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Crônica: A melhor seleção que eu nunca vou ver
Reportagem

Crônica: A melhor seleção que eu nunca vou ver

| Crônica| Os ensinamentos de uma conversa com Jairzinho, o "Furacão de 70" e artilheiro do Brasil na Copa
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JAIRZINHO comemora gol na Copa de 1970
 (Foto: ARQUIVO/AE)
Foto: ARQUIVO/AE JAIRZINHO comemora gol na Copa de 1970

Atende Jairzinho, 75 anos, o Furacão da Copa de 1970, único futebolista a marcar gols em todos os jogos de uma edição do mundial e ser campeão. Era 18 horas de uma quinta-feira, véspera do Dia dos Namorados, em plena pandemia do novo coronavírus.

O assunto a ser tratado: os 50 anos da conquista do Tri. Liguei despretensiosamente depois de pegar o contato com um colega de redação, que alertou: "vê se é esse ainda".

Na segunda ligação, Jairzinho atendeu direto do Rio de Janeiro. Apresentei-me e expliquei o motivo do contato. Adiantei que seria breve. A voz grave e arrastada do outro lado da linha me questiona:

"Ô Lucas Mota, do jornal O POVO, é rápido quanto tempo?", pergunta Jairzinho, que celebrava naquele início de noite os 50 anos da conquista mundial. "15 minutos", respondi.

Antes de começar a entrevista, o ex-parceiro de ataque de Pelé me faz outra pergunta. "Me diz aí quem é o jogador mais rápido da tua terra?". Pareceu um teste de conhecimento para o papo seguir.

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Titubeei, mas respondi o primeiro nome que me veio a cabeça, já projetando que a resposta estava errada. "É o Rinaldo, Jairzinho. Ele tem o apelido de 'Homem-Raio, jogou no Fortaleza nos anos 2000'."

A resposta não agradou o tricampeão, que pareceu perdido com minha afirmação e quis saber minha idade. "28", disse um pouco envergonhado. Mas ainda assim Jairzinho me deu sinal positivo para iniciar a entrevista.

"Muitos dizem que a seleção brasileira campeã de 1970 é o melhor time de todos os tempos. Gostaria de saber o que você acha?". Não deu nem tempo de terminar a pergunta. O "Furacão" bateu de primeira, um tanto contrariado.

"Muitos? Vocês colocam na boca dos outros. Porra, é a melhor seleção de todos os tempos, sim. Essa é a verdade. É a única com cinco camisas 10. E foi bem sucedida."

No banco, a seleção era comandada pelo técnico Zagallo, a quem Jairzinho exalta e recorda de uma conversa na preparação para a Copa. "O Rogério (atacante) se machucou e não podia mais participar da competição. Zagallo chegou em mim e disse: 'Jair, eu não vou convocar ninguém para a posição porque tenho confiança total em você'. Ele me deu credibilidade e me deixou muito à vontade. Fui o único a ter feito gols em todos os jogos e ser campeão do mundo."

Depois de 15 minutos com o artilheiro do Brasil na Copa de 1970, nos quais relembramos a campanha da seleção, agradeço ao ex-jogador pela entrevista e lamento ter nascido em 1992 e não ter acompanhado aquele escrete.

"Lamento por você ter perdido o melhor futebol brasileiro de todos os tempos. E não vai ver mais nenhuma seleção igual", se despediu Jairzinho.

 

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