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Acesso ao crédito durante a pandemia
Reportagem

Acesso ao crédito durante a pandemia

A economista Darla Lopes diz existe um gap temporal entre as medidas divulgadas e sua real efetivação
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Tipo Notícia
Darla Lopes, integrante do Conselho Regional de Economia (Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)
Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal Darla Lopes, integrante do Conselho Regional de Economia

É incontestável o atual momento global, iniciado pela crise no setor de saúde que rapidamente se estendeu a economia. O isolamento social, principal medida adotada para evitar a proliferação da Covid-19, vem sendo apresentado como “vilão” no que diz respeito a manutenção da saúde econômica mundial. Obviamente, é necessário observar que especialistas da área de saúde, afirmam categoricamente que não podemos “fugir” da quarentena.

O governo, a seu modo e velocidade, vem apresentando medidas a fim de amenizar as consequências monetárias vivenciadas pelos agentes econômicos, pessoas físicas e jurídicas, em função do lockdown horizontal. Entretanto, existe um gap temporal entre as medidas divulgadas e sua real efetivação.

Alguns aspectos devem ser observados, o primeiro deles é o caráter de urgência e o possível não preparo das equipes e sistema/tecnologia necessário para implantar e liberar os novos produtos e serviços. Adicionalmente as instituições apresentaram uma redução no horário de atendimento e quadro de colaboradores.

Superando essas barreiras e conseguindo atendimento, um segundo ponto referente ao entrave no acesso ao crédito bancário é a situação cadastral das pessoas jurídicas, não obstante as empresas possuem o péssimo hábito de manter seus controles contábeis/financeiros atrasados e ou desorganizados, reduzindo a celeridade do processo.

No que tange a avaliação do risco de crédito, teoricamente segue-se a metodologia geral considerando: o caráter do emissor, capacidade de pagar (avaliação de geração futura de crédito), capital (avaliação de fontes alternativas), colateral (avaliação da garantia específica da operação) e covenants que trata dos deveres do tomador na operação, pois vão além do repagamento da dívida.

Em virtude da forte incerteza do cenário econômico atual, as avaliações tendem a ser mais rígidas, do tipo top-down: inicialmente estimando os rumos da economia e especificamente do setor em que a empresa atua. Em segundo momento, analisando a competitividade do setor, novos entrantes e tecnologias que podem modificar o mercado e finalmente uma análise interna dos dados de governança corporativa.

Esse “excesso” de zelo quanto a avaliação de crédito, garantias e baixa capilaridade impactam negativamente as pequenas e médias empresas, que somam em média quatro milhões de CNPJs. Não havia um planejamento de fechar as portas, tampouco uma redução repentina no faturamento, dessa forma o fluxo de caixa das empresas foi brutalmente afetado, ficando claro que a principal necessidade nesse momento é crédito rápido, com baixas taxas e longo prazo.

Destarte a atuação dos bancos públicos federais, como instituições de fomento, abrangem as especificações de baixas taxas e longo prazo, pois estão associados à gestão de fundos de natureza parafiscal, que possibilitam fontes estáveis de recursos de baixo custo, tais como o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) administrado pelo BNDES e o Fundo Constitucional de Financiamento para o Nordeste (FNE), é gerido pelo BNB. Os principais bancos privados também têm a missão de flexibilizar crédito, sustentando determinada exposição em contrapartida as ações anunciadas pelo Governo.

Além das opções convencionais dos bancos vale ressaltar a relevância dos Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios, que possuem regras operacionais transparentes e estrutura legal robusta, com forte participação de diferentes agentes econômicos. As principais vantagens são: maior rapidez na negociação, taxas competitivas, sem reciprocidade (evita adesão de produtos e serviços para manter um bom relacionamento), segurança, isenção de IOF e operações customizadas.

Em resumo, a maioria das empresas vem enfrentando dificuldade ímpar relacionada a tomada de crédito, tanto em relação as questões internas e externas. Cabe, prioritariamente, traçar um plano com mapa de risco financeiro contemplando curto, médio e longo prazo, com ajustes sistemáticos.

Darla Lopes
Economista e executiva-financeira da SGS Investimentos e Aveiro Consultoria

 


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