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Medidas de restrição e a importância da redução de danos
Reportagem

Medidas de restrição e a importância da redução de danos

|Tratamento| Especialista aponta piora da saúde mental a partir da pandemia
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Tipo Notícia
Garota de quatro anos foi obrigada pela avó a beber restante de garrafa de whisky após ser flagrada dando gole escondida (Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR Garota de quatro anos foi obrigada pela avó a beber restante de garrafa de whisky após ser flagrada dando gole escondida

Para desincentivar o consumo, a OMS recomendou que governos deveriam limitar a venda de bebidas alcoólicas durante as quarentenas. A entidade considera que as regulações já existentes, como idade mínima e proibição de publicidade, deveriam ser elevadas e reforçadas durante a pandemia. Medidas do tipo são consideradas importantes para a psicóloga Renata Brasil Araújo.

"(O) Brasil foi um dos países com menos medidas de restrição. Tiveram descontos e isenção. Com as lives, ficou bastante complicado. Lives patrocinadas pela indústria do álcool. Sem controle em cima disso. Tem que ter medidas de controle e nosso país está muito aquém do que deveria estar nesse sentido", afirma.

Por outro lado, a farmacêutica Ana Cristhina Sampaio Maluf, que atua em projetos de Redução de Riscos e Danos e Prevenção Combinada, considera o controle e restrição da venda como não efetivo. "Na Colômbia, se tentou fazer isso e houve intoxicação por metanol. Dá margem para o mercado ilegal crescer, com controle de qualidade muito pior. Atuar na propaganda é um caminho mais interessante de seguir. Dos anos 2000 para cá, o uso do tabaco teve uma redução associada à publicidade", pondera.

Por estar associado a quadros de depressão e ansiedade, "em termos de planejamento de saúde pública, será preciso ampliação do serviços de tratamento de saúde mental". "Preparar serviços como Caps e Caps AD para receber esse contingente de pessoas que vão sair com essa piora no estado de saúde mental", analisa Ana Cristina.

O psiquiatra Rafael Baquit salienta o moralismo acerca do tema e a criminalização do uso de drogas, principalmente as ilícitas. Ele defende que, em muitos casos, o fato de serem proibidas gera muito mais adoecimento e morte do que as drogas em si. "Quantas pessoas morrem por uso de maconha?", questiona.

"O tratamento posto de forma hegemônica é o que coloca a abstinência total como muita solução. Há 17 anos existe a redução de danos, que prevê que elas vão se tratar de várias formas diferentes. Inclusive sem parar, com tratamentos de outras formas. Usando menos, sendo acompanhadas. Algumas pessoas conseguem reduzir a quantidade e frequência da substância, substituir por outras substâncias. Outras, só por se alimentarem melhor e terem acompanhamento, voltam a trabalhar e ter uma vida saudável", explica. (Ana Rute Ramires)

 

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