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Ceará se aproxima de 100 mil casos de Covid-19
Reportagem

Ceará se aproxima de 100 mil casos de Covid-19

A marca deve ser atingida ainda hoje. O Estado também está próximo de alcançar 6 mil mortes pelo patógeno. A doença segue atingindo um perfil de mulheres pardas, entre 30 e 59 anos e moradoras de periferias na RMF
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O Ceará chegou aos 99.578 casos e 5.815 óbitos por Covid-19 e, pelo ritmo que a infecção tem desenvolvido, deve alcançar os 100 mil casos hoje. A marca é atingida quando o Estado completa 102 dias desde o da confirmação do primeiro paciente a contrair o patógeno, em 15 de março - o que irá perfazer uma média de cerca de 1 mil registro da doença por dia. Contudo, o número de casos pode ser de cinco a dez vezes maior.

"A gente se aproxima de 100 mil casos e de 6 mil óbitos e são números expressivos. É muito mais casos e óbitos do que em muitos países. Isso é impactante, mas há subnotificação, nós testamos muito pouco. A estimativa é que o número seja entre 500 mil e 1 milhão de casos. Ou seja, 10% da população do Estado já teria sido infectada pelo vírus", é como analisa o médico infectologista Roberto da Justa, que também é professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e membro do Coletivo Rebento. O Ceará realizou 241.282 mil testes.

Conforme o médico, ainda que os números sejam significativos, a avaliação do perfil atingido pela doença torna o cenário "vergonhoso". "Nós temos, claramente, a desigualdade, a concentração de renda determinando o que acontece com a maioria do afetados", comenta. O perfil da doença no Estado é, majoritariamente, composto de mulheres, pardas, moradoras da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e entre 30 e 59 anos.

Fortaleza (com 34.027 casos 3.212 óbitos) permanece sendo a cidade que concentra a maioria dos casos, 34%, mesmo com a recente interiorização da pandemia no Ceará. Na Capital, se a Covid-19 começou em bairros mais nobres, como Aldeota e Meireles, com casos importados, ela se espalhou de forma "devastadora" por bairros com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), como Pirambu, Barra do Ceará e Serviluz.

"Tem bairros que chegam a ter seis vezes mais casos do que foi encontrado na Aldeota, por exemplo. E isso é mais cruel quando a gente lembra que a descoberta de casos na Barra do Ceará se deu por meio de um óbito, antes mesmo de ter qualquer diagnóstico. Esse é o nosso retrato de desigualdade", analisa a epidemiologista Lígia Kerr, professora e pesquisadora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da UFC.

Com a tendência recentemente apresentada de interiorização da doença, com focos nas regiões de Sobral, no Norte, e Juazeiro do Norte, no Cariri, Lígia acredita que o perfil atingindo pela Covid-19 seguirá se agravando no sentido de atingir pessoas mais pobres. A concentração da população em más condições de habitação, insuficiência de saneamento básico, dificuldade de acesso à água para higienização das mãos, grandes concentrações urbanas que dificultam o isolamento são fatores apontados nesse agravamento da doença em regiões de baixo IDH.

Ainda que mais afetadas pela doença (53,5%), quando se analisa os óbitos, a mortalidade é menor entre as mulheres (40,8%). A questão é não completamente esclarecida, mas a razão pode estar na histórica diferença entre homens e mulheres na dedicação aos cuidados com a saúde. "Se tem mais comorbidades entre os homens, mais hipertensão, mais obesidade, mais diabetes, os homens são menos preocupados em tratar essas doenças", explica da Justa.

Para os especialistas, entre os aprendizados que se pode tirar do enfrentamento à pandemia até agora, quando se alcança essa marca, são a necessidade de ampliar a capacidade de testagem; uma política diferente de recursos humanos para profissionais de saúde, que dê mais segurança a esses profissionais; e a necessidade de se investir no Sistema Único de Saúde (SUS).

O infectologista ainda alerta que, mesmo com uma desaceleração dos casos, é preciso não desfazer as estruturas de saúde que foram montadas. "Seria precipitado, ainda existe risco de um retorno da incidência por conta da flexibilização, e a gente não pode cair no erro de fechar essa estrutura e ser pego de surpresa por uma nova onda de alta incidência de Covid-19", assevera.

 

Medidas sanitárias adotadas na entrada de Granjeiro, único município no Ceará que não registra casos de Covid-19
Medidas sanitárias adotadas na entrada de Granjeiro, único município no Ceará que não registra casos de Covid-19

Granjeiro é única cidade do CE sem registro de coronavírus

No Ceará, já se vão 102 dias desde os primeiros casos confirmados do novo coronavírus e apenas um município não foi atingido pela Covid-19. Atualmente, a preocupação recai sobre o Interior e o Cariri se destaca. A região de saúde concentra sete dos dez municípios com menos casos. Entre elas está Granjeiro, a menor cidade do Estado e a única que continua sem ser afetada pelo vírus. Com 4.844 habitantes, a localidade tinha, até a atualização da plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), às 9h46min de ontem, quatro casos em investigação. Outras 35 pessoas foram testadas e tiveram resultado negativo.

Na mesma região, Juazeiro do Norte viu, nos últimos 30 dias, os casos quase triplicaram e os óbitos quase quintuplicaram. Em 24 de maio, a cidade tinha 451 pessoas infectadas e 14 tinham falecido pelo novo coronavírus. Ontem, eram 1.290 casos e 68 mortes. O cenário levou o governo do Estado a decretar lockdown em Juazeiro. Ainda de acordo com os dados do IntegraSUS, o Cariri tem 5.588 casos e 215 mortes. A região de saúde de Fortaleza concentra 59.388 confirmações, o que representa 61% dos casos confirmados que tiveram localização identificada. Em seguida está a região de Sobral, com 22,43%. O Sertão Central tem 6%; Cariri, 5,73% e Litoral Leste/Jaguaribe, 4,84%.

Segundo a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), o Governo enviou 32.400 testes rápidos para a região do Cariri, além de 1.891.475 equipamentos de proteção individual (EPIs) e insumos hospitalares. Na região são 786 leitos, sendo 659 leitos de enfermaria e 127 leitos de tratamento intensivo exclusivos para atendimento a Covid-19. Dos leitos de UTI, 60 estão no Hospital Regional do Cariri, 30 em Barbalha, 20 em Iguatu, 10 em Icó e sete em Brejo Santo.

No País, apenas 22% das cidades não têm confirmações da Covid-19. A doença já chegou a 4.888 municípios brasileiros. Nestas cidades moram 206 milhões de pessoas, o que corresponde a 98% da população brasileira. Os dados são do projeto de transparência de dados Brasil. (Marcela Tosi)

 

Confira os 10 municípios com menos casos confirmados no Estado, além de Granjeiro:
- Granjeiro: nenhum caso
- Altaneira: 2 casos
- Ararendá: 4 casos
- Deputado Irapuan Pinheiro: 6 casos
- Aiuaba: 7 casos
- Baixio: 9 casos
- Jati: 10 casos
- Penaforte: 10 casos
- Antonina do Norte: 11 casos
- Pires Ferreira: 12 casos

Confira os 18 municípios cearenses sem registro de óbitos em decorrência da Covid-19:
- Aiuaba
- Altaneira
- Antonina do Norte
- Araripe
- Baixio
- Croatá
- Fortim
- Granjeiro
- Guaramiranga
- Ipaporanga
- Nova Olinda
- Pereiro
- Piquet Carneiro
- Pires Ferreira
- Poranga
- Potengi
- Potiretama
- Umari

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