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Como o cenário do Estado pesa na defesa dos clubes pela retomada
Reportagem

Como o cenário do Estado pesa na defesa dos clubes pela retomada

Estabilidade dos indicadores de casos e óbitos por Covid-19 é trunfo para pressão de Ceará, Ferroviário e Fortaleza em prol da volta das torcidas. Questões esportivas, sanitárias e jurídicas, porém, precisam ser pesadas
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Castelão volta amanhã a receber público — ainda que limitado (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves Castelão volta amanhã a receber público — ainda que limitado

O Ceará é um estados que apresenta mais duradouro cenário de estabilidade nos números relacionados à Covid-19. Por aqui, a maioria das atividades já foram retomadas, mesmo que com restrições. As liberações mais recentes incluíram salas de cinema e as escolas para crianças nos decretos estaduais. Com esses e outros locais funcionando dentro de percentuais e cuidados específicos, os presidentes dos três maiores clubes cearense, Ceará, Ferroviário e Fortaleza, entendem que já está na hora de discutir a volta dos torcedores aos estádios.

Presidentes de Vovô e Leão, Robinson de Castro e Marcelo Paz, defendem, inclusive, que o Estado poderia ser vanguardista nesse movimento. Os dois clubes disputam a Série A do Brasileiro, o que daria bastante visibilidade à experiência.

"Eu acho que já é momento de retornar com quantidade menor de público, já está hora. Começar com carga de 25% (do Castelão), que corresponde a 15 mil pessoas, por exemplo. Temos condição de colocar quatro cadeiras entre uma pessoa e outra, o risco é muito pequeno em relação a outras atividades que voltaram, como shopping, parque aquático, restaurante. Tem que conseguir primeiro autorização para cá (com o Governo do Estado). Se conseguirmos, a gente consegue liderar esse movimento no restante do país. Aqui está bem controlada (a pandemia)", opina o presidente do Ceará. Robinson acredita que os clubes podem, juntos, conseguir uma reunião com o governador do Ceará, Camilo Santana (PT) para conversar a respeito.

O presidente do Fortaleza também acredita que o Estado pode ser pioneiro, tanto pela estabilidade da pandemia quanto pelo trabalho que os clubes cearenses apresentaram, com seus protocolos. Desde que o futebol local voltou, nenhum jogador foi contaminado — foram constatados alguns casos apenas no início do retorno aos treinos. "Eu acho que poderíamos ser vanguardistas, com certeza, mais uma vez sair na frente, ter a coragem de tomar essa medida. Claro que embasada na questão de segurança. Pelo que tenho visto, acho que pode acontecer", disse Paz. Em entrevista ao programa "As Frias do Sérgio", na rádio O POVO CBN, há duas semanas, o dirigente havia admitido que já ouviu algumas projeções de retorno nos bastidores, a nível nacional, mas que não há nada oficial.

Mesmo assim, o jornalista Afonso Ribeiro publicou que, no novo orçamento do Fortaleza, aprovado em 1º de setembro, há projeção para liberação de público nos estádios a partir de outubro e que o Tricolor espera arrecadar algo em torno de R$ 5,6 milhões com bilheterias e R$ 900 mil com bares, camarotes e estacionamento. A diretoria do Leão não confirma a informação oficialmente.

Outubro parece ser mesmo a "bola da vez" para um teste inicial. "É um mês simpático para a CBF (tentar colocar em prática)", disse Mauro Carmélio. O dirigente negou que existe, atualmente, qualquer articulação local junto ao Governo do Estado quanto ao tema, mas afirmou que o governador Camilo Santana sabe desse desejo dos clubes. "Ele sabe do nosso interesse desde o começo. Desde o segundo decreto, que foi para autorizar as competições nacionais, ele já estava sabendo", revela.

O presidente do Ferroviário, Newton Filho, concorda que a discussão já pode ser aberta e revela que no grupo de presidentes dos clubes que disputam a Série C do Brasileiro, da qual o time coral faz parte, o tema já é debatido.

Os dirigentes dos três clubes entendem que com um possível retorno dos torcedores aos estádios em capacidade reduzida, os sócios-torcedores teriam de ser prioridade, já que seguiram pagando o programa mesmo sem o acesso aos estádios — que costuma ser o principal atrativo da filiação. O Estatuto do Torcedor, em seu artigo 20, no entanto, obriga que haja venda de ingressos para as partidas. "Teria que analisar juridicamente depois como seria a entrada dos torcedores, o importante é primeiro definir o retorno do público e em que quantidade, para depois ver isso", diz Robinson de Castro.

O POVO conversou também com Edvando Elias de França, titular do Núcleo de Desporto e Defesa do Torcedor (Nudtor), do Ministério Público do Estado (MPCE). O promotor disse entender que esse retorno deve acontecer de forma gradual, mas que o órgão que representa aguarda e respeita as orientação do comitê estadual de combate à Covid-19, que inclusive conta com um membro do MPCE.

 

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