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Deputados ainda se adaptam às mudanças
Reportagem

Deputados ainda se adaptam às mudanças

Parlamentares ouvidos por O POVO apontam diferentes pontos da nova rotina que impõem adequação. Em alguns casos, divergem do ritmo da retomada presencial
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Decano da Casa e no exercício do oitavo mandato consecutivo, Fernando Hugo (PP), 67, entende que a "missão legislativa" foi cumprida pelos pares no decorrer dos dias de trabalho remoto, mas comemora a volta das atividades em plenário. Não há comparação, prossegue, entre as discussões por videoconferência e o "debate tête-à-tête, olho no olho."

"A Assembleia não é mosteiro de beneditinos, nem um mosteiro de freiras, tampouco um quartel militarizado. É indispensável (o plenário) para se pôr e contrapor ideias", ele avalia.

No ano eleitoral, Fernando Hugo ressalta ainda mais o componente presencial, com os debates que se darão em torno dos municípios pelos quais os parlamentares ou aliados estarão em disputa.

Como é do grupo de risco, Hugo já optou por participar de expediente a partir do próprio gabinete, por vídeo. Porém, na última quinta-feira, 13, foi ao plenário se somar à discussão envolvendo o mandato de André Fernandes (Republicanos).

Presidente da comissão responsável pela atualização do Regimento Interno, o conjunto de normas que rege a dinâmica e os trâmites do Parlamento, Audic Mota (PSB), 37, informou que na semana que vem os trabalhos do colegiado serão reabertos. "Incluiremos um capítulo sobre as inovações digitais", afirmou.

Para o deputado Renato Roseno (Psol), 48, chega a ser "sufocante e inaudível" usar ao mesmo tempo a tribuna e a máscara de proteção. Mas ele não se desfaz do equipamento ao se pronunciar, sublinhando que se deve transmitir exemplo a quem acompanha as sessões. Ele descreve que a sensação é de "não estar sendo ouvido."

Roseno foi infectado pelo novo coronavírus, assim como Queiroz Filho (PDT), 38. Com a nova realidade, o pedetista diz se incomodar com a falta de interação com os eleitores no gabinete. Afirmou que pretende criar junto com a equipe algum dispositivo por meio do qual possa agrupar as demandas que lhe chegam pelas redes sociais.

"Nem tudo são flores. Tem muita cobrança, mas quero criar um canal de comunicação para eu receber e dar esse retorno." E emenda: "Era sempre um tabu aquele negócio de catraca ali (na entrada), porque tem a questão da segurança, mas a vida toda a Assembleia foi conhecida como a Casa do Povo. Sei que (a lista de cuidados) é importante, é para o bem de todo mundo. E, realmente, da minha parte não vejo dificuldade de cumprir essas coisas."

Queiroz nota ainda que a tradicional disputa por tempo na tribuna se intensificou com somente uma sessão. "Antes eu chegava 5h30min, pegava um tempo", relata, citando que mais recentemente antecipou o costume em 15 minutos, achando que seria o primeiro, mas alguns colegas já haviam feito a inscrição para fala.

Defensora das ações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na condução da crise, como o incentivo ao uso da hidroxicloroquina - medicamento sem eficácia cientificamente comprovada contra a Covid-19 - Dra. Silvana (PL), 51, não gosta da "lentidão" com a qual se dá a retomada das atividades presenciais. Pela gravidade do momento, diz, os parlamentares têm de intensificar a presença.

"Sempre defendi isolamento vertical sério. Veja que nem todos os funcionários da Casa fizeram o teste. Do meu gabinete, somente quatro testaram patrocinados pela Casa", ela argumentou. Procurada, a assessoria de comunicação da Assembleia reforçou que o procedimento foi o mesmo com todos os deputados, ou seja, como o limite de funcionários por gabinete é quatro, somente estes servidores foram testados.

Para Tony Brito (Pros), 43, suplente de Vitor Valim (Pros), os cuidados adotados são importantes para resguardar os que trabalham no lugar. "Claro que com todos presencialmente, os debates eram mais dinâmicos, mas estamos buscando todas as adaptações."

 

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