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Em meio a indefinições, começa a temporada de convenções de 2020
Reportagem

Em meio a indefinições, começa a temporada de convenções de 2020

Processo decisório começa repleto de indefinições. Situação acelera discussões internas, Camilo ainda luta por PT e PDT juntos e oposição tenta evitar debate nacional
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Último comício do condidato Renato Roseno antes do 1º turno
Foto: André Salgado, em 04/10/2012 (Foto: ANDRÉ SALGADO)
Foto: ANDRÉ SALGADO Último comício do condidato Renato Roseno antes do 1º turno Foto: André Salgado, em 04/10/2012

O calendário eleitoral avança para uma de suas fases decisivas. As interrogações naturais a um período de pré-campanha deverão começar a ser respondidas a partir desta terça-feira, 1º, com o início das convenções partidárias, que se estendem até 16 de setembro. É quando partidos ou alianças terão de definir os representantes para as corridas ao Executivo e Legislativo.

A principal incógnita na Capital atende por três letras: PDT. A agremiação adotou método não convencional para escolha de seu nome. Promoveu dez debates entre Ferruccio Feitosa, Idilvan Alencar, José Sarto, Salmito Filho e Samuel Dias, ao final dos quais não extraiu favoritismo de nenhum para a missão de defender na campanha o legado de oito anos do prefeito Roberto Cláudio.

É comum que o grupo governista use quase todo o tempo que a lei dispõe até atingir decisões. Em 2012, o então presidente da Assembleia Legislativa Roberto Cláudio foi anunciado na fase final, faltando nove dias para conclusão das convenções. Dois anos mais tarde, Camilo Santana protagonizaria roteiro ainda mais demorado.

O petista foi ungido em cima da hora pelo então governador Cid Gomes e pelo grupo ferreiragomista, à época majoritariamente filiado ao Pros. Para a amarração se concretizar, José Guimarães (PT) largou disputa ao Senado, abrindo espaço para a candidatura de Mauro Filho (ex-Pros). "Eu acredito que vá para a reta final, para os dias finais. O histórico das eleições mostrou isso também", reforçou Idilvan Alencar, um dos prefeituráveis.

Os episódios da história recente são indicativos do quão complicada é a tarefa de acomodar interesses. Geralmente, interesses conflitantes. É o que mais uma vez vai se desenhando para as convenções. O governador do Ceará Camilo Santana deseja ver PDT e PT, os principais partidos de sua base, de mãos dadas já no primeiro turno.

Há um movimento inicial para que Nelson Martins, ex-Relações Institucionais do Palácio da Abolição, possa capitanear frente de partidos de centro-esquerda. Mas somente o PT na cabeça de chapa faria Luizianne Lins declinar da empreitada. Ela foi escolhida pré-candidata após processo interno.

Se soma a isso o fim das coligações proporcionais e consequente pressão dos cerca de 63 pré-candidatos petistas à Câmara Municipal para que o partido busque novamente o comando da Cidade, numa campanha ao Executivo que possa puxar votos para quem quer assento na Câmara Municipal.

Para alguns setores da base, a dificuldade dos trabalhistas em escolher representante próprio seria terreno fértil para pactuação entre as legendas. O PDT, por outro lado, reivindica a legitimidade de fazer a indicação após dois mandatos no Poder. A Capital, quinta do País, é a principal governada pela legenda, e situada no estado de Ciro Gomes.

"Sempre a gente acompanha na imprensa as conversas com o governador, com a Luizianne também, mas a expectativa do partido é que seja homologado o nome dela", projeta Liliane Araújo, vice-presidente municipal do PT, para quem ainda há tempo de amadurecimento da posição final.

Na impossibilidade de ver as legendas unidas, Camilo pretende que não se ataquem tão incisivamente, pois entende que deverão estar unidas num segundo turno. "O Camilo pode pedir ao PT, mas quem é que segura o Ciro e o Cid?", questionou um petista reservadamente.

E prosseguiu: "Eu sou um dos que adotam o 'quem bate, leva'. Tem que combinar com os 'russos' também." Procurado por O POVO, o presidente estadual do PDT, André Figueiredo, não respondeu mensagens.

Essas indefinições que rondam os principais partidos da base de Camilo Santana, PT e PDT, favorecem o pleito de Capitão Wagner (Pros), este já posto como pré-candidato praticamente desde 2016, quando avançou ao segundo turno contra Roberto Cláudio, pedetista que terminaria reeleito. Quem faz a avaliação é o pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia da Universidade Federal do Ceará, Cleyton Monte.

Ele observa que o PDT não conseguiu construir um favoritismo interno claro em torno de um dos cinco pré-candidatos após série de dez debates na internet a que foram submetidos. "Há uma compreensão de que a campanha do Wagner é forte. Depois de todos os debates, não houve construção de unidade nos partidos e no próprio PDT."

Assim, diz Monte, atrasa-se a costura de uma eventual coalizão de forças para combater Capitão Wagner (Pros), ao passo em que o policial da reserva segue andando pelas ruas da Cidade.

"Também por isso o Acrísio teve a visão de que o Nelson Martins pudesse unificar", ele adiciona, embora acredite ser pouco provável que o PDT abra mão da cabeça da chapa em nome de um acordo dessa natureza, mesmo que nele estejam as digitais do aliado Camilo Santana.

Monte destaca ainda que a estratégia de colar a imagem de Capitão Wagner a Bolsonaro pode ser negativa na perspectiva dos adversários dele, já que o contexto, segundo pesquisas, é o de um presidente com avaliação em ascensão por causa do auxílio emergencial.

Como a campanha é curta, de 45 dias, o docente pontua que mudar estratégias no curso dela pode ser um passo em falso.

"Vão querer nacionalizar o debate", diz Capitão Wagner

O deputado federal Capitão Wagner (Pros) aposta que os adversários vão tentar nacionalizar o debate para relacioná-lo ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o que considera não ter “nada a ver”.

Ele tenta se descolar da pauta da segurança pública para afastar a pecha de monotemático. “Nossa prioridade vai ser discutir os problemas da Cidade, mas, logicamente, os adversários tentando nos atingir vão puxar o debate nacional, puxando assuntos que não tem nada a ver, mas estou focado no debate para a Cidade”, ele sublinhou.

A convenção ocorrerá no dia 7 de setembro pelo simbolismo da data, o Dia da Independência. Segundo disse, um modo de ressaltar a independência do grupo político que lidera, com três vereadores, dois deputados estaduais, dois deputados federais e um senador.

E também a importância de a Capital escolher outro nome que não o indicado pelo que classifica de oligarquia. Wagner afirmou que uma das propostas que apresentará será a de uma gestão digitalizada.

Indagado sobre o plano de governo, disse que uma das necessidades será a “de uma grande reforma administrativa onde a gente possa desburocratizar a gestão, digitalizar em todos os setores.” A semana deve ser decisiva para a construção da chapa majoritária. Projetou que a ideia é, na convenção, apresentar o nome para a vice.

Para o pedetista Idilvan Alencar, as pessoas querem“as pessoas têm medo de perder o que foi construído.” E alfinetou: “Veja o Rio de Janeiro. Essas aventuras custam muito caro para a sociedade.”

Calendário, candidatos e dúvidas

Renato Roseno (Psol) -  5 de setembro

O socialista vai à disputa com o lema "Organizar a Esperança". É o primeiro a já ter vice na chapa com a qual tentará ser prefeito: a militante do PCB Raquel Lima. Convenção online ocorre dia 5.

Capitão Wagner (Pros) - 7 de setembro

O policial da reserva mira o cargo majoritário desde 2016 e será candidato a prefeito de Fortaleza. Ele pretende logo depois formalizar a chapa legalmente, com a criação de um Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), trâmite de contas etc.

Heitor Freire (PSL) - 7 de setembro

Tem conversas com o Capitão Wagner (Pros) abertas, mas se mantém pré-candidato. O PSL é o segundo partido com mais recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, o que poderá conferir a Freire algum tempo para falar.

Célio Studart (PV) - Entre 10 e 12 de setembro

Com votações surpreendentes, Studart vai para a primeira disputa ao Executivo apresentando-se como uma “terceira via”, como define. Embora PV seja aliado do PDT a nível nacional, ele também incluirá críticas à gestão RC no discurso de candidato.

Luizianne Lins (PT) - 13 de setembro (data provável)

Foi escolhida pré-candidata internamente, mas dialoga com Nelson Martins e Camilo Santana sobre a possibilidade de criação de frente de centro-esquerda já no primeiro turno, liderada por Nelson. Até agora, a condição imposta por ela para considerar largar foi a de Nelson estar na cabeça de chapa, aglutinando inclusive o apoio do PDT.

Heitor Férrer (SD) - 15 de setembro

Acostumado a campanhas à Prefeitura, Férrer neste ano esbarrou na ausência de partidos dispostos a fazer coligações. Ele vai usar os dias para intensificar conversas com outras agremiações que lhe possam lhe garantir alguma segurança na disputa: tempo de TV e rádio, militância nas ruas e recursos do fundo partidário.

Anízio Melo (PCdoB) - 16 de setembro (data sugerida)

Consultado por O POVO, professor afirmou que será candidato para defender o que deu certo e se apresentar como alternativa aos gargalos da Cidade. Embora alguns membros da executiva estadual tenham sugerido o dia 16, o presidente do partido no Ceará André Ramos afirmou que ainda haverá reunião para definição.

* Os demais partidos com pré-candidatura em Fortaleza, definida ou em discussão, ainda estudam as datas de suas convenções

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