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Professores mudam rotina para alcançar estudantes
Reportagem

Professores mudam rotina para alcançar estudantes

A realidade da falta de acesso à internet, que aprofunda o drama do aprendizado de alunos carentes, também tem impacto sobre os professores. Eles se veem diante do desafio de encontrar estratégias para garantir educação nesses tempos fora da sala de aula
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EDVÂNIA Dias da Paixão, professora de Santana do Cariri, adapta conteúdo em vídeos curtos que são enviados às famílias (Foto: Lívia Sousa/Especial para O POVO)
Foto: Lívia Sousa/Especial para O POVO EDVÂNIA Dias da Paixão, professora de Santana do Cariri, adapta conteúdo em vídeos curtos que são enviados às famílias

A maneira como ensinam 2,2 milhões de professores da educação básica em todo o Brasil foi afetada diretamente com a suspensão das aulas presenciais após a chegada do novo coronavírus. Agora, com aulas remotas, os docentes se reinventam, enfrentam dificuldades para chegar a quem não tem acesso à internet, e fortalecem vínculos com pais, alunos e entre si. No Ceará, conforme o Censo Escolar de 2019, há 108 mil educadores nas escolas públicas e privadas, do Ensino Infantil ao Médio.

Na Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental José Carlos Matos, no bairro Granja Portugal, na periferia de Fortaleza, as professoras do Ensino Infantil, Louise Santana e Francisca Ferreira, aproveitaram o momento de entrega das cestas básicas dadas pela Prefeitura às famílias para atualizar o contato dos alunos. Depois disso, foi possível criar grupo com as turmas em um aplicativo de mensagens instantâneas.

"A gente compreende que os pais não têm essa responsabilidade de saber ensinar às crianças. Então, não temos atuado com tarefas físicas. Sabemos que os responsáveis têm limitações de acesso à educação, à alfabetização, ao letramento. Muitos deles não compreendem os comandos e os objetivos das atividades", pontua Louise. Ela frisa o papel fundamental da família para manter os alunos em contato com a escola.

Para evitar maior exclusão dos estudantes vulneráveis, as propostas das professoras têm sido de utilizar material de fácil acesso às famílias. Além de disponibilizar tarefas em PDF, a dupla envia áudios e vídeos para orientar o público.

No município de Santana do Cariri, distante 522,9 quilômetros de Fortaleza, Edvânia Paixão trabalha com alunos do 2º e 3º ano do Fundamental na Escola José Homem De Sousa Filho, no sítio Curitiba. Das cidades circunvizinhas, Santana foi uma das últimas a aderir ao ensino remoto, em 11 de maio. De acordo com a professora, alguns alunos vão à casa do vizinho.

"Quem não tem acesso, a gente envia o material impresso para um mês. Cada professor ficou com autonomia de trabalhar da forma mais simples possível, levando em conta o nível de escolaridade das famílias", descreve. A educadora detalha que os vídeos têm pouca duração, enviam arquivos e capturas de tela, além de disponibilizar jogos e sugestões de como adaptar as atividades.

Em Sobral, a 234,8 km de Fortaleza, a pedagoga Eli Moura atua com o 1º ano do Ensino Fundamental na escola Vicente Antenor Ferreira Gomes. Assim como as outras, Eli, com a ajuda do esposo, grava áudios e vídeos para enviar aos alunos. Além disso, há atendimento individual. A profissional liga para cada estudante para trabalhar a oralidade. Segundo ela, de 20 alunos, 16 têm acompanhado a iniciativa.

"A gente procura conversar. Não ir diretamente na leitura. Saber se estão com saudade da escola, dos coleguinhas e entender como está sendo a vida deles em casa". Quem não está participando, a professora vai à casa dos pequenos entregar material para estudo. Além disso, pede que enviem por familiares áudios dos pequenos ditando as sílabas e palavras.

"Quando eu identifico uma dificuldade, já falo pro familiar. Geralmente nem é mãe e nem é pai, é tio ou avô. Digo qual o problema, envio o vídeo específico para aquela dificuldade e remarco outro encontro. Nisso, eu tenho recebido bom feedback", expõe.

 

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