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Dia Nacional do Técnico e Auxiliar de Enfermagem: profissionais falam sobre vocação e o cotidiano na pandemia
Reportagem

Dia Nacional do Técnico e Auxiliar de Enfermagem: profissionais falam sobre vocação e o cotidiano na pandemia

Dia Nacional
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Foto: Kaio Machado/Divulgação "No começo da pandemia, tivemos profissionais que foram a óbito, e teve momentos que eu chorei muito pelos meus amigos. Foi difícil, mas não podemos fugir da batalha. Não é fácil, não somos heróis, somos iguais a todo mundo, temos medo também." Denise Maria Santos da Silva, 53

No último domingo, 17, a técnica de enfermagem Fátima Regina Rodrigues Mota, 51, voltou à rotina no Hospital Central de Fortaleza (HCF). Ela tinha acabado de cumprir o período de isolamento necessário para quem tem Covid-19. No momento sem poder distribuir os abraços de que tanto gosta, ela diz encontrar no sorriso dos pacientes e no agradecimento que recebe na alta hospitalar a motivação para o trabalho.
Fátima é uma dos 1.382 técnicos ou auxiliares de enfermagem do Ceará que contraíram a doença, segundo o IntegraSus, plataforma da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa), até a noite de ontem, 19. São os mais afetados entre os profissionais de saúde, representando 30,21% do total. Seja no atual momento de combate ao coronavírus, seja na rotina que existia antes dele surgir, são esses profissionais que estão mais próximos dos pacientes.
Hoje, 20 de maio, comemora-se o Dia Nacional do Técnico e Auxiliar de Enfermagem, em alusão ao aniversário de morte da enfermeira Ana Néri, que atuou na Guerra do Paraguai. A data, segundo Ana Paula Brandão, presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Ceará (Coren-CE), celebra a importância deles para a recuperação da saúde “das pessoas que mais precisam”, não apenas em meio à pandemia.
“Eles são profissionais que estão ao lado do paciente, que se preocupam e observam todo o processo de recuperação. Tudo que o paciente necessita no momento de internação passa pela mão do auxiliar e do técnico de enfermagem que está prestando assistência”, afirma. No contexto de combate à Covid-19, em que as pessoas internadas não podem ter os familiares por perto, os profissionais tornam-se quase uma família.
“Acabamos sendo o parente mais próximo”, afirma Cátia Gomes da Silva, 32, técnica de enfermagem do Hospital Regional da Unimed (HRU) e estudante de Fisioterapia. Ela, que sempre gostou dessa proximidade, percebe agora que essa é realmente a profissão que quer seguir. Com atuação na área desde 2012, Cátia percebe que, nesse contexto de pandemia, a categoria está tornando-se mais unida.
Com formação também de auxiliar de Enfermagem, a técnica do Instituto Dr. José Frota (IJF), Denise Maria Santos da Silva, 53, trabalha na área há 27 anos. Como já teve câncer de mama, ela deixou o atendimento na assistência direta aos pacientes com Covid-19 e foi para o setor onde são montados kits de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para os próprios profissionais do hospital. A mudança foi motivada pelo receio de se contaminar e infectar a mãe, que tem Alzheimer, e os filhos.
Marta Brandão, presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos em Serviços de Saúde no Estado do Ceará (Sindsaúde Ceará), chama atenção para a luta das entidades pela aprovação do piso salarial e a regulamentação da jornada de trabalho. “Esse momento em que estamos vivendo vai permitir que, quando sairmos dessa situação, possamos olhar para esses trabalhadores com o valor que eles têm. Olhar para o valor do SUS (Sistema Único de Saúde).”

Fátima Regina Rodrigues Mota, 51, técnica de enfermagem do Hospital Central de Fortaleza (HCF)
Fátima Regina Rodrigues Mota, 51, técnica de enfermagem do Hospital Central de Fortaleza (HCF)

Fátima Regina Rodrigues Mota, 51, técnica de enfermagem do Hospital Central de Fortaleza (HCF)

“Quando meu pai faleceu, prometi para mim mesma que eu salvaria vidas. Senti que naquele momento eu teria uma missão: salvar vidas, amenizar dores. E isso fez com que eu criasse gosto.”

Denise Maria Santos da Silva, 53, técnica de enfermagem do Instituto Dr. José Frota (IJF)
Denise Maria Santos da Silva, 53, técnica de enfermagem do Instituto Dr. José Frota (IJF)

Denise Maria Santos da Silva, 53, técnica de enfermagem do Instituto Dr. José Frota (IJF)

“No começo da pandemia, tivemos profissionais que foram a óbito, e teve momentos que eu chorei muito pelos meus amigos. Foi difícil, mas sabemos que temos que estar ali e não podemos fugir da batalha. Não é fácil, não somos heróis, somos iguais a todo mundo, temos medo também.”

Cátia Gomes da Silva, 32, técnica de enfermagem do Hospital Regional da Unimed (HRU)
Cátia Gomes da Silva, 32, técnica de enfermagem do Hospital Regional da Unimed (HRU)

Cátia Gomes da Silva, 32, técnica de enfermagem do Hospital Regional da Unimed (HRU)

“Tudo é muito novo para nós, às vezes apresentamos medo de levar para casa, para os nossos parentes. Tem a insegurança. Mas em nenhum momento a gente deixa de exercer nossa profissão com amor e dedicação para prestar atendimento ao paciente que está precisando tanto da nossa ajuda.”

Ana Paula Brandão, presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Ceará (Coren-CE)

“Nesse momento de pandemia, a atividade de auxiliar e técnico de Enfermagem torna-se mais grandiosa ainda, porque exige que esse profissional desprenda-se de todo e qualquer outro tipo de sentimento, inclusive o medo e a insegurança, para prestar a melhor assistência.”

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