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"Dnocs está sendo extinto por inanição", lamenta Cássio Borges
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"Dnocs está sendo extinto por inanição", lamenta Cássio Borges

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FORTALEZA, CE, BRASIL, 20-08-2013: Entrevista com o engenheiro Cássio Borges. (Foto: Evilázio Bezerra/O POVO) (Foto: EVILÁZIO BEZERRA)
Foto: EVILÁZIO BEZERRA FORTALEZA, CE, BRASIL, 20-08-2013: Entrevista com o engenheiro Cássio Borges. (Foto: Evilázio Bezerra/O POVO)

O engenheiro hídrico Cássio Borges, ex-diretor regional do Dnocs e servidor de carreira por mais de 50 anos, lembra feliz da época em que entrou no Departamento, em 1958. "Estava em Recife quando entrei na diretoria de Planejamento, Estudos e Projetos. Estávamos em plena seca e senti naquela época o drama que sofria a população nordestina com a falta d'água" lembra.

O funcionário aposentado destaca a relevância do órgão, visto que participou da construção de obras importantes que influenciaram no desenvolvimento regional. "O Nordeste possui 330 açudes em toda a região nordestina, isso representa 97% de todo volume acumulado na nossa região. Esses açudes que abastecem toda a população nordestina a um custo praticamente zero" diz. Cássio lembra, críticas, o que se convencionou chamar de "indústria da seca", a qual considera "irrelevante considerando os casos de corrupção hoje".

"Foi até um termo pejorativo de um grupo de pessoas que queriam assumir alguns comandos do Dnocs. Essa indústria era como se fosse um aumento fictício de funcionários para beneficiar algum setor político daquela época, mas isso é insignificante comparado ao que se nota hoje no Brasil. No meu entendimento não existiu", afirma. Cássio revela grande preocupação com as deficiências que o órgão apresenta atualmente.

"O Dnocs hoje está praticamente sendo extinto por inanição. Toda aquela experiência que os técnicos deixaram, aquele acervo feito e essa quantidade densa de trabalho ao longo de 111 anos estão sendo jogados no lixo, o que é lamentável. Uma renovação no quadro de funcionários é uma coisa que teria que ser feita o mais rápido possível" avalia o engenheiro.

Segundo Cássio Borges, o órgão "tem muitos inimigos", movidos pelo interesse econômico. "Um grande pensador alemão que dizia que a água é um instrumento desejado por muitos que buscam por interesses próprios. As pessoas querem a água no Nordeste para ganhar dinheiro. A Cogerh, por exemplo, ganha dinheiro às custas dos açudes do Dnocs" completa.

Em prol do reconhecimento do Departamento pelo Governo Federal, o ex-diretor adiantou que está finalizando um trabalho conjunto com outros cinco colaboradores sobre revitalização e fortalecimento do Dnocs. "Os autores são técnicos experientes e o documento pretende dar diretrizes ao governo Bolsonaro no sentido do que é importante para a região. É preciso que se recomponha o quadro dos técnicos. Com o governo fechando os olhos não dura por mais dois anos", finaliza. 

 

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