Seja quem for o ocupante do Palácio do Bispo a partir de janeiro de 2021, ou seja, dentro de pouco mais de 100 dias, uma série de desafios estará à espera. O principal deles é administrar uma cidade cuja saúde e economia foram castigadas pela pandemia de Covid-19.
O POVO ouviu especialistas e todos os dez candidatos para entender o que deve se constituir, já de partida, como problema prioritário para o futuro mandatário da capital cearense.
Quase unanimidade, cenário de pós-pandemia ocupa primeira colocação entre os temas que vão merecer atenção especial desde as primeiras horas do novo governo.
Da saúde às contas públicas, com redução de investimentos e contenção de gastos, os efeitos da paralisação das atividades financeiras na esteira da doença se estendem a todas as áreas da administração, obrigando o futuro gestor a uma operação concentrada a fim de retomar crescimento e gerar emprego, mas sem descuidar do enfrentamento à enfermidade.
Professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Monalisa Torres avalia que a pandemia "acabou aprofundando ainda mais a crise econômica que já vínhamos sofrendo".
Como exemplo, cita a redução do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), principal fonte de recursos do Executivo local. "O FPM foi reduzido, e a pandemia aumenta isso porque Fortaleza se movimenta em torno do turismo e da prestação de serviços, de eventos", aponta a docente.
"Isso tem tudo a ver com o desafio de gerir recursos num cenário de recursos mais escassos. Fora isso, a saúde já era um problema", defende, enfatizando o desafio econômico a quem se sagre vencedor no pleito deste ano.
Pesquisadora e cientista política da Universidade Federal do Ceará (UFC), Paula Vieira concorda. Para ela, o prefeito ou a prefeita terá de enfrentar os desdobramentos da Covid-19 sem adiamentos.
"Tendo a acreditar que vamos ainda ter, ao menos no primeiro ano", afirma Vieira, "essas consequências da pandemia tanto na área da saúde, com ampliação de vacina, e o desafio econômico, com desemprego, comércios que foram fechados, restaurantes e pequenas empresas".
O chefe do Executivo teria de se equilibrar entre duas frentes: uma exclusivamente sanitária, de fortalecimento da retaguarda de saúde e intensificação do atendimento a potenciais vítimas da doença; e outra focada na economia, com programa de investimentos e parcerias.
Professor e pesquisador da Uece, Emanuel Freitas admite que a questão da saúde é inescapável no início do mandato. Segundo ele, "o primeiro problema que o prefeito vai ter é a atenção à saúde pública, que, nesse período, ficou a desejar".
"Houve déficit de consultas, cirurgias eletivas, e isso tende a ir crescendo cada vez mais e chegar para o próximo gestor", acrescenta Freitas, para quem, todavia, o prefeito/prefeita vai precisar deslocar suas energias também a outros campos.
"Outro problema, sob um aspecto técnico, é a conclusão de inúmeras obras iniciadas pelo prefeito, sobretudo de mobilidade urbana, mas não somente", assinala. "Tem um Frotinha sendo construído. E tem as obras de mobilidade, tanto finalizá-las quanto quitar essas dívidas e restos a pagar, que com certeza vão ser entregues ao próximo prefeito."
O pesquisador reflete ainda sobre um vetor que considera essencial, principalmente porque foi agravado pela doença: a desigualdade. "O prefeito encontrará uma cidade mais empobrecida por meses de paralisação da atividade econômica, que ainda não se recuperou", indica.
"Há o número de desempregados, de moradores de rua", continua Freitas, "e essa pobreza tende a trazer mais pobres do Interior para a Capital. É a dimensão social da pandemia".