Mais de 1,2 milhão de cearenses não conseguiu procurar emprego em maio por causa da pandemia de Covid-19. Outros 289 mil até saíram para procurar, mas não encontraram. O levantamento especial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi realizado com apoio do Ministério da Saúde e mostra as barreiras de conseguir vaga na crise.
O contingente de pessoas desocupadas somou 10,1 milhões no Brasil. A taxa de desocupação atingiu 10,7% no mês. A pesquisa revela que desocupação e informalidade são maiores nas regiões Norte e Nordeste, entre as mulheres e as pessoas pretas ou pardas. Total de 9,7 milhões de trabalhadores ficaram sem renda no mês passado.
Além disso, durante o mês de maio 1,3 milhão de trabalhadores atuaram na informalidade, mais 1,9 milhão ocupados e não afastados do trabalho. Um total de 986 mil pessoas ocupadas foram afastadas do trabalho, devido ao distanciamento social.
De acordo com o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre), Daniel Duque, a pandemia trouxe mudanças muito significativas para o mercado de trabalho, tanto de afastamento quanto o teletrabalho. E os dados são "extremamente alarmantes".
"A pesquisa mostra que a precarização do mercado de trabalho foi gigantesca e vai demorar muito para que possamos recuperar minimamente o que se perdeu", explica. Daniel comenta que, apesar de queda média nos rendimentos dos trabalhadores, a incidência de pobreza caiu por causa do auxílio emergencial.
Segundo o levantamento, no Brasil, 38,7% dos domicílios receberam algum auxílio relacionado à pandemia. O valor médio recebido foi de R$ 847. Entre os benefícios, estão o Auxílio Emergencial e a complementação do Governo pelo Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda.
Erle Mesquita, analista de Mercado de Trabalho do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho do Ceará (IDT-CE), diz que neste período pós-pandemia, precisam ser implementados planos e políticas públicas de promoção do trabalho e uma renda mínima.
"Existe um contexto de precarização crescente que se intensificou na pandemia. Então é preciso pensar como reinserir esses trabalhadores no mercado de trabalho, com treinamento da mão de obra. Também políticas de assistência social, pois é mais evidente que parcela de pessoas empurradas ao desemprego nesta crise não deve retornar logo às atividades", complementa.
Para o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef-CE), Ênio Arêa Leão, a pandemia gerou um efeito atípico na economia, impactando especialmente o mercado de trabalho.
"A grande interrogação é de como será a retomada para as empresas. Resta saber se as empresas vão manter o quadro de funcionários semelhante ao período anterior ao da pandemia a partir de agora. Acredito que devem demitir parte", afirma.
Os dados apontam que a média semanal de horas efetivamente trabalhadas caiu de uma média de 39,6 horas para 27,4 horas. No entanto, para 2,4 milhões de trabalhadores brasileiros, ou 3,6% das pessoas ocupadas e não afastadas, a média de horas aumentou. No Ceará, 306 mil pessoas trabalharam em maio de forma remota e, do total de ocupados, 625 mil afirmaram trabalhar menos do que o habitual, enquanto outros 66 mil afirmaram o contrário.
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Trabalho informal
Ana Karine passou quase todo o período de isolamento social desocupada até conseguir trabalho informal como professora de reforço escolar. A universitária comenta que até então a sua renda era composta pelo auxílio emergencial e uma bolsa universitária aprovados em maio. Entre março e abril, ficou completamente sem renda. "Vai fazer três anos que não trabalho fixo. Desde que fiquei desempregada em 2017. E de lá pra cá, fiquei fazendo de alguns bicos, freelancers. E, para estar trabalhando agora, foi por causa de uma indicação de uma pessoa próxima a mim".