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Epidemiologistas do Comitê Científico do Nordeste temem reabertura antes de duas semanas de estabilidade
Reportagem

Epidemiologistas do Comitê Científico do Nordeste temem reabertura antes de duas semanas de estabilidade

Relatório produzido pelo subcomitê de epidemiologia do Comitê Científico de Combate ao Coronavírus, ligado ao Consórcio Nordeste, propõe ações que devem ser consideradas antes da reabertura econômica
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MOVIMENTAÇÃO de passageiros no Terminal do Papicu no primeiro dia da fase de transição do isolamento social (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE MOVIMENTAÇÃO de passageiros no Terminal do Papicu no primeiro dia da fase de transição do isolamento social

Alguns índices apontados pelo governo do Ceará devem estar mais claros antes da reabertura econômica, como a redução dos números de novos casos e de óbitos, assim como a taxa de transmissão do coronavírus. O Estado tem apontado uma melhora nesses indicadores, mas a redução deve ser registrada por 14 dias seguidos para se ter uma estabilidade. Isso é o que defende um relatório elaborado pelo subcomitê de epidemiologia do Comitê Científico do Consórcio Nordeste voltado para todos os estados nordestinos. Documento ainda será apresentado para o Comitê geral.

A epidemiologista Lígia Kerr, professora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e uma das autoras do relatório, explica que uma das recomendações para o relaxamento do distanciamento social é que a taxa de transmissão — o chamado R0 — esteja abaixo de 1 por 14 dias. "Isso tudo para termos certeza de que não estamos vendo uma coisa errada", afirma. O R0 diz respeito ao número de pessoas que cada paciente com o novo coronavírus contamina. Enquanto o governo aponta taxa de transmissão de 0,85, o modelo utilizado pelo Comitê Científico identificou o mínimo de 0,96.

"De fato estava abaixo de 1, mas não por 14 dias. Se olhar nosso gráfico, (verá que ele) baixa e sobe, não é estável", afirma a pesquisadora. Outro ponto destacado pela professora entre as orientações do Comitê é a taxa de ocupação de Unidades de Terapia Intensiva (UTI). A sugestão é de que o relaxamento seja iniciado com 30% dos leitos livres. "Eles estão trabalhando com 20%. E tem estados no Brasil trabalhando com 95% dos leitos ocupados", aponta. A professora, porém, pontua que o Ceará tem sido reconhecido pelas medidas de prevenção adotadas.

De acordo com os dados publicados no IntegraSUS, plataforma da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) às 20h03min de ontem, 5, a taxa de ocupação das UTIs no Estado é de 77,35%. Na Capital, o índice é de 73,08%. Ainda de acordo com a plataforma, com dados das 17h11min de ontem, o Estado chegou aos 62.176 casos confirmados de Covid-19, 3.552 novos registros em relação às 14h10min do dia anterior.

Em relação aos óbitos, foram 164 novos registros, chegando às 3.907 mortes. Os novos casos e novos óbitos são noticiados de acordo com a data de confirmação, mediante o resultado dos exames. Não significa, portanto, que as mortes tenham ocorrido nessa data.

Na noite de ontem, 5, a Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza (SMS) divulgou novo boletim epidemiológico. O informe indica que o pico dos casos na Capital pode ter sido atingido entre 19 de abril e 9 de maio. Já a maior mortalidade teria acontecido entre os dias 3 e 16 de maio. Os números estão sujeitos à entrada de novos registros no sistema.

Ponto importante do relatório do Comitê Científico do Consórcio Nordeste para a Covid-19, segundo a epidemiologista, é a necessidade de participação da comunidade para a adesão às medidas propostas pelos governos. "(A comunidade) tem muito menos chance de executar as medidas se não entende. O nosso palavreado pode estar complexo, eles podem não ter condições de fazer aquilo porque não têm sabão, não têm álcool, não têm máscara", exemplifica.

Entre outras questões abordadas no documento estão a fiscalização da adoção de medidas preventivas em empresas e a proposta de os estados nordestinos pensarem em soluções para promover o isolamento social de pessoas com Covid-19 e sem possibilidade de se manter em quarentena nas próprias casas.

 

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