O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Brasil (Abrasel), Paulo Solmucci, estima prejuízos R$ 50 bilhões durante a pandemia em todo o País. Ao O POVO, ele avaliou as medidas adotadas no Ceará, como está sendo o retorno e as perspectivas para o setor ainda este ano. Leia entrevista:

O POVO - Quantos estabelecimentos já retornaram em todo o País?
Paulo Solmucci - Em torno de 50% dos estabelecimentos já de portas abertas novamente, mas em alguns locais, como estado de São Paulo e a cidade de Belo Horizonte, a situação é muito crítica, pois não há clareza de quando haverá a retomada para o setor.

OP - Já é possível dizer quantos fecharam as portas de vez em razão da pandemia no Brasil?
Solmucci - Infelizmente, na maior parte das cidades, um em cada quatro (25%) estabelecimentos já fechou as portas em definitivo. Em cidades onde ainda não houve a reabertura, esse índice será ainda mais alto.

OP - Qual o papel do delivery nesse cenário?
Solmucci - O delivery e o takeaway (preparo de refeições que são levadas e consumidas em outro local) eram tendências que já estavam em crescimento antes da pandemia, o que aconteceu foi uma aceleração desse movimento em função das restrições de atendimento impostas. A maioria dos estabelecimentos que adotou o delivery nesse período deve continuar operando essa modalidade.

OP - De quanto foi o prejuízo nesses meses?
Solmucci - O setor de bares e restaurantes foi (e está sendo), sem dúvidas, um dos mais afetados por essa pandemia. Antes da Covid-19, o cenário já estava complicado. Havia um ensaio de retomada da crise que assolou o setor em 2015 e fomos novamente atingidos duramente por outra crise, dessa vez, sem precedentes. Fora as casas que fecharam em definitivo, como falei anteriormente, há uma queda de faturamento em torno de 80% naquelas que continuaram operando. É uma situação que nunca vivemos e o prejuízo deve ser da ordem de R$ 50 bilhões.

OP - Qual a previsão para recuperar esses prejuízos?
Solmucci - O cenário mais otimista é que uma recuperação, muito lenta, deve ter início no final do ano. Para alguns segmentos, como casas de show, buffets e boates, isso vai levar mais tempo ainda.

OP - Qual a expectativa do setor para o retorno total das atividades?
Solmucci - O setor está sendo forçado a se tornar mais produtivo, com equipes e processos mais enxutos, a tendência é tornar as operações mais simples. Alguns hábitos adotados durante a pandemia também devem perdurar, como fazer reserva nos estabelecimentos, pedir delivery, fazer pagamentos com contato mínimo etc. A expectativa é que o movimento de reabertura siga o que estamos vendo em outros países, com os clientes buscando seus bares e restaurantes preferidos. São lugares de encontro, do compartilhamento, da alegria e sempre tiveram uma ligação afetiva com as pessoas. Queremos também uma ajuda das prefeituras para usar mais espaços ao ar livre, como colocar mesas nas calçadas onde for possível, com isenção das taxas nesse período de retomada. Será uma importante forma de apoiar o setor.

OP - Como o senhor avalia as medidas de biossegurança adotadas no Ceará?

Solmucci - Os critérios são bem rígidos, mas, no momento, necessários para permitir a reabertura. Fomos consultados pelo governo e o protocolo foi construído com nosso apoio. Nossa expectativa é que possamos revisitar alguns desses pontos a medida em que avançarmos na retomada.

OP - Qual é maior desafio para o setor neste momento?
Solmucci - Ganhar a confiança do consumidor e buscar recursos para superar os próximos meses quando ainda deveremos operar com prejuízos.