Cientista político e pesquisador da Universidade Federal do Ceará (UFC), Cleyton Monte afirma que, com a melhora no desempenho de Jair Bolsonaro (sem partido) aferida em pesquisas, "aquela ideia de que o presidente não iria se envolver nas eleições caiu por terra".
Segundo ele, essa é uma decisão que começa a ser tomada dentro do Governo, a partir de um novo cenário político: além da performance alavancada pelo auxílio emergencial, que assegurou ganhos mesmo no Nordeste, há o possível retorno do presidente ao ninho do PSL, partido com direito a um bom naco do fundo eleitoral.
"Bolsonaro começou a fazer política. Se isso acontecer, e se essa tendência de melhoria se confirmar até o final de setembro, vai ter impacto em Fortaleza", avalia Monte.
Para o pesquisador, eventual estabilidade de Bolsonaro ou mesmo manutenção dessa linha ascendente na popularidade podem "ajudar Capitão Wagner a consolidar votos na periferia da cidade".
Monte acrescenta uma variável ao problema. "Se o programa Renda Brasil for implementado pós-auxílio, Bolsonaro vai ser uma figura importante nas eleições por causa do índice de miséria e pobreza, num momento em que todos os indicadores sociais estão muito
ruins", projeta.
Sobre a estratégia do PDT de aproximar a imagem de Wagner à do chefe do Executivo, o especialista avalia que "essa escolha foi feita num momento em que esse fortalecimento não existia" e que, "para aquele momento, essa leitura era razoável e fazia sentido", mas que o quadro agora é outro.
Monte também se pergunta, porém, se Wagner deve tentar se aproximar do bolsonarismo e do presidente durante a corrida eleitoral. "O deputado vai querer colar a imagem? Nas últimas campanhas, o mote sempre foi a independência. Mesmo o Bolsonaro indo bem, vai ser interessante colar a imagem dele à do presidente?", interroga. (Henrique Araújo)