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Média de isolamento é de 50%;7 bairros estão com mais de 70%
Reportagem

Média de isolamento é de 50%;7 bairros estão com mais de 70%

Em bairros da periferia, o índice de isolamento é acentuadamente mais baixo. Queda de demanda no transporte público em Fortaleza é a maior entre as capitais
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Vista aérea do Meireles, bairro com o maior número de casos de Covid-19 em Fortaleza (FCO FONTENELE /O POVO) (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Vista aérea do Meireles, bairro com o maior número de casos de Covid-19 em Fortaleza (FCO FONTENELE /O POVO)

Duas semanas após o início do lockdown (bloqueio total e obrigatório) em Fortaleza como estratégia de combate à disseminação da Covid-19, a média de redução no volume de tráfego é de 50%. Contudo, apenas sete bairros conquistaram o percentual de 70% pretendido pelo Governo do Estado. Os dados são da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC).

De acordo com levantamento do aplicativo Moovit, a queda na demanda por transporte público na Capital chegou a 78,5% na última quarta-feira, 20. Segundo a pesquisa, Fortaleza foi a capital com maior redução de transporte público, desde o início da pandemia. Dados da plataforma indicam que a redução teve início no dia 20 de março, primeiro dia de vigência do isolamento social no Estado, com redução de 3,5%. A queda se acentua chegando, em dez dias, a uma redução de 70%.

Os bairros Luciano Cavalcante (85%), Passaré (82%), Cocó (76%), Salinas (73%), Jardim das Oliveiras (71%), São João do Tauape (71%) e de Lourdes (71%) superaram a meta de isolamento de acordo com o levantamento da AMC. Por outro lado, Vila Peri (16%), Bom Jardim (24%), Canindezinho (27%), Bonsucesso (27%), Padre Andrade (29%) e Parque dois Irmãos (30%) registraram as menores taxas de adesão. Os dados são da última quinta-feira, 21, em comparação ao fluxo da última quinta-feira anterior ao decreto de isolamento.

"No primeiro dia do isolamento rígido, teve uma redução de 60%. Agora está em torno de 50%. Com o tempo passando, as pessoas vão tendo que se deslocar nesse espaço de tempo para necessidades essenciais", explicou Arcelino Lima, superintendente da AMC. Além da diferença socioeconômica das regiões, ele cita a ocupação do solo como razão para a discrepância. "Possivelmente, em áreas com menores índices concentram muitas atividades essenciais como bancos, lotéricas, supermercados. Áreas mais residenciais têm uma redução maior", diz.

"São vários motivos. Ficou muito claro desde o início que uma parte da população não consegue fazer isolamento por motivo de trabalho", destaca Danyelle Nilin, professora do Laboratório de Estudos em Política, Educação e Cidade (Lepec) da Universidade Federal do Ceará (UFC). Conforme pesquisa do laboratório, em 53% das famílias, alguém de casa sai para trabalhar. As principais atividades são em hospitais e clínicas médicas, supermercados e mercadinhos, trabalhos em casa de família e em condomínios. "Alguns não são serviços essenciais, mas fazem parte da cultura e as pessoas não abriram mão. Eles migram da periferia para os bairros nobres", pontua.

Conforme a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), durante o isolamento rígido, observou-se média de redução de cerca de 80%, nos últimos cinco dias úteis, chegando ao índice de 81,4% de usuários em relação a um dia útil típico. "Para favorecer o distanciamento social, a frota ofertada tem variado entre 40 e 45% de um dia útil no período de isolamento social rígido, com a inclusão de ônibus extra nas linhas que apresentam maior demanda, de maneira a complementar, especialmente nos terminais Parangaba e Siqueira", informou a Etufor, por meio de nota.

 

Blitzes passam a focar em bairros que concentram casos recentes

Para o veículo, pergunta o motivo da locomoção, analisa documentação que comprove, verifica o uso de máscara e manda seguir. Era assim a abordagem policial para fiscalização dos decretos estadual e municipal de isolamento social rígido, na noite de ontem, na avenida Pompílio Gomes, no Barroso. A ação, no dia em que Fortaleza completou 15 dias de lockdown, marcou o início de uma nova estratégia da Secretária da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) que deverá concentrar policiamento e focar em pontos específicos.

"Realinhamos a estratégia. A gente verifica alguns bairros que a gente possa concentrar mais o efetivo, e são bairros que têm tido maior incidência de casos recentes e também de óbitos, e que concentram o maior volume de ligações pro 190 por reclamações de aglomerações e comércios não essenciais aberto", explica o titular da SSPDS, André Costa.

Além da blitz aos veículos, cinco equipes de agentes em motos circulam pelo bairro procurando ativamente casos de descumprimento do decreto. Além do Barroso, o bairro Álvaro Weyne também recebeu fiscalização. O secretário indica que bairros como Planalto Ayrton Senna, Canidezinho, Vicente Pinzon e Mucuripe também serão fiscalizados.

André Costa ainda detalhou que até a manhã de ontem 112 mil veículos e 222 mil pessoas foram vistoriados em barreiras da Polícia, e 64 pessoas foram presas por descumprir o decreto - 25 delas em um princípio de carreata. Outros casos de prisão foram por aglomerações que se repetem em pontos e comerciantes reincidentes na abertura dos estabelecimentos. Mesmo sem atingir os 70% de isolamento indicados, o secretário acredita que o balanço até então é positivo.

As blitzes são vistas com bons olhos pelo entregador de comida por aplicativo Francisco Tavares Neto, 32. De folga ontem, foi comprar e entregar medicação à vizinha da sua sogra e foi abordado na barreira policial. "Passo por muitas na Cidade (no serviço de entrega), e é bom, porque tanto serve pra fiscalizar isso da doença como para deixar o bairro mais seguro", disse. (Domitila Andrade)

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