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Médica aponta absenteísmo em torno de 30% em consultas pré-natais
Reportagem

Médica aponta absenteísmo em torno de 30% em consultas pré-natais

Passados os 14 dias de isolamento necessários para evitar a transmissão da doença para outras pessoas, as consultas devem ser retomadas e os exames, realizados
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Liduína Rocha, obstetra: "Aqui em Fortaleza, observou-se um absenteísmo em torno de 30% de gestantes, e estamos falando de gestantes usuárias do SUS" (FOTO: Aurelio Alves) (Foto: Aurelio Alves/ O POVOS)
Foto: Aurelio Alves/ O POVOS Liduína Rocha, obstetra: "Aqui em Fortaleza, observou-se um absenteísmo em torno de 30% de gestantes, e estamos falando de gestantes usuárias do SUS" (FOTO: Aurelio Alves)

A administradora Nathália Cunha, 30, foi uma das 1.109 gestantes diagnosticadas com Covid-19 no Ceará. Depois de uma semana sem as percepções de olfato e paladar, em meados de março, ela contatou a obstetra que a acompanha. Por recomendação médica, manteve-se em isolamento, trabalhando de casa e recebendo as orientações por consultas online. A confirmação do diagnóstico só veio depois, com teste laboratorial para detecção de anticorpos.

Da mesma forma como o pré-natal de Nathália foi mantido virtualmente, especialistas ouvidos pelo O POVO destacam a necessidade de, em meio à pandemia, as consultas não serem interrompidas. No Ceará, a recomendação da Associação Cearense de Ginecologia e Obstetrícia (Socego) e do Comitê de Prevenção à Morte Materna, Fetal e Infantil, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) é de se realizar pelo menos o mínimo de consultas recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) — um total de seis — e a solicitação apenas dos exames necessários.

"Aqui em Fortaleza, observou-se um absenteísmo em torno de 30% de gestantes, e estamos falando de gestantes usuárias do SUS (Sistema Único de Saúde). E uma impressão geral na saúde suplementar é que os profissionais de saúde ficaram, durante um período, mais receosos de atender", afirma Liduína Rocha, presidente da Socego e do comitê estadual.

Em nota, o Ministério da Saúde também apontou a importância de manter as consultas pré-natal para uma gestação saudável. "As gestantes e as mães logo após o parto são mais vulneráveis às infecções e, por isso, estão nos grupos de risco dos vírus da gripe. Portanto, os cuidados com gestantes e puérperas devem ser feitos com maior atenção e cuidado, independente do histórico clínico das pacientes."

O alerta para a manutenção de consultas e exames no cuidado pré-natal e do cumprimento da vacinação obrigatória durante a gravidez é reforçado pela ginecologista e obstetra Lizandra Paravidine Sasaki, doutoranda pela Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (FM/UNB). A exceção é a fase aguda da Covid-19, quando deve ser feito o isolamento da paciente durante os primeiros 14 dias.

Chefe da Unidade Materno-infantil do Hospital Universitário de Brasília (HUB), a médica destaca que gestantes têm desprezado sintomas da Covid-19 por acharem que estão associados à gravidez. "Falta de ar é próprio da grávida. Temos um aumento do abdômen que acaba comprimindo a caixa torácica e diminuindo a distensão do tórax", exemplifica.

Um grupo de profissionais do HUB está realizando um estudo para analisar os efeitos da Covid-19 nesse público. O objetivo é avaliar 300 gestantes em qualquer idade gestacional, fazer o pré-natal, o parto e acompanhar os recém-nascidos até os cinco anos de idade. A pesquisa teve início em junho e, até o momento, participam da pesquisa 60 gestantes e 20 mulheres que já deram à luz.

"Durante a gestação, além da infecção por Sars-COV-2, já está referido na literatura um processo inflamatório. A dúvida — e é a isso que nosso trabalho se propõe — é se esse processo inflamatório teria algum risco de desenvolvimento neurológico para os fetos quando eles crescerem", aponta.

O medo da administradora Nathália Cunha é justamente sobre como a doença pode afetar a filha, que ainda não nasceu. "Mas estamos analisando, avaliando. Eu estou sendo acompanhada bem minunciosamente, e ela está crescendo bem, está se desenvolvendo bem", afirma. Atualmente na 31ª semana da gravidez, ela conta que não apresentou outros sintomas da Covid-19 e se recuperou sem precisar buscar uma unidade de saúde.

Lizandra Paravidine Sasaki afirma que, apesar de apontarem que as gestantes têm maior risco durante a gravidez, estudos internacionais não têm associado a Covid-19 a má formações cromossômicas do embrião. "E até hoje existe ainda uma dúvida sobre a transmissão vertical, da mãe para o feto", complementa.

 

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