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Entenda porque as urnas atraem cada vez mais os militares no Brasil
Reportagem

Entenda porque as urnas atraem cada vez mais os militares no Brasil

Em pelo menos sete capitais brasileiras há candidaturas projetadas para prefeituras,em 2020, de representantes do quadro de segurança pública. Governador Camilo Santana entende que é hora do assunto ser discutido no Congresso
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. (Foto: Ilustração Ítalo Furtado)
Foto: Ilustração Ítalo Furtado .

A vitória de Jair Bolsonaro (sem partido) na eleição de 2018 resultou na inserção de policiais militares e agentes das forças de segurança pública nos espaços de poder. Um total de 72 candidatos, entre militares e oficiais civis, ingressaram na Câmara dos Deputados, no Senado Federal e nas 27 assembleias legislativas. Das 517 candidaturas deferidas ao Parlamento cearense, pelo menos 15 fizeram menção já no nome de campanha, a algum estágio da carreira trilhada nas forças de segurança pública, de acordo com levantamento do O POVO.

Delegados, capitães, cabos, majores, sargentos e subtenentes usaram o apelo popular das patentes ou cargos policiais para galgar espaços na política institucional. Dois conseguiram: Delegado Cavalcante (PSL) e Soldado Noelio (Pros). A relação poderia ser maior. Mas não figuram esta listagem nomes como o do suplente de deputado Toni Brito (policial civil) e Habraão Ramos (policial militar), por exemplo, que não usam no nome político as funções desempenhadas no serviço público.

Para este ano, quando as escolhas do eleitor serão municipais, há a tendência de que o quadro se mantenha ou até mesmo se intensifique em algumas regiões, inclusive em Fortaleza. Em no mínimo oito capitais brasileiras haverá a presença de militares ou oficiais civis na corrida às prefeituras.

O mais destacado deles é o capitão da reserva da Polícia Militar do Ceará (PMCE) Wagner Sousa Gomes. Capitão Wagner (Pros) disputou eleição em 2010, mas, sem aparato que o projetasse, ficou na suplência de Fernanda Pessoa. Viria a eclodir decisivamente para a vida política entre 2011 e 2012, ao liderar movimento paredista de PMs e Bombeiros por melhores condições de trabalho.

Naquele ano foi o vereador mais votado da história de Fortaleza. Quando tentou o Paço Municipal, em 2016, perdeu para Roberto Cláudio (PDT), não sem antes ter levado o páreo ao segundo turno, etapa na qual obteve 46,43% do eleitorado. Do movimento reivindicatório deste ano, algumas lideranças envolvidas pretendem se projetar.

O ex-deputado federal Cabo Sabino (Avante), resistente às tentativas de acordo durante os dias de paralisação em 2020, quer um mandato na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor). Nina Carvalho (Republicanos), dirigente da Associação das Esposas de Policiais Militares e Bombeiros (Assepec), pleiteiará mandato na mesma Casa.

A participação destes atores na atividade político-partidária tem sido objeto de críticas recorrentes pelo governador Camilo Santana (PT), acossado pela adesão de parte das tropas à paralisação. Tanto no Roda Viva, em junho, como em conversa no YouTube com o correligionário Fernando Haddad (PT-SP), nessa quarta-feira, ele defendeu que policiais militares saiam da instituição caso queiram fazer política.

"Há uma politização das polícias, partidarização muito forte das polícias desse País. As entidades que representam os policiais, que por lei tinham papel recreativo, acabaram transformadas em sindicatos, inclusive aparelhando esses sindicatos do ponto de vista político", reclamou. Até se referiu ao adversário, sem citá-lo.

"Vou dar o exemplo aqui do Ceará. O principal candidato à Prefeitura de Fortaleza daqui é da Polícia, construiu sua carreira política dentro da Polícia. Eu não quero dizer que as pessoas não tenham direito de participar da política. Mas não pode é partidarizar uma área que a Constituição dá uma arma para você defender a população e você utilizar isso para fazer política partidária", ele argumentou.

Regras atuais para candidatos policiais
Foto: luciana pimenta
Regras atuais para candidatos policiais

Pré-candidato a prefeito de João Pessoa, o delegado de Polícia Civil Walber Virgolino usa “eles” e não o “nós” para se referir à classe política. Acredita que “se eles”, os opositores, “cumprissem o papel deles, ninguém da polícia precisaria entrar na política, não.” E emenda: “Não queria ser político, não, queria prender vagabundo, mas esse pessoal não tem compromisso com nada.”

Virgolino afirma que o mote que o conduzirá na campanha é a correção na administração pública, ou seja, a pauta anticorrupção. Ele entende que policiais representam com propriedade esta agenda. “Eles (governadores do Nordeste) tendem a querer desmoralizar, querer perseguir. ’Não pode entrar na política’. Vamos continuar no Brasil todo. A gente não tem medo desses governadores gritando com o povo, tipo esse Ciro Gomes aí...”

 

 

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