Além de ser considerado problema de saúde pública mundial e principal causa de mortes evitáveis, o tabagismo também torna as pessoas mais vulneráveis a desfechos graves da Covid-19. Entre as questões apontadas por especialistas está que o fumo — não só de cigarro convencional, mas também de cigarro eletrônico, cachimbo e charuto, entre outros — leva à inflamação dos pulmões e os deixa mais suscetíveis a infecções no geral.
Ao entrarem em contato com órgãos já impactados pelo tabagismo, vírus ou bactérias pioram o quadro inflamatório, fazendo com que os pulmões consigam captar menos oxigênio. "Todos os sintomas respiratórios da Covid-19 ficam exacerbados, o que realmente coloca esse paciente em maior risco de ter uma dispneia (falta de ar) mais intensa", afirma Christiane Takeda, infectologista do Hapvida e do Hospital São José (HSJ).
Outro ponto é que, em comparação com quem nunca fumou, fumantes e ex-fumantes apresentam maior quantidade da enzima conversora da angiotensina II (ECA2), que está presente em células das vias aéreas e tem papel como receptor para a entrada do Sars-Cov-2, o novo coronavírus, no organismo.
"O vírus vai ter mais locais para entrar no pulmão e no organismo. Ou seja, aumenta a carga viral e a possibilidade de agravamento da doença", aponta Ricardo Meirelles, pneumologista e coordenador da Clínica de Cessação do Tabagismo do Americas Centro de Oncologia Integrado (ACOI).
No contexto em que as prevenções contra a Covid-19 incluem não tocar a boca ou os olhos, retirar a máscara e levar cigarro à boca pode aumentar o risco de contaminação. "E o narguilé, aquele cachimbo d'água, muitas vezes é compartilhado, então aumenta o número de doenças infecciosas, como tuberculose, hepatite e Covid-19 também", acrescenta o médico.
Durante a pandemia, o número de cigarros consumidos no Brasil aumentou, de acordo com a Convid Pesquisa de Comportamentos, realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Os resultados mostram aumento em 34% dos fumantes. O maior percentual (22,5%) foi na população que aumentou cerca de dez cigarros por dia, seguido por cinco cigarros ou menos (6,4%) e 20 cigarros ou mais (5,1%).
Ao mesmo tempo, a pneumologista Penha Uchoa aponta que houve quem tenha parado de fumar nesse período por medo da Covid-19. "Tivemos essa dualidade muito presente durante a pandemia", afirma a médica, que é coordenadora do Programa de Controle do Tabagismo do Hospital de Messejana. Segundo a pesquisa da Fiocruz, 12,1% dos entrevistados fumantes diminuiu a quantidades de cigarros, enquanto 53,9% manteve o mesmo consumo.
O estudo foi feito em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Os dados foram coletados de 24 de abril a 24 de maio últimos, e 44.062 pessoas participaram, com 12% delas declarando-se fumantes. (Gabriela Custódio)