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Pandemia reduz expectativas para 2020 do mercado que a eleição aquece
Reportagem

Pandemia reduz expectativas para 2020 do mercado que a eleição aquece

Apesar da expectativa de aumento da demanda, setores que costumam ser impactados positivamente pelas campanhas admitem esperar resultados mais tímidos em 2020
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Foto: Amaurício Cortez elemento reportagem dom

O período eleitoral desencadeia um mercado próprio que movimenta a economia, gera empregos e abre vagas de trabalho. Nos meses que antecedem o pleito, santinhos, bandeiras e diversos itens tomam conta das cidades, dentro de um processo de divulgação de candidaturas. Com o crescimento da demanda, gráficas, agências de publicidade e mais uma série de empresas locais começam a se desdobrar em busca de tirar proveito do momento das campanhas, mesmo que, em 2020, elas aconteçam dentro de um ambiente de pandemia e de desestímulo às aglomerações.

A professora do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Ceará (UFC), Soraya Madeira, destaca que há um impacto significativo no mercado, nas agências de publicidade, responsáveis por produzir jingles, vinhetas, slogans e estratégias de divulgação para propaganda eleitoral. "Ele (candidato) precisa traçar estratégias e para isso precisa entender quem é o consumidor. Quem não é visto não é lembrado e a forma de se destacar é pela comunicação. Esses mercados crescem por que os candidato precisam explicar propostas e se manter na mente dos eleitores" diz.

Vice-presidente do Sindicato das Agências de Propaganda do Ceará (Sinapro-CE) e da Associação Brasileira de Agências de Publicidade (Abap), Ana Celina diz que não há tantos ganhos como imaginado. "Hoje no mercado local não enxergo mais aquelas agências focadas em período eleitoral. As campanhas majoritárias nas suas estruturas acontecem de forma mista, tem participação de agência, mas a equipe do dia-a-dia que tem uma dinâmica específica. A demanda fica totalmente concentrada por um estrategista, e não necessariamente ele e de agência, e no digital" diz.

As eleições impulsionaram um outro mercado específico: a indústria gráfica. Para o presidente do Sindicato da Indústria Gráfica do Estado do Ceará (Sindgrafica-CE), Fernando Hélio, dentre os serviços mais demandados está o de impressão de cartazes, adesivos, santinhos, jornais e folders. "A demanda por divulgação utilizando o impresso aumenta bastante, principalmente porque não é possível levar a mídia digital na hora da votação", avalia.

Contudo, Fernando afirma que a suspensão de grande parte dos investimentos na indústria gráfica devido à pandemia trará impactos negativos no ramo. "Muitas pessoas que estavam esperando um lançamento para compra de um equipamento novo não o fez. Nos anos passados tínhamos expectativa de maior lucro. Perdemos três meses do ano, então, consequentemente, isso impacta no resultado final", conta o empresário.

Para Luiz Francisco, diretor da gráfica Tiprogresso, no bairro Aldeota, com a Covid-19, a restrição imposta ao impresso nas campanhas eleitorais fará o setor lucrar abaixo do esperado neste ano. "Agora com essa pandemia a gente não tem uma definição do Tribunal. Já em 2018 tivemos um impacto abaixo da nossa expectativa, com 15% a 20% de faturamento do setor como um todo. Então acho que agora vai ser bem abaixo da expectativa, comparando com as campanhas anteriores" avalia.

Uma expectativa é de que as máscaras de tecido, utilizadas na prevenção ao novo coronavirus, se transformem em equipamentos populares nas eleições. Contudo, a produção e distribuição acontece, em grande parte, pelo mercado informal na capital. "Não vai ter aquecimento sobre máscaras para o setor têxtil. Muita gente informal faz estrutura de pano ou algodão e acaba vendendo mais. Não tivemos nenhuma demanda política", confessa o diretor da Delfa e Vice-Presidente do Sinditêxtil, Cristiano Junqueira.

Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre o teto de gastos de campanha para candidatos na eleição em Fortaleza, ao todo, candidatos a prefeito poderão gastar até R$ 14.135.674,35 milhões no primeiro turno. No pleito de 2016, as candidaturas à prefeitura da Capital cearense tinham um teto de R$ 12.408.490,10 milhões para o primeiro embate eleitoral. Outros R$ 5.654.269,74 milhões poderão ser gastos na segunda etapa da disputa deste ano.

Já as campanhas para vereador terão teto de R$ 524.050,70 na Capital. Segundo a norma, o limite é determinado pelo último teto de gastos da vaga disputada (tendo referência, no caso, na eleição de 2016), corrigido pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado no período.

Para 2020, candidatos contarão ainda com o Fundo Especial de Financiamento de Campanhas - conhecido como Fundo Eleitoral. O recurso, criado em 2017, foi ampliado para R$ 2 bilhões para 2020, em proposta aprovada pelo Congresso e sancionada por Jair Bolsonaro.

Todos os gastos de campanha passam pelo Sistema de Prestação de Contas Eleitorais (SPCE) para serem registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O secretário de controle interno do TRE, Rodrigo Cavalcante, alerta que para todas as compras é preciso a emissão de recibos. "O gasto precisa ter recibo emitido, pois o sistema vai pedir valor da compra e CNPJ da empresa. A regra é não haver movimentação em espécie, só com a exceção no fundo caixa", explica.

O secretário também reforça que toda a arrecadação e despesa precisa ser realiza por conta bancária. "Tudo aquilo que sobrar na conta bancária vira sobra e deve ser transferido para o partido ou para a conta do tesouro, sendo dinheiro público" acrescenta. Segundo Rodrigo, candidatos só poderão arrecadar e realizar despesas após a apresentação do registro de candidatura, registro de CNPJ e criação da conta bancária. Com tudo em mãos, já é possível fazer contratações e, depois do dia 16 de setembro, gastar com a campanha.

valores do teto de gastos
valores do teto de gastos (Foto: luciana pimenta)


 

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