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Flexibilização do isolamento social depende da queda de óbitos e internações
Reportagem

Flexibilização do isolamento social depende da queda de óbitos e internações

A queda nos indicadores deve ser observada por pelo menos duas semanas para que afrouxamento das medidas de isolamento possa acontecer, diz Dr. Cabeto, secretário Estadual da Saúde
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Comunidade das Quadras, na Aldeota, em Fortaleza (Foto: Fabio Lima/O POVO)
Foto: Fabio Lima/O POVO Comunidade das Quadras, na Aldeota, em Fortaleza

Um cenário muito diferente do atual precisa ser observado e comprovado no Ceará para que as medidas de isolamento sejam flexibilizadas. Ao contrário da atual escalada nos números de casos e óbitos e com leitos de internação beirando à ocupação, a revisão das medidas de isolamento demanda queda sustentada de internações e mortes em decorrência da doença por pelo menos duas semanas. Do contrário, conforme Dr. Cabeto, titular da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), a volta das atividades econômicas pode ser retardada.

O relaxamento das medidas de distanciamento social tem sido aplicado de formas diferentes nos países que já passaram pela fase mais crítica da pandemia. No entanto, há similaridades. A volta à relativa normalidade deve ocorrer gradualmente e em velocidades diferentes em suas regiões, a partir da fase da doença em cada local.

Em entrevista à rádio O POVO/CBN na manhã de ontem, 13, o secretário explicou que o lockdown (isolamento restrito e compulsório) pode começar a se refletir nos dados epidemiológicos da Covid-19 "entre a primeira e a segunda semana". "Todas as medidas têm pontos positivos e negativos. É preciso escolher as prioridades. Na vida, é assim. A prioridade agora é salvar as pessoas, é não deixar as pessoas abandonadas", argumentou o secretário sobre a pressão para reabertura do comércio.

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O médico explicou que a pasta definiu os critérios mínimos que devem ser analisados para que a população tenha segurança de iniciar a flexibilização. "É preciso que tenhamos queda no número de óbitos sustentada por duas semanas, que o número de internações caia significativamente por duas semanas, estabelecemos valores absolutos para isso, e a taxa de ocupação dos leitos de UTI. Afora essas situações, seria muito arriscado fazer flexibilização e ter o número de óbitos por desassistência", defendeu. "A escolha é muito clara. Quem faz isolamento social melhor e mais agressivo, volta antes para a economia. Estamos vendo alguns exemplos de países que fizeram o contrário e pagaram um preço muito alto e retardaram o início das atividades econômicas", acrescentou.

É importante "olhar o caminho percorrido pela doença" e a taxa de reprodução do novo coronavírus — que mede quantas pessoas estão sendo contaminadas por cada cidadão infectado pelo vírus —, destaca a epidemiologista Lígia Kerr, professora do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Saúde Comunitária Universidade Federal do Ceará. "Um bairro ou município pode ainda estar em situação crítica, pior em relação aos outros", diz. Ela fala como deve ser a rotina mesmo quando for possível fazer a flexibilização: "continuar usando máscara, continuar medidas de higiene, evitar proximidade e grandes aglomerações, proteger idosos e pessoas do grupo de risco".

 

18 idosos estão infectados em um abrigo de Quixeramobim

Dezoito idosos, duas funcionárias e uma freira do Abrigo Santo Antônio, em Quixeramobim, no Sertão Central do Ceará, foram contaminados pelo novo coronavírus. A informação foi confirmada ao O POVO por uma trabalhadora da instituição que é coordenada pela ordem Irmãs da Misericórdia de Verona. “Não posso falar com você agora, estamos transferindo os que testaram negativo para locais isolados da casa”, respondeu ao telefone uma senhora, desculpou-se e desligou a ligação. 

Não foi fácil, em meio à pandemia, o dia 13 de maio, para os que vivem e trabalham no Abrigo Santo Antônio. No começo da manhã, uma funcionária alertava pelo WhatsApp sobre a a chegada da Covid-19 à casa que tem capacidade para acolher 35 anciões.

 “Aqui tem 18 idosos infectados, duas cozinheiras e a irmã (freira). Dá 21 pessoas infectadas dentro do abrigo. Aí, você imagine essas 21 pessoas precisando de UTI sem ter?”, preocupava-se a trabalhadora do abrigo.

O POVO apurou que dois idosos precisaram ser internados no Hospital Regional Dr. Pontes Neto por terem apresentado sintomas mais graves da doença. Além deles, uma funcionária também precisou de atendimento médico de emergência.

Em Quixeramobim, segundo o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Saúde do Ceará desta quarta-feira, 13, às 17h57min, foram confirmados 93 casos da Covid-19, quatro pessoas morreram em decorrência da doença e 45 pessoas foram curadas.

O POVO ligou para o bispo de Quixadá, dom Angelo Pignoli, para saber como a diocese estava auxiliando a ordem das Irmãs da Misericórdia de Verona. Os dois telefones da Cúria, um fixo e um celular, caiam na caixa postal.

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Critérios para flexibilização do isolamento social adotados em outros países

Estados Unidos

Nos EUA, cada Estado decidirá quando recomeçar as atividades e se isso acontecerá no Estado inteiro simultaneamente ou em regiões específicas. Em meados de abril, a Casa Branca apresentou um plano para começar a relaxar as medidas de isolamento com retomada parcial das atividades em três fases.

Critérios: queda sustentada de casos de coronavírus por 14 dias seguidos. O Estado precisa mostrar capacidade hospitalar mínima exigida pelo CDC e estrutura de testes suficientes para monitorar a população. Para passar de uma fase para a próxima, o Estado ou região não pode registrar aumento no contágio.

Fase 1: Pessoas do grupo de risco devem continuar em casa. Membros de lares com residentes vulneráveis, se saírem do isolamento, deverão tomar se isolar dos indivíduos vulneráveis.

Quem sair na rua deve manter o máximo de distanciamento de outras pessoas possível e evitar socialização com grupos de mais de 10 pessoas. Teletrabalho continuará sendo estimulado. Volta ao trabalho deverá ser “em fases”, e será preciso “interditar as zonas comuns onde as pessoas se reúnem”.

As escolas deverão permanecer fechadas. Visitas a idosos em asilos e hospitais serão proibidas. Os recintos grandes, como “restaurantes, salas de cinema, instalações esportivas e locais de oração” poderão operar “sob rigorosos protocolos de distanciamento físico”. Academias de ginástica poderão abrir se aderirem a protocolos rigorosos. Bares permanecerão fechados. Viagens não essenciais devem ser minimizadas.

Fase 2: População vulnerável permanece em casa e quem conviver com eles devem tomar as mesmas precauções da primeira fase. Em lugares públicos, será preciso maximizar a distância física e evitar reuniões com mais de 50 indivíduos. Viagens não essenciais poderão ser retomadas. Continua a recomendação do teletrabalho, quando for possível, e o fechamento das zonas comuns nos locais de trabalho.

Escolas e creches poderão reabrir. Continuarão proibidas as visitas a idosos em asilos e hospitais. Os recintos grandes poderão operar “sob protocolos de distanciamento físico moderados”. Bares poderão abrir com lotação reduzida.

Fase 3: Indivíduos vulneráveis poderão retomar as interações públicas, mas deverão praticar o distanciamento físico. População de risco baixo deve minimizar o tempo em ambientes lotados. Será retomada a presença sem restrições nos locais de trabalho, e permitidas as visitas a idosos em asilos e hospitais. Os recintos grandes poderão operar sob protocolos de distanciamento físico limitados, e os bares poderão operar com lotações aumentadas.

China

Wuhan, cidade chinesa onde a pandemia surgiu, começou a relaxar o isolamento depois de mais de 70 dias de quarentena, permitindo que trens, aviões e carros pudessem voltar a transitar dentro e para fora da metrópole.

Para usar o transporte público, os moradores precisam apresentar o histórico de saúde com a indicação se deve ou não permanecer em isolamento (por meio de QR Code no celular). Quem recebe um sinal verde pode transitar pela cidade ou sair dela. Isso foi possível após dias sem novas infecções locais ou novas mortes. Os controles de temperatura, o uso obrigatório de uma máscara e a distância física tornaram-se a norma nas escolas do país.

Novos casos

Na última sexta-feira, 8, o governo disse que cinemas, museus e outros locais serão reabertos gradualmente, mas que restrições como reservas obrigatórias e limite de visitantes estarão em vigor. Nesta segunda-feira, 11, Wuhan registrou cinco novos casos da infecção mais de um mês após o isolamento da cidade ser suspenso. 

Espanha

Um mês e meio após um dos isolamentos mais rígidos, a Espanha começou flexibilização do confinamento e autorizou que as crianças pudessem sair para brincar ou passear nas ruas. A mudança se deu em 26 de abril, após 24 horas com o menor saldo de mortes diárias em mais de um mês. Nesta segunda-feira, 11, em algumas regiões, passaram a ser liberadas reuniões sociais de até dez pessoas. Pequenos negócios, igrejas, museus e terraços de bares e restaurantes podem reabrir com capacidade limitada.

Madri e Barcelona, as cidades mais atingidas pela pandemia, não conseguiram entrar nessa nova fase, que deve durar até o fim de junho. A passagem de uma fase para a outra em cada região depende da evolução da epidemia e de mostrar que seu sistema de saúde é capaz de responder a uma nova onda de contágios. 

França

Após um mês e meio, as escolas francesas foram abertas nesta segunda-feira, quando professores voltaram as atividades e prepararam o retorno dos alunos de creches e do primário. A previsão do governo francês é que os estudantes do ensino médio voltem antes do fim do mês, mas isso dependerá da taxa de contaminação de suas regiões nas próximas semanas.

Itália

Na Itália, um dos países mais afetados pela pandemia, o relaxamento das medidas de isolamento social impostas foi feito no dia 4 de maio, mais de dois meses após o início da quarentena. O governo anunciará novas diretrizes, com base nos dados de monitoramento sobre a curva de contágio e nos critérios definidos pelo Ministério da Saúde para a reabertura dos estabelecimentos. A reabertura do comércio varejista, bares, restaurantes e salões de cabeleireiros deve ocorrer a partir do dia 18 de maio.  As escolas permanecerão fechadas até setembro, quando começará o próximo ano letivo. 

Parâmetros para flexibilizar isolamento

Requisitos a serem atendidos para afrouxar o distanciamento social, segundo OMS


1 - A transmissão da Covid-19 deve estar controlada;

2 - O sistema de saúde deve ser capaz de detectar, testar, isolar e tratar todos os casos, além de rastrear todos os contatos;

3 - Os riscos de surtos devem estar minimizados em condições especiais, como instalações de saúde e asilos;

4 - Medidas preventivas devem ser adotadas em locais de trabalho, escolas e outros lugares onde seja essencial as pessoas irem;

5 - Os riscos de importação devem ser administrados;

6 - As comunidades devem estar completamente educadas, engajadas e empoderadas para se ajustarem à nova norma.


Diretrizes para auxiliar na decisão sobre distanciamento social, segundo o Ministério da Saúde


Conforme documento da pasta, é de responsabilidade da autoridade de saúde local a tomada de decisão sobre a adoção ou flexibilização medidas não farmacológicas.


- Contexto epidemiológico (diminuição de casos e óbitos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e Covid-19 por 14 dias)

- Capacidade instalada (leitos de UTI e clínicos suficientes para atender casos de SRAG pelos 14 dias seguintes, em caso de aumento)

- Mobilidade urbana

- Capacidade de informação em tempo real e comunicação

 

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