem as aparições em Fátima. Na imagem, uma freira de máscara facial participa de uma cerimônia comemorativa do 103º aniversário dos eventos que marcaram o mundo católico. Sem a multidão de peregrinos que recebe todos os anos, o Santuário de Fátima celebra o aniversário durante uma cerimônia religiosa reduzida ao mínimo. (Foto de PATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP)
Foto: PATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP
Portugal, em 13 de maio de 2020. Um século depois da pandemia da Gripe Espanhola, um novo vírus ataca a humanidade e impede devotos de Nossa Senhora de celebrarem as aparições em Fátima. Na imagem, uma freira de máscara facial participa de uma cerimônia comemorativa do 103º aniversário dos eventos que marcaram o mundo católico. Sem a multidão de peregrinos que recebe todos os anos, o Santuário de Fátima celebra o aniversário durante uma cerimônia religiosa reduzida ao mínimo. (Foto de PATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP)

Com informações do especial Nossa Senhora de Fátima

 

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