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1,2 milhão de cearenses não conseguiram procurar emprego na pandemia, diz pesquisa IBGE
Reportagem

1,2 milhão de cearenses não conseguiram procurar emprego na pandemia, diz pesquisa IBGE

Além dos que ficaram no isolamento mesmo desempregados, outros 289 mil que buscaram ocupação não encontraram. Em maio, apenas 41,6% das pessoas em idade produtiva estavam ocupadas
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PANDEMIA impacta no fechamento de negócios  (Foto: Aurelio Alves/O POVO)
Foto: Aurelio Alves/O POVO PANDEMIA impacta no fechamento de negócios

Mais de 1,2 milhão de cearenses não conseguiu procurar emprego em maio por causa da pandemia de Covid-19. Outros 289 mil até saíram para procurar, mas não encontraram. O levantamento especial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi realizado com apoio do Ministério da Saúde e mostra as barreiras de conseguir vaga na crise.

O contingente de pessoas desocupadas somou 10,1 milhões no Brasil. A taxa de desocupação atingiu 10,7% no mês. A pesquisa revela que desocupação e informalidade são maiores nas regiões Norte e Nordeste, entre as mulheres e as pessoas pretas ou pardas. Total de 9,7 milhões de trabalhadores ficaram sem renda no mês passado.

Além disso, durante o mês de maio 1,3 milhão de trabalhadores atuaram na informalidade, mais 1,9 milhão ocupados e não afastados do trabalho. Um total de 986 mil pessoas ocupadas foram afastadas do trabalho, devido ao distanciamento social.

De acordo com o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre), Daniel Duque, a pandemia trouxe mudanças muito significativas para o mercado de trabalho, tanto de afastamento quanto o teletrabalho. E os dados são "extremamente alarmantes".

"A pesquisa mostra que a precarização do mercado de trabalho foi gigantesca e vai demorar muito para que possamos recuperar minimamente o que se perdeu", explica. Daniel comenta que, apesar de queda média nos rendimentos dos trabalhadores, a incidência de pobreza caiu por causa do auxílio emergencial.

Segundo o levantamento, no Brasil, 38,7% dos domicílios receberam algum auxílio relacionado à pandemia. O valor médio recebido foi de R$ 847. Entre os benefícios, estão o Auxílio Emergencial e a complementação do Governo pelo Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda.

Erle Mesquita, analista de Mercado de Trabalho do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho do Ceará (IDT-CE), diz que neste período pós-pandemia, precisam ser implementados planos e políticas públicas de promoção do trabalho e uma renda mínima.

"Existe um contexto de precarização crescente que se intensificou na pandemia. Então é preciso pensar como reinserir esses trabalhadores no mercado de trabalho, com treinamento da mão de obra. Também políticas de assistência social, pois é mais evidente que parcela de pessoas empurradas ao desemprego nesta crise não deve retornar logo às atividades", complementa.

Para o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef-CE), Ênio Arêa Leão, a pandemia gerou um efeito atípico na economia, impactando especialmente o mercado de trabalho.

"A grande interrogação é de como será a retomada para as empresas. Resta saber se as empresas vão manter o quadro de funcionários semelhante ao período anterior ao da pandemia a partir de agora. Acredito que devem demitir parte", afirma.

Os dados apontam que a média semanal de horas efetivamente trabalhadas caiu de uma média de 39,6 horas para 27,4 horas. No entanto, para 2,4 milhões de trabalhadores brasileiros, ou 3,6% das pessoas ocupadas e não afastadas, a média de horas aumentou. No Ceará, 306 mil pessoas trabalharam em maio de forma remota e, do total de ocupados, 625 mil afirmaram trabalhar menos do que o habitual, enquanto outros 66 mil afirmaram o contrário.

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mercado de trabalho na pandemia
Foto: luciana pimenta
mercado de trabalho na pandemia

Fortaleza em 24 de junho de 2020, Ana Karine Pereira, é universitária e conseguiu um bico, informal, como professora de reforço escolar para uma família. ( Foto Arquivo Pessoal)
Fortaleza em 24 de junho de 2020, Ana Karine Pereira, é universitária e conseguiu um bico, informal, como professora de reforço escolar para uma família. ( Foto Arquivo Pessoal)

Trabalho informal

Ana Karine passou quase todo o período de isolamento social desocupada até conseguir trabalho informal como professora de reforço escolar. A universitária comenta que até então a sua renda era composta pelo auxílio emergencial e uma bolsa universitária aprovados em maio. Entre março e abril, ficou completamente sem renda. "Vai fazer três anos que não trabalho fixo. Desde que fiquei desempregada em 2017. E de lá pra cá, fiquei fazendo de alguns bicos, freelancers. E, para estar trabalhando agora, foi por causa de uma indicação de uma pessoa próxima a mim".

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