Com o celular da mãe nas mãos, o menino Gustavo Bezerra Roldão, 10, se coloca perto da porta do banheiro. É que ali, vez ou outra, o sinal da internet do vizinho chega e ele consegue assistir a um pedaço do vídeo que o professor mandou o link.
Também é daquele canto da casa, no Conjunto Ceará, que a mãe, a artesã Carla Cristina Bezerra Roldão, 38, baixa os PDFs mandados às terças-feiras no grupo na Escola Municipal Irmã Maria Evanete no WhatsApp, e envia para a lan house do bairro - aberta à meia porta, mesmo quando não podia.
É na lan house que Carla consegue um preço camarada para imprimir as atividades escolares dos filhos Gustavo e Sophia Bezerra Polinário, 7.
"Tem que ficar balançando direto o celular pra internet pegar. Dá pra ver os vídeos, mas fica pausando, isso atrapalha, eu me desconcentro, tenho que voltar, porque, quando para e volta, eu nem sei o que ele tava falando antes", conta Gustavo.
Ele é aluno da quarta série do Ensino Fundamental e tanto ele quanto Sophia tinham uma rotina de quatro horas de estudo pela manhã, que foi substituída pela resolução de tarefas por uma hora no turno da tarde, sob a supervisão da mãe.
A artesã conta da saudade que a dupla tem da escola. Sophia chegava a vestir a farda e chorar para ir à aula.
"Na escola tinha tarefinha, brinquedo, meus amiguinhos, a professora. E eu aprendia mais na escola. Quero voltar a ir. Vou chegar lá e dar abraço na professora, na tia da cantina, nos amiguinhos. Abraço não que, não pode, né? Vou dar uma palma de cotovelo", declara Sophia.
"O Gustavo é rápido, ele faz o dever dele só, o que ele não sabe ele me pergunta. A Sophia é mais difícil, porque ela ainda está aprendendo a ler e não se concentra. Além disso, são duas crianças pra assistir aos vídeos que os professores mandam e é só um celular, aí sempre complica", detalha Carla. (Domitila Andrade)