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Ponto de vista: O fator humano na Segurança Pública
Reportagem

Ponto de vista: O fator humano na Segurança Pública

O especialista Ricardo Moura analisa a primeira entrevista do no secretário Sandro Caron
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SALA de videomonitoramento: dificuldade de gerar dados e ser capaz de projetar tendências (Foto: FÁBIO LIMA/O POVO)
Foto: FÁBIO LIMA/O POVO SALA de videomonitoramento: dificuldade de gerar dados e ser capaz de projetar tendências

A primeira entrevista do delegado federal Sandro Caron, novo secretário da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), traz em si diversas camadas de interpretação. Embora tenha enfatizado o fato de ser um policial "operacional", expressão que agrada a tropa pois revela ser um homem conectado ao trabalho das ruas, é possível perceber nas entrelinhas que o grande desafio da pasta é realmente aprimorar suas atividades de inteligência.

O carro-chefe do Governo do Estado na área da segurança pública é o investimento feito em tecnologias de monitoramento e no processamento de informações em quantidades gigantescas (big data). No entanto, essa imensa capacidade de coleta de dados necessita de alguém que saiba projetar tendências e identificar ameaças a partir da leitura dos números, auxiliando a tomada das decisões mais corretas em tempo hábil.

As câmeras de videomonitoramento, por exemplo, têm pouca serventia na identificação de um fenômeno tão complexo quanto a constituição de um movimento organizado de oposição ao governo, como no caso do motim da Polícia Militar ocorrido em fevereiro. Desde o fim do ano passado, mensagens de protesto contra o governador circulavam em grupos de Whatsapp. Já era possível saber, naquele momento, que havia fissuras na adesão da corporação às instâncias superiores. De posse dessa informação, teria sido possível diminuir os danos causados à sociedade? Se sim, o que foi feito?

Coincidência ou não, o novo secretário substituiu o comandante da PM enquanto manteve o delegado-geral da Polícia Civil, um especialista em inteligência policial, no cargo. Retomar a ascendência da corporação é uma tarefa urgente. Sem policiais motivados e proativos, o arcabouço de Inteligência perde boa parte de sua eficácia. Sem informação qualificada, a operacionalidade torna-se uma atividade míope. Embora tenha ressaltado a importância dos números, Sandro Caron sabe que os bons resultados de sua pasta dependem necessariamente de uma gestão bem-sucedida do fator humano. 

Ricardo Moura é jornalista e sociólogo, pesquisador do Observatório da Segurança do Ceará e colunista do O POVO

 

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