Logo O POVO+
Estado não recomenda uso rotineiro de cloroquina, mas prescrição não é proibida
Reportagem

Estado não recomenda uso rotineiro de cloroquina, mas prescrição não é proibida

Protocolo inclui outros tratamentos no SUS, como remédios para diminuir inflamação ou prevenir coágulos. Médicos podem prescrever os antimaláricos caso julguem apropriado
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
PESQUISA EVIDENCIA que o lockdown reduziu a disseminação do vírus em Fortaleza, evitando colapso do sistema de saúde (Foto: Aurelio Alves/O POVO)
Foto: Aurelio Alves/O POVO PESQUISA EVIDENCIA que o lockdown reduziu a disseminação do vírus em Fortaleza, evitando colapso do sistema de saúde

Após estudo publicado na revista científica The Lancet apontar efeitos colaterais do uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, a Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa) publicou nota técnica, na última segunda-feira, 25, em que não recomenda a prescrição rotineira do medicamento, assim como da cloroquina, para pacientes hospitalizados. O pneumologista e intensivista Marcelo Alcantara, superintendente da Escola de Saúde Pública do Ceará Paulo Marcelo Martins Rodrigues (ESP), explica que outros medicamentos são utilizados no Sistema Único de Saúde (SUS).

"Dizer que não tem tratamento para a Covid-19 é um equívoco. Até o momento, as pesquisas não apontam uma droga eficaz, específica para o vírus, porém, há tratamentos a serem feitos, que são realizados e são importantíssimos", afirma o médico. O guia de manejo clínico de pacientes com Covid-19 faz divisão em quatro estágios: casa (autoavaliação); atendimento médico em Unidades de Atenção Primária à Saúde (UAPS), Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e emergências hospitalares; internação hospitalar; e Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Em cada estágio, documentos da Sesa indicam os fatores que devem ser avaliados e as medidas a serem adotadas, como oferta de oxigênio e administração de antibióticos e terapia antiviral para influenza, assim como administração de corticoterapia e anticoagulação.

Quanto à cloroquina e à hidroxicloroquina, Alcantara afirma que, pelos possíveis efeitos colaterais e pela comprovação de eficácia, a Secretaria resolveu não recomendar a prescrição dos medicamentos para os pacientes em geral. "Não proibimos, claro, nenhum médico de decidir pela prescrição de hidroxicloroquina ou cloroquina, se achar que, para aquele paciente em particular, pode ter algum benefício", afirma.

Em nota técnica anterior, a pasta estadual havia informado que os remédios poderiam ter benefícios no tratamento de pacientes infectados pelo coronavírus. O Ministério da Saúde, por sua vez, recomenda o tratamento precoce com os dois fármacos.

No Ceará, operadoras de planos de saúde começaram a ofertar cloroquina aos beneficiários. É o caso da Unimed Fortaleza, que continua viabilizando a distribuição do remédio, assim como do antiparasitário ivermectina. Para ter acesso aos medicamentos, é necessário receituário médico de controle especial com validade de dez dias da data da prescrição, termo de consentimento assinado pelo paciente, cartão da Unimed e documento oficial com foto.

"A nota técnica não recomenda a prescrição rotineira de antimaláricos, mas refere que não cabe ao estado constranger a prescrição médica em relação a esses medicamentos. Não havendo estudos robustos que comprovem a eficácia ou a ineficácia da medicação, a Unimed Fortaleza continua respeitando a autonomia dos médicos prescritores que definem individualmente o tratamento dos pacientes sob sua responsabilidade de acompanhamento", afirmou a empresa, por meio da assessoria de imprensa.

Nos casos em que a cloroquina é administrada, a cooperativa afirma recomendar e disponibilizar a realização de eletrocardiograma (ECG) prévio e durante o uso da medicação, acompanhamento por telemonitoramento e, se necessário, avaliação com cardiologista e realização de exames laboratoriais. O POVO entrou em contato com o Hapvida, que também indica o uso cloroquina no tratamento dos pacientes conveniados, mas não teve retorno até a publicação desta matéria.

O estudo observacional publicado na The Lancet foi conduzido em 671 hospitais em seis continentes e contou com cerca de 96 mil pacientes. Com base na pesquisa, que aponta que os medicamentos podem causar efeitos colaterais graves e aumentar o risco de morte, a Organização Mundial da Saúde (OMS) suspendeu os testes com a hidroxicloroquina no ensaio clínico Solidariedade (Solidarity Trial, em inglês), que estava sendo realizado em mais de 400 hospitais em 35 países, incluindo o Brasil. Cientistas de diversos países têm pedido acesso aos dados utilizados no estudo da The Lancet. (Com agências)

 

O que você achou desse conteúdo?