"Tem que mudar a estrutura, esse é o real problema." O diagnóstico é da cientista política Paula Vieira, da Universidade Federal do Ceará (UFC). Para a pesquisadora, apesar do esforço para aprimorar a legislação, abrindo espaços para a participação de mulheres nas campanhas, no Executivo e no Legislativo, "a forma de funcionamento de uma ordem privada dos partidos não permite uma alteração maior".
"Acaba sendo um entrave para que essa alteração aconteça", prossegue. "Quem faz as regras acaba se beneficiando delas."
A especialista cita o caso de Fortaleza, onde pré-candidatos homens dominam a cena política, prevalecendo sobre uma minoria feminina - dos participantes na disputa até agora, há somente duas mulheres.
"Não é por falta de mulheres. Se temos sub-representação no Legislativo e na vida partidária, como teremos lideranças para concorrer?", pergunta. "É consequência natural. Se não há mulheres se formando, não tem como concorrer nessas instâncias internas contra homens que já estão na cena pública."
Uma das postulantes na Capital é a ex-prefeita e hoje deputada federal Luizianne Lins (PT), para quem "o sistema brasileiro de cotas de mulheres ainda precisa melhorar".
"Existe um domínio masculino dos partidos políticos, falta o real incentivo à participação das mulheres, faltam formação política e punição para o não cumprimento da lei que determina cotas de candidaturas femininas", elenca a parlamentar.
A petista admite alguma melhora, mas "ainda é muito baixa a representatividade na política. E não basta ser mulher, é preciso ter como bandeiras de luta as pautas femininas e feministas".
Luizianne complementa: "O quadro que temos hoje ilustra bem a lógica machista e estigmatizante em que vivemos. É resultado de toda uma história e cultura de discriminação imposta que passa pelo senso comum de que política não é lugar de mulher".
Deputada estadual e ex-prefeita de Tauá, cargo ao qual concorre novamente em 2020, Patrícia Aguiar (PSD) menciona tentativa da Justiça Eleitoral de ampliar o ingresso, "mas não é suficiente".
"Temos mulheres na academia, nas empresas, em todos os setores, mas, quando diz respeito à vida pública, há um receio grande da mulher por causa do preconceito e da exposição pública", avalia.